Primeira noite

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Abro os olhos com muita dificuldade, parece que minha cabeça foi saco de pancadas do time inteiro durante semanas. Minha visão não identifica qualquer coisa conhecida naquele lugar, até porque ainda estava escuro.
Onde estou?
Me levanto um pouco, me apoiando sobre os cotovelos e noto que estou em uma cama. Eu acho que conheço esse quarto. Minha visão começa a se acostumar com o breu da madrugada.
Olho para o lado e quase caio da cama com a cena:
Adora deitada em um colchonete, ao lado da cama onde eu estava, dormindo tranquilamente.
Minha mente começa a funcionar novamente. O bar, o whisky, o pt... Oh, merda.
Eu não sei se tenho um infarto pelo susto de aparecer ali, pela vergonha que passei na frente dela, ou pelo fato de ter uma deusa grega perfeitamente esculpida por seres celestiais dormindo ao meu lado.
Ela está de bruços, deitada de forma completamente desajeitada. O colchonete é um pouco pequeno para seus quase 1,80 de altura. Com um fino lençol sobre o quadril apenas, deixando exposta as pernas e as costas. Usando um tope de alça fina, expondo quase que completamente cada fibra de seus músculos de trás. Puts... molhei a cama.
Melhor eu lavar o rosto, não tô bem.
Me levanto e vou até sua suíte.
Meu reflexo está deplorável. Cabelo todo desgrenhado (não que seja muito diferente do normal), olheiras profundas e mãos sujas.
Graças aos céus, ela não se deu o trabalho de me dar banho. Isso aí eu não iria aguentar.
Abro a torneira e lavo bem as mãos, depois lavo o rosto. Deve ajudar deixar minha aparência menos zumbi.
- Hey, Catra. - Uma voz de sono ecoa da porta do banheiro.
Olho para o lado e quase caio para trás.
Adora escorada na porta, de cabelo bagunçado, coçando o olho e bocejando. Apenas de tope e um curto samba canção de cetim vermelho. Perfeita até do avesso.

A loira percebe meu maldito olhar sobre ela de cima abaixo e cora um pouco, desviando os olhos para o chão e colocando os braços na frente do corpo

