Família Jauregui

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POV MIKE

Nada mais me dá orgulho do que a minha família, minha esposa... Uma mulher maravilhosa... Meus filhos, incríveis.

Taylor é a mais nova, ela é de uma doçura incrível, uma doçura que transborda e que se faz visível.
Levar minha filha até o altar não foi fácil, não que o homem que ela escolheu seja uma péssima escolha, pelo contrário. Mas, entregar a filha no altar é mais do que algo simbólico, para nós pais, é algo realmente que acontece.

Cris é o misterioso, estudou e se formou... Foi para África morou lá anos ajudando, trabalhando em prol das pessoas de lá.
Eu conheço muito o meu filho médico, o meu filho quando pequeno... Mas o meu filho homem eu não conheço. Ele sai, some e volta como aqueles gatos independentes.
Sei reconhecer um homem apaixonado, e meu filho está... Queria que ele se abrisse comigo.
Ele sempre foi muito misterioso, na dele... Cris é um ótimo filho, mas sempre na dele... Quem aprendeu mecânica comigo, quem ia pescar comigo, quem ia aos jogos comigo era a Lauren... Cris nunca se interessou pelos meus gostos.

Mas o foco do meu desabafo hoje tem nome, sobrenome e os olhos mais lindos que já ví... Lauren, minha primeira princesa... Minha companheira.
Não é fácil vê-la em uma cadeira de rodas, por mais que Camila tem nos dado esperança e feito um excelente trabalho com a minha filha.
Lauren sempre foi vista por mim, como uma muralha intransponível...
Desde pequena, era forte como uma rocha, se tornou uma adolescente cheia de confiança... Isso incluía ser um pouco problemática... Só Deus sabe o que passamos quando ela tinha seus quinze anos... Um belo dia, estava eu na minha oficina, e do nada recebo uma ligação da Lauren pedindo para busca-la em uma cidade vizinha. Não entendi nada, mas larguei o serviço e fui.
Chegando lá, estava ela, Veronica e Lucy encostadas no meio da estrada, com os uniformes da escola e em um carro que para mim, até então era desconhecido.

Foi ai que fiz Lauren me contar que diabos ela estava fazendo tão longe de Miami... A resposta hoje me faz rir, mas na época eu fiquei puto.
Ela dirigiu até lá... Eu nunca ensinei Lauren a dirigir, sempre quis que ela aprendesse na escola, com os professores de direção.
Lauren me contou que "pilota" (esse é o termo que ela gosta de usar) desde os treze anos, e que uma vez por mês elas pegavam o carro da mãe da Lucy escondidas e matavam aula, para conhecer uma cidade diferente.

Eu fiquei vermelho de tanta raiva, ela me disse que ninguém a ensinou a dirigir, ela só prestou atenção no que eu fazia, e decorou os comandos... Enfim, um verdadeiro capeta.
Abasteci o carro, já que elas não tinham grana para voltar, e o pior estava na volta... Somente eu e Lauren sabíamos dirigir, não tinha como deixar o carro da mãe da Lucy ali, então ela jogou o argumento certo.

" Papa, só eu e você sabemos dirigir, não dá para amarrar o carro da mãe da Lucy e você ir puxando... Não dá para você dirigir os dois ao mesmo tempo... Faz seguinte, eu volto dirigindo o carro e você vem com o seu atrás de mim... Desculpa, sei que o senhor está nervoso comigo e que eu vou ouvir um baita sermão quando chegarmos em Miami... Mas agora precisamos ser práticos... Eu vou ter que pilotar. ''

E foi dessa forma, fiquei bobo com a segurança daquela garota de 15 anos dirigindo pela rodovia como se já tivesse carteira.
Deixamos Vero em casa e depois Lucy e o carro... Queria contar tudo para a Clara, mas, Lauren mais uma vez me convenceu a não contar.
Claro que xinguei ela, dei um baita sermão nela dentro do meu escritório na oficina. (por dentro, admito estava orgulhoso de sua inteligência ao dirigir, mas não podia demostrar isso).

