Agora Somos Estranhos

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Sem soluções para seu problema com a Perfeição e seu afastamento total com os gêmeos, Jasmine não teve escolha a não ser ir para a escola quando a segunda-feira chegou, como se as duas semanas que mudaram sua vida não tivessem acontecido.

Então se vestiu, colocou uma expressão corajosa no rosto, se despediu da família na mesa do café da manhã e saiu. No caminho, um homem gritou obscenidades para ela com a cabeça para fora da janela do carro e recebeu um:

― Vai se ferrar, babaca ― exclamou colocando a mão sobre a boca logo em seguida, chocada. Aquilo não era nada como ela.

Chegando a Franklin High, andou pelos corredores com o queixo levantado, como se fosse a dona do lugar, em vez dos ombros encurvados de sempre, encarando qualquer um que tentasse se aproximar dela e inclusive fez questão de esbarrar em Chad Powers quando cruzou com ele próximo de sua aula de história.

No intervalo, correu para o banheiro sempre vazio do terceiro andar para verificar se havia algo diferente em sua aparência, pois ela certamente se sentia ligeiramente mudada, mas ao se olhar no espelho, não notou nenhuma alteração, os mesmos olhos castanhos sem graça, pele de oliva e nariz proeminente a encaravam de volta. Apesar da ausência de mudanças, se sentia nova por dentro.

Assim, saindo da escola, Jasmine foi direto a uma farmácia próxima e não teve medo de olhar nos olhos do atendente do balcão ao pedir um frasco de spray de pimenta.

Quando estava com os gêmeos se sentia protegida de uma forma quase austral, mas agora, com eles deixando claro pelo seu silêncio que não queriam ter nada a ver com ela, precisaria aprender a se defender sozinha.

Na terça-feira, chegou o dia de sua tão aguardada primeira aula de dança do ventre e Jasmine não podia negar estar nervosa, ela tinha comprado uma roupa de ginastica sem ter certeza do que deveria vestir e simplesmente guardado tudo que pudesse possivelmente precisar em uma bolsa que acabou ficando cheia demais para uma coisa tão simples.

Chegando ao estúdio, se vestiu e guardou toda sua tralha no armário que lhe foi designado, antes de lavar o rosto e seguir para a aula.

― Boa tarde, iniciantes ― saudou sua professora com uma voz calma e convidativa. ― Sou Laila e vou levá-las através da iniciação na dança do ventre. Vocês não precisam ficar ansiosas ou com medo de não conseguir se mover corretamente, estou aqui para ajudá-las sem julgamento ou reprovação, em um caminho em busca da feminilidade ancestral. Nessa primeira aula, vocês aprenderão a postura correta que devem ter e a reconhecer cada canto do seu corpo e como poderão usá-los para se movimentar da forma correta. Vamos começar pelo quadril...

Quando a aula acabou, Jasmine estava suada pela quantidade de esforço ao qual não estava acostumada, mas feliz por finalmente ter tomado coragem de fazer algo que queria há tanto tempo. Ela voltaria, sem dúvida nenhuma.

No dia seguinte, a morena acordou uma hora mais cedo que o normal, mesmo que tivesse escolhido sua roupa para a foto do anuário no dia anterior e não houvesse muito que pudesse fazer com seu cabelo rebelde, ela queria estar impecável. Não por aqueles que veriam seu retrato, já que sua Perfeição se encarregaria disso, mas para si mesma. Pela primeira vez, queria parecer bela para si e mais ninguém.

Chegando à escola, foi direto ao ginásio que havia se tornado um estúdio de fotografia improvisado e esperou na fila por sua vez. Quando seu nome finalmente foi chamado, ela se sentou no banquinho e seguindo as instruções do fotógrafo sobre como inclinar sua cabeça, deu seu melhor sorriso, não pensando em agradar ninguém além de si. Naquele momento, ela se sentia como nunca antes.

***

― Cara, saia dessa janela ― exclamou Isaac ao entrar no quarto que dividia com seu irmão e encontrá-lo olhando pelas persianas pela milésima vez. Ele sabia muito bem o que Nate estava fazendo, estava tentando pegar um vislumbre de Jasmine na casa do outro lado da rua, assim como havia feito desde que haviam voltado de seus dias de paraíso com ela. ― Você está parecendo um stalker maluco.

Ele colocou a mão no ombro de Nathaniel, que o espantou com um tapa:

― Não sei por que você está agindo de forma tão tranquila ― retrucou ele. ― Sei que você se sente da mesma forma que eu ― concluiu frustrado.

Nathaniel sentia falta dela, de tudo sobre ela, daqueles detalhes mais estúpidos que ninguém que não estivesse apaixonado notaria, como a forma que a morena dormia abraçada com o bichinho de pelúcia que ele havia ganhado para ela ao voltar para o parque quando a foto deles explodiu, ou da forma como o perfume dela sempre invadia o quarto de hotel que eles dividiam quando ela saia do banho e principalmente, de poder ouvir sua voz melodiosa e hesitante e ver seu sorriso.

― É exatamente por me sentir assim que sei que precisamos desse afastamento tanto quanto ela.

― Não vejo como ― cuspiu Nate com uma risada sem humor.

Nate era demissexual, para ele a ideia de se envolver com alguém, de qualquer forma que fosse, sempre pareceu muito complexa e sem propósito, mas quando seu irmão se interessou pela vizinha ele não podia negar que ficou curioso. O que Isaac via nela? Por que ele sentia como se houvesse algo os ligando? O rapaz chegou até sentir ciúmes, nunca tinha pensado que um dia o irmão se apaixonaria por alguém e ao formar uma família, o deixaria para trás. Essa possibilidade evaporou assim que começou a conhecer a garota e o mesmo laço que Asa alegava sentir, se formou dentro dele, tão poderoso e firme quanto, mesmo que mais lento.

― Ela precisa entender, precisa enxergar o que nós vemos, irmão, senão isso, nós três ― apontou ele com o dedo indicador ― nunca vai dar certo. Esse sempre foi o plano, se você já se esqueceu.

― Mas por que nós não podemos fazê-la ver? ― sorriu de forma afiada. ― Eu consigo pensar em mil formas diferentes de convencê-la.

― Porque assim ela não veria de verdade, não por si mesma. O amor que lhe falta tem que vir de dentro, não de terceiros. Ela não se amaria por ela, se amaria por nós e eu quero, e sei que você também apesar de estar tendo um chilique, que ela tenha uma vida plena.

― E o que garante, irmão, que ela entenda a nobreza de nosso afastamento, quando a conhecendo é muito mais provável que ache que a abandonamos? ― rebateu finalmente se afastando de seu lugar na janela.

Nathaniel tinha um ponto e Isaac sabia disso, mas rezava todos os dias para que ela fosse capaz de entender que eles queriam o bem dela, que queriam que ela escolhesse se amar para que, enfim, pudesse ama-los.

― Jasmine é uma mulher inteligente e quando ela entender o que precisa entender ― repetiu. ― Nada vai poder impedi-la de ver a verdade em nossas intenções.

― E se mesmo assim ela não vier atrás de nós?

― Se você precisa de uma resposta imediata, proponho que esperemos até o final do semestre, até o baile ― Asa deu um sorriso diabólico idêntico ao que Nate também possuía. ― E se até lá, ela não perceber que sempre estivemos esperando, nós vamos atrás dela.


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Gostaram de ver essa nova Jaz? E os meninos sempre cheios de mistérios? O próximo é o penúltimo aeeeeee, será que a Jasmine finalmente vai conseguir resolver a Perfeição?

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