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A loira percebe meu maldito olhar sobre ela de cima abaixo e cora um pouco, desviando os olhos para o chão e colocando os braços na frente do corpo.
Meu rosto ferve de vergonha. Viro para frente bruscamente, encarando a pia.
- Você está bem? - Ela pergunta.
- S-sim.
- Quer tomar um banho?
Com você? Quero.
- Não. Tenho que ir para casa.
- São quatro horas da manhã. Espera amanhecer.
- É melhor não. Não quero incomodar.
Na verdade, eu não quero nem pensar no que a Shadow vai falar quando eu chegar em casa. Se ela souber que eu dei pt e tive que vir arrastada para a casa de Adora, um assassinato ocorrerá.
- Você não me incomoda. Fica, toma um banho e durma o resto da noite. Amanhã passaremos cedo na sua casa para buscar seu material e vamos para a faculdade.
- Eu não tenho roupas aqui, Adora.
- Use as minhas.
Suspiro.
Se eu voltar agora ou voltar de manhã, vou morrer de qualquer jeito. A merda já está feita, então...
- Tudo bem.
Ela abre um largo sorriso.
- Vou pegar as coisas.
Em alguns segundos, Adora me aparece com uma toalha, um shortinho parecido com o que está usando, só que preto, e uma camiseta da mesma cor.
- Aqui, esse sabonete é novo então pode usar de boa. Shampoo, condicionador. - Ela fala apontando para os produtos nas pequenas prateleiras dentro do box. - Qualquer coisa, é só chamar. Estarei ali no quarto.
Diz, sai do banheiro e fecha a porta.
Mas é um amorzinho mesmo essa menina... Como não me apaixonar?
Tomo meu banho bem rápido e saio do banheiro, encontrando a loira sentada na cama. Ela estava vestindo uma camiseta... Eu tinha mesmo que ter perdido os olhos nela tão descaradamente, né? Agora acabou minha diversão...
Noto que ela mexe animadamente no celular.
- Lonnie? - Pergunto antes mesmo de pensar. E me arrependo na mesma hora.
- Han? Não. - Ela ri. - É a Glimmer.
Ufa.
- A menina que estava com você no bar? - Sento ao lado dela, passando a toalha em meus cabelos.
- Aham. É minha melhor amiga. Ela chegou em casa agora pouco.
- Sinto que a conheço de algum lugar...
- Ela é filha do Micah.
Olho para a Adora com os olhos arregalados.
- Ah, é?
- É. Ela já foi em um ou dois jogos com a gente.
- Aaaaaaaah, verdade! Lembrei.
Adora larga o celular na mesa de cabeceira e pega um copo com água e um comprimido que estava bem ali, me entregando.
- O que é isso? - Pergunto.
- Pra ressaca. - Dou um sorriso de lado e aceito o remédio. - Como estão as costas?
- Melhor, obrigada. Aquilo que você passou em mim fez milagre.
- Eu disse que ia ajudar. - Ela sorri. - Quer ajuda com o cabelo?
- Não precisa, obrigada. Já terminei. - Merda, devia ter secado mais devagar.
Ela pega a toalha a minha mão e estende em um cabideiro.
- Então... - Começo. - O que aconteceu ontem? Depois que... bem... eu vomitei, eu não lembro de mais nada.
- Você apenas apagou. - Ela riu. - Ainda abaixada na calçada, você dormiu. Ainda bem que eu estava te segurando, senão você ia se estirar na rua. Eu estava a pé, já que o bar é perto daqui, então eu te trouxe no colo. Não sei onde é sua casa para que pudesse te deixar lá... - Ela passou a mão na nuca, meio corada.
O lugar quentinho e confortável... Eu sabia! Pena estar bêbada demais para ter apreciado melhor.
- Sinto muito estragar sua noite.
- Não se preocupa com isso. Não ia demorar de qualquer forma. Mas, e você...?
- Eu o que?
- O que te fez beber tanto em plena segunda feira?
- Problemas em casa. Nada demais.
Ela prensou os lábios. Sua carinha de curiosidade não nega. Mas eu realmente não estou afim de falar sobre meus problemas pessoais com ela. Não agora.
- Então tá. - Diz e se joga no colchonete.
- Ei! Troca comigo. Aí é muito pequeno pra você.
- Nem pensar! Você é visita. Visitas dormem na cama.
Desço da cama e me sento ao lado dela.
- Eu não aguento mais causar problemas pra você. Então, pelo amor de Deus, vai pra sua cama. Ou eu não vou conseguir olhar na sua cara mais.
Ela me encara levemente espantada, depois sua expressão muda drasticamente. A menina prensa os lábios e franze a sobrancelha. 
- O q-
A garota me pega do colo e me coloca na cama.
- Fica aí!! - Aponta para mim emburrada e se joga no colchonete, se cobrindo da cabeça aos pés. - Se for teimosa e descer aqui de novo, vamos dormir nós duas no chão.
Meu Deus, eu não posso nem citar tudo que passa pela minha mente só em pensar em me deitar ao lado de Adora. Eu, com certeza, estou completamente corada. Meu coração bate forte enquanto me agarro nos lençóis da cama da loira. Nem me atrevo mais a olhar em sua direção, por que sinto que vou ter um treco.
O silencio reinou. Por um lado, foi bom. A voz de Adora me faz parar em outra dimensão, então ficar ouvindo ela falando baixo no meio da madrugada por muito tempo, seria perigoso para meu pobre e emocionado coraçãozinho. Mas por outro lado... Eu só queria poder conversar mais com ela...

A noite foi longa. Não consegui pregar os olhos. Meu corpo fervia de uma forma tão intensa, e a cada respiração de Adora, a temperatura aumentava. Dei graças aos céus quando o despertador da loira finalmente tocou, e nós nos levantamos para ir para faculdade.
Dou uma passada rápida em casa para pegar minha mochila. Entro em silencio enquanto Adora espera no carro.
Não vi a Shadow em lugar nenhum. Talvez esteja ocupada no quarto. Não sei o que ela tanto faz enfurnada lá.
Meu assassinato não será dessa vez, amém. Pego minhas coisas e volto para o carro de Adora.