Os anos passaram, Lauren se tornou a namoradeira do colégio, isso me preocupava, eu via que ela não dava muita importância para os meninos, ela curtia um encontro, mas no dia seguinte, ela nem queria mais ver o moleque.
Isso se repetiu muitas vezes, Lauren parecia um leopardo totalmente indomável, fazia o que queria e quando queria...
Aos 17 ela parou de desfilar com garotos, admito que sentia que minha filha era no mínimo bissexual, se isso me preocupava? Não, eu a amaria da mesma forma... Mas tive certeza quando ela entrou para o programa, e só falava em como a Camila era engraçada, fofa, linda e muito talentosa...
Lembro exatamente da primeira vez que Camila veio até a nossa casa, Lauren andava de um lado para o outro, ela nunca foi de arrumar seu quarto, mas naquele dia ela organizou tudo umas quatro vezes... Quando Camila chegou, Lauren não conseguia conter o sorriso, foi a primeira vez que vi minha filha apaixonada. Aquilo era confuso para mim, afinal ela já estava namorando com o Keaton, talvez naquela época nem ela tivesse noção que estava apaixonada por Camila, pensei em como falar aquilo para ela, mas provavelmente ela se fecharia. Então deixei as coisas correrem e acontecerem.

Quando o programa estava para acabar, chamei Alejandro (pai da Camila) para ir comigo a uma corrida de carros, nós dois ficamos muito amigos, e no intervalo o assunto foi as nossas filhas.

Flashback ON

- Espero que as meninas ganhem, falta só duas semanas para final e elas se esforçam tanto – Eu disse enquanto tomava um pouco de cerveja.

- Verdade... Mas se não ganharem, uma tem a amizade da outra para o resto da vida, Ally é um doce de menina, Normani tão educada e estilo diva. – Demos uma risada. – Dinah nem parece ser a mais nova das cinco, tão alta, e tão decidida, uma guerreira aquela menina... Já nossas filhas, são especiais. – Alejandro me olhou de um jeito como quem queria dizer algo mas não sabia como.

- Amigo... Estamos só nós aqui, eu acho que sei o que você está pensando sobre Lauren e Camila. – Dei um tapa em seus ombros. – Vamos sentar aqui.

- Pelo modo como falou, sabe sim. – Alejandro estava tenso.

- Você também acha que elas estão... Namorando? – Ofereci um pouco da minha cerveja.

- É, tenho achado isso... Digo, Lauren tem um carinho diferente com a Camila, dá pra ver que ela gosta de cuidar de todas... Mas com a Camila é diferente, olha... Agora eu só vejo minha filha nos fins de semana, e quando ela fala o nome da Lauren, ou quando Lauren e ela ficam grudadas no telefone, Camila não para de sorrir... Fora a carinha de boba. – Caímos na risada.

- Lauren vê Camila diferente... Também percebi isso, acredite, ela também fica com cara de idiota quando está falando no telefone com a Camila... Clara não percebeu isso... Ou percebeu e não me disse ainda.

- Nem me fale, Sinu provavelmente vai surtar se desconfiar ou ter certeza que Camila está namorando uma garota... Sinu, é uma mãe protetora até demais... Camila sempre foi a patinho feio da escola, aquela que era zoada ao extremo... Então tenho quase certeza que ela não tinha beijado ninguém... Era meu bebê, mas agora, pelo visto... Ela tem beijado sua filha... Acha que a Clara vai ficar brava quando souber?

- Não sei, acho que não, Clara é muito da paz... E ama sua filha, mas de qualquer forma, a vida é uma caixinha de surpresas, vamos ter que ser fortes e dar o maior apoio se caso as duas resolverem assumir para a família... Eu te ajudo com a Sinu

- Toda ajuda será necessária, Sinu vai ficar louca. – Caímos na risada. – Vou deixar as coisas acontecerem, ver se Camila se abre comigo, porque duvido que ela vai contar isso para a mãe primeiro... O importante é fazer as duas, tanto Camila quanto Lauren se sentirem seguras.

- Verdade... Vamos cuidar das nossas princesas. – Batemos nossos copos. – Acordo fechado?

- Fechado.

Flashback OFF

Elas não ganharam, as outras três foram embora... Incluindo a minha quarta filha a de coração Dinah.
Mas dia após dia percebi que a Camila e Lauren tinham o maior presente, elas tinham um amor.

