Eu não espero nada.
Não espero um apito, nem uma ordem, muito menos uma autorização. Eu, simplesmente, pego a bolsa com spray e entro em campo correndo.
Bem distante, eu tenho a impressão de ouvir a arbitra parando o jogo, mas nem sei se realmente aconteceu. Por que minha cabeça está desligada de qualquer outra coisa que não seja aquela loirinha caída de bruços, com o rosto na grama, enquanto desfere socos no chão.
Chego o mais rápido que posso e ajoelho ao seu lado.
- Adora! Adora! O que foi??
- Aquele ligamento.. - Ela responde com um resquício de voz, entre os gemidos, enquanto segura na parte de trás da coxa.
Tiro a mão da menina dali e jogo spray para dor e água gelada.
Adora não tira o rosto da grama, mas, mesmo assim, consigo ver os soluços.
Ela está chorando.
- CADÊ A PORRA DOS ENFERMEIROS?? - Grito olhando em volta.
Só estamos eu e uma roda de curiosos perto dela.
De longe, avisto o pessoal do evento vindo correndo com uma maca.
Passo a mão pelo cabelo de Adora.
- Vai ficar tudo bem, viu?
Ela não me responde.
Os enfermeiros chegam e sinto meus ombros serem puxados para trás.
- Hey! Me larga! - Me debato contra as mãos fortes que me seguram.
- Deixa eles cuidarem disso. - Diz Scórpia, sem fazer menção em me soltar. - Você não pode fazer mais nada, Catra.
Olho para a loira sendo colocada na maca, com o rosto sujo de grama, molhado e uma expressão de extrema dor.
Eu só sinto vontade de chorar.
Os enfermeiros carregam a menina para fora de campo.
Me solto dos braços de minha amiga e vou atrás.
Eu não vou deixa-la sozinha. De jeito nenhum.
Sigo os profissionais até a enfermaria do estádio.
Adora foi colocada de bruços em uma cama pelo pessoal que a trouxe até aqui, e uma mulher de branco se aproxima.
- Meu nome é Asami, sou a enfermeira encarregada do futebol feminino. O que aconteceu? - Ela pergunta.
- Não sei direito. - Adora diz ainda com dificuldade. - Acho que foi um ligamento.
- Deixe me ver.
A mulher analisa a coxa da loira, apertando certos pontos e fazendo Adora gritar. Dá vontade de voar no pescoço daquela filha da puta. Mas ela imediatamente se desculpa, e explica que precisa fazer isso para entender a gravidade da situação.
Depois de uma longa avaliação e algumas perguntas que eu ajudei a responder, a mulher sorri.
- Não parece que foi uma lesão muito séria. Mas, recomendo que vá a um médico quando chegar à sua cidade para que faça um exame mais detalhado. Por enquanto, certifique-se de colocar bastante gelo, pelo menos, até que o jogo termine, irá amenizar a dor e a inflamação.
- Não tem como me dar um analgésico para eu voltar para a partida?
- De jeito nenhum! Só porque não foi grave, não significa que você pode voltar a jogar. Pelos meus conhecimentos, precisará ficar algumas semanas longe do futebol.
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Mais que um lance
Literatura FaktuAdora é goleira do time da faculdade e estrelinha da atlética; cursa engenharia de produção; melhor da turma, porém, uma porta em relação à sentimentos/lidar com pessoas. Catra ama esportes, mas nunca foi boa neles; faz parte do time como assistente...