- Vamos, Adora! Mais rápido, mais rápido! - Grita Micah, enquanto a loira pula de um lado para o outro embaixo da trave.
O dia estava um inferno de tão quente. Nessas horas, eu agradeço por não saber jogar. Só de olhar para as meninas debaixo do sol, correndo o campo inteiro, já me deixa suada.
Passaram duas semanas desde o dia que dormi na casa da Adora.
Depois daquilo, quase não nos vimos mais. As provas estão prestes a começar, então passo a maior parte do meu tempo livre na biblioteca. Até os treinos estão um pouco de lado. Não que seja minha obrigação participar de todos, já que não sou atleta. Mas é bom vir sempre que puder para ficar ciente de como estão as meninas e ajudar Micah com o que for necessário.
Mas já que estou adiantada na matéria, consegui vir sem maiores problemas. Estou sentada debaixo da uma tenda. Fazendo anotações sobre o desempenho das meninas. Tarefa mais difícil do que parece. A todo instante, eu me pego totalmente imersa em Adora fazendo o treino físico.
É incrível como os músculos dela ficam aparentes com a luz do sol refletida no suor.
Que pernas...
Opa, as anotações.
Perfuma está cada dia mais rápida. Não vai demorar para ser chamada por um time profissional.
- Adora, cinco minutos de descanso. - Diz Micah. - Meninas, mais três voltas! Vamos! Vamos! Sem trote! Quero correria!
Adora vem andando em minha direção, com a pele brilhando e corada.
- Hey, Adora.
- Hey... - Ela desaba no gramado ao meu lado, me dando um leve susto. - Catra...
- Você está legal? - Ela apenas levanta o polegar com um sinal de positivo. - Micah está pegando pesado com você, né? - Ela mantém o polegar para o alto, depois o abaixa e se senta.
- Tem água aí?
- Tem. - Abro o cooler, pego uma garrafa e entrego a garota.
Involuntariamente, começo a prestar muita atenção nos detalhes.
A forma com que Adora segura a garrafa enquanto torce a tampa. Depois leva o bico até os lábios. Sua garganta faz um movimento de vai e vem conforme ela engole. Uma gota sapeca escapa pelo canto da boca e desce até o queixo.
Caralho, nunca quis tanto ser uma garrafa.
A menina se levanta.
- Valeu, Cat.
E volta correndo para o campo.
Sigo suspirando, olhando aquela perfeição voltar a treinar.
Scórpia vem logo depois.
- E aí, gatinha. Como vai o desenrolo?
- Não vai.
Ela se senta ao meu lado, se afogando na garrafa de água.
Não quero mais ser uma garrafa.
- Não vai? Para de esconder as coisas de mim, eu sou sua amiga.
- Mas não há nada acontecendo, Scórpia. - Reviro os olhos.
- Nada mudou desde o dia que dormiu lá?
- Desde o dia que eu perdi completamente a dignidade na frente dela, você quer dizer? Não, nada mudou.
- Você é tão pessimista.
- Mas e você? Como está o lance com a Perfuma?
A mais alta cora, encarando a grama.
- Lance? - Ela ri escandalosamente. - Não há lance nenhum. - Ela ri de novo. - Você inventa casa coisa... Eu vou indo, tá? Beijo. - E sai correndo para o vestiário.
Quando é comigo, só falta me imprensar na parede me enchendo de perguntas. Mas quando é com ela, a bonita foge. Tá certo.
Ao final do treino, vou até minha bicicleta para tomar meu rumo.
- Hey, Catra!
Olho para trás, já em cima do camelo, e vejo Adora correndo em minha direção.
- Hey, Adora. O que foi?
Ela chega até mim e se apoia nos joelhos, respirando cansada. Ela veio correndo do campo até aqui só para falar comigo?
- Você vai no jogo amanhã?
Solto ar pelo nariz em uma risada rápida.
- Vou, boba. Eu sempre vou. Veio aqui só para me perguntar isso?
- Ah, não... É que... Na verdade... - Ela põe uma das mãos atrás da cabeça, olhando para o lado, com as bochechas levemente coradas. - A gente não tem se falado muito ultimamente, então... Eu queria saber se eu posso ter o número do seu celular.
Ai meu pai, ela tá pedindo meu número. Ai socorro, alguém me ajuda aqui, eu não tô bem! Calma, Catra. Mantenha-se plena.
Inspira.
Respira.
Responde como uma pessoa normal, vai.
- Pode.
...
Okay, melhor falar pouco do que falar mais do que deve, como “EU TENHO SEU NÚMERO HÁ MUITO TEMPO, QUERIDINHA. CALMA AE QUE VOU TE MANDAR MENSAGEM AGORA”.
Ela pega o celular no bolso, desbloqueia a tela e me entrega.
- Digita aí. - Diz.
Passa pela minha cabeça colocar Felina , mas óbvio que coloco só o meu apelido, sem o coração. Depois, entrego o aparelho à garota.
Ela o pega e sorri.
- Até amanhã. - Diz e sai andando.
- Até... - Ah... Tô boiola.

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