Quando Lauren foi embora, senti muito falta da minha pequena, Camila ficou triste, foi ai que tive ideia de chama-la para trabalhar meio período na oficina, como secretária... Contratei ela porque minha oficina estava uma zona, porque ela sempre se mostrou muito inteligente e também porque ai seria fácil ela conseguir uma grana para ver Lauren.
A garota foi esperta e assim que juntou dinheiro ela foi.
Para minha total surpresa ela voltou rápido, rápido demais...E os dias que eu dei de folga para ela curtir Lauren, Alejandro em contou que ela usou para se trancar no quarto e chorar.
Eu queria ligar para Lauren, mas como perguntar isso? Ela ainda não estava pronta para se abrir para mim.

Lauren sumiu por uns três dias, Clara ficou em pânico, mas eu fui acalmando-a mentindo que tinha conseguido falar com Lauren, e que ela queria um tempo para ficar sozinha.

A pobrezinha voltou a trabalhar com os olhos vermelhos de tanto chorar, até tentou pedir demissão, eu não deixei, Camila era uma ótima funcionaria, não conseguia ficar sem ela, e querendo ou não serviço é bom para termos um foco e esquecer quando a vida pessoal está uma merda.

Passaram-se três anos até que nas férias, como de costume fomos até Berlim passar natal e fim de ano.
Lauren já era assumida, a reação de Clara não poderia ter sido melhor... Então Lauren não escondia quando estava ficando com alguma mulher.

Certa vez Lauren saiu com os irmãos e a mãe para comprar alguns ingredientes para a ceia, eu decidi ficar em seu apartamento, disse que iria limpar e organizar algumas coisas.
Quando estava aspirando seu quarto, o aspirador enroscou em um objeto de baixo da cama de Lauren, quando eu peguei, era um caderno, com aparência antiga, não tinha nada escrito na capa, então resolvi abrir, e a primeira coisa que ví foi um desenho que provavelmente Lauren que fez, um desenho da Camila com laços na cabeça.

Comecei a folear pagina por pagina, ali continha momentos das duas que marcaram Lauren, havia colado bilhetinhos de amor que Camila enviava para ela na época do namoro.
Lá havia detalhes sobre os sentimentos de Lauren, como ela é feliz com Camila... O último relato alegre, a primeira noite das duas.

Depois de um bom tempo lendo, ví que a escrita dela estava triste, tudo o que ela escrevia, agora eu sabia o que realmente tinha acontecido, Lauren tinha traído Camila com uma moça da faculdade, e Camila viu.
Não que isso antes não fosse um problema, Lauren tinha consciência do problema que estava causando, ela dizia que não gostava da moça da faculdade, mas a química física misturada com a carência fazia ela ceder aos beijos da outra garota.
Fui para o quarto onde estava hospedado na casa de Lauren e continuei a ler, eu chorei como um bebê com o relato desesperado da minha filha.

" Eu não sei o que fazer, eu perdi Camila, e sei que foi para sempre... Eu me odeio, eu sou uma suja, imunda e idiota... Totalmente fracassada. Eu consegui perder o que mais me fazia feliz.
Fecho os olhos e vejo a imagem da Camila me olhando no meio daquela chuva, chorando desesperada por ter me visto com Lena.
Eu não mereço viver, para que viver depois que estraguei tudo com Camila. Eu vou dar um jeito de acabar com isso. ''


Eu tremi ao ler aquilo, nunca tive tanto medo de passar a página de um caderno, a data acusava que havia um intervalo de quatro dias desde a última escrita (ou seja, praticamento o tempo do sumiço da minha filha), e o texto não podia me doer mais como pai.

" Sou uma covarde até na hora de morrer... Uma inútil, que tipo de pessoa toma veneno para ratos e corta os pulsos na esperança de morrer mais rápido e depois de trinta minutos liga para emergência?
Eu sou esse tipo de pessoa, tentei suicídio, fiz um rasgo enorme no meu pulso além de tomar o veneno, me vi sangrar sentada nessa mesma poltrona enquanto via minhas fotos com a Camila, até escrever uma carta para meus pais e outra para Camila eu escrevi... Mas fui covarde.
E não deu cinco minutos até uma ambulância chegar e me "salvar", não me arrependo de ter tentado me matar, me arrependo de ligar, minha barriga começou a doer, senti falta de ar, o sangue escorrendo em abundância encharcando minha roupa... O que adianta uma vida sem a Camila? Para mim, não adianta.

Fiquei por dois dias no hospital, lavagem estomacal e outros procedimentos. Estou estabilizada, como sou emancipada, eles tiveram que respeitar minha decisão de não comunicar a meus pais.
Agora estou aqui, no mesmo apartamento, na mesma poltrona escrevendo... Fraca e sem esperanças de ter uma vida legal.
Eu não existo... Eu insisto. Se existe mesmo um Deus, porque ele não me atende? Porque? Eu só quero dormir e não acordar mais.
Definitivamente, da próxima vez que eu tentar tirar minha vida, pulo da sacada, são 18 andares... Eu só preciso de coragem para fazer isso.''


Já faz sete anos que eu li isso, depois disso eu roubei o caderno para mim, tranquei no cofre aqui em minha oficina.
Lauren deve ter dado falta do caderno, mas ela jamais sairia perguntando se nós saberíamos dele.
Agradeço tanto a Deus por ter protegido ela de uma segunda tentativa, antes de ler isso eu realmente via a Lauren como a pessoa mais durona, mas ai a gente percebe que a cara fechada, as roupas pretas, a confiança massiva em tudo que faz nada mais é uma forma de disfarçar toda sua fraqueza e dor.

Eu nunca contei sobre esse caderno para ninguém, como entregar para Clara um caderno onde sua filha escreve que cometeu suicídio? Não poderia fazer isso com a minha esposa.
Mas, também acho que esse caderno não merece ficar comigo... Peguei o caderno em meu cofre e dirigi até o hospital de Miami.

- Por favor, gostaria de falar com a Dra. Cabello.

- Quem gostaria? - A recepcionista me perguntou.

- Jauregui, Mile Jauregui.

- Só um minuto senhor. – A recepcionista conseguiu falar com a Camila e então fui encaminhado para a sala da Camila. – O senhor pode esperar aqui dentro, ela está terminando uma consulta, disse que não demora. – Ela me deu um sorriso e saiu.

Fiquei reparando na sala de Camila, tinha um quadro com algumas fotos, uma com sua família, outra com a Jessica sua namorada (não vou com a cara dela, meu coração diz que ela não é tão boa quanto parece ser). E uma outra foto grande dela com as meninas, ela estava do lado de Lauren, por um instante soltei o caderno que segurava como se minha vida dependesse dele. Coloquei em meu colo e com as mãos, mesmo de longe, tampei as outras três meninas só para ver, o que eu sempre soube, Camila e Lauren formam um lindo casal.
Esperei por uns dez minutos até que Camila chegou.

- Sr. Jauregui, desculpa a demora. – Camila me deu um abraço. – Aconteceu alguma coisa com a Lauren? Ela não está bem? Sente dores?

- Não, ela está bem... Melhora a cada dia com seus cuidados Camila.

- Ah, que bom. – Ela relaxou na cadeira. – Fiquei preocupada, você vir até no hospital para falar comigo.

- Eu não podia esperar... Camila, antes de te entregar eu quero que você entenda que primeiro, não foi a Lauren que pediu para fazer isso, na verdade ela nem sabe que eu tenho isso aqui comigo.

- Isso oque? – Coloquei o caderno em cima da sua mesa, e vi Camila ficar branca e muda diante dos meus olhos. – Meu Deus.

- Foi você que deu para ela no aniversário de 18 anos... Lembra?

- Claro. Senhor Jauregui mas eu não posso ficar com isso.

- Nem eu posso, eu literalmente roubei isso da minha filha já faz sete anos, cada letra, palavra, frase, pagina... Enfim, tudo está gravado na minha cabeça de tantas vezes que li. – Aproximei o caderno de Camila. – Se você não quiser ler, ok... Mas acho que você deve ficar com ele, e realmente ler.

- Eu realmente não quero ler.

- Fica com ele, guarde ele, leia quando seu coração pedir. – Dei um sorriso e me levantei. – Obrigado pela atenção Camila, tenha um bom dia.

Sai de lá mais leve, sabia que realmente ela não iria ler aquilo agora... Mas torcendo para que ela lesse rápido.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora