Na sexta-feira, ela falou com Justin sobre a viagem. Ele ficou receoso e a morena podia ver que seu melhor amigo queria perguntar o verdadeiro porquê daquilo, mas Thalia chegou e assim como tinha acontecido nos últimos dois anos, qualquer pensamento racional evaporou-se da mente dele e tudo o que disse foi um singelo "cuide-se".
As coisas ficaram estranhas no horário de almoço. Os cochichos felizes e risadas adquiriram um tom mais sombrio e pesado. Quando Jasmine entrou no refeitório, ela finalmente entendeu o porquê.
Chad Powers havia tomado uma surra dos infernos. Seus olhos estavam roxos e ele andava com dificuldade, uma tala no braço esquerdo e a mão direita nas costas. O rapaz estava deplorável e a garota perdeu a fome ao vê-lo.
Na hora da saída, ela encontrou Nate sozinho na frente do Camaro e foi confrontá-lo, afinal, quem mais teria feito aquilo depois da reação dele na tarde passada?
― Nathaniel ― chamou se aproximando. ― Você tem algo a ver com o que aconteceu com Chad Powers?
Nate a olhou e depois tirou uma sujeira imaginaria de debaixo das unhas:
― Sinto te decepcionar, querida, mas apesar de querer, não fui eu que coloquei aquele babaca no lugar dele.
Jasmine o encarou abertamente, procurando qualquer traço de enganação, mas não encontrou nada e seus ombros caíram:
― Por um momento eu pensei...
Nate deu de ombros:
― Sinceramente, eu não sei se fico lisonjeado ou ofendido por ser a primeira pessoa em que você pensou.
Ela desviou o olhar e puxou uma mecha de cabelo como era o seu habitual quando estava desconfortável.
― Talvez ele tenha mexido com outras garotas também ― sussurrou.
Mas então, Isaac apareceu e qualquer dúvida foi respondida pelos nós dos dedos machucados dele:
― Oi, gente ― disse sorridente. ― Que dia bonito, não é?
― Foi você ― ela murmurou, chocada.
Ele desviou os olhos de ouro para ela e franziu as sobrancelhas:
― Eu o que?
― Foi você quem bateu em Chad Powers ― afirmou.
Ele deu de ombros como o irmão havia feito poucos minutos antes:
― Ele precisava de uma lição, eu apenas a administrei.
Jasmine sentiu uma vontade imensa de dar as costas e ir embora, fugir sempre tinha sido seu modus operandi, mas quando se tratava daqueles dois, ela não podia agir assim.
― Você enlouqueceu? Tem noção do que fez? ― ela exclamou próxima de gritar.
― Sim ― ele respondeu imediatamente. ― Ele é um babaca e eu faria de novo se fosse necessário.
― E se ele te denunciar, Isaac? A família dele é podre de rica, o pai dele é promotor! Poderia te ter preso em cinco minutos!
Isaac a encarou engolindo as palavras que queria dizer. Cada detalhe dela parecia tão brilhante naquele momento. Ele e o irmão a conheciam desde o verão do ano anterior e ele tinha certeza de que Nathaniel também tinha notado isso. Um olhar para o irmão foi o suficiente para confirmar. Jasmine estava lívida e nunca tinha estado mais bonita que naquele momento.
― Ele pode tentar, mas meu pai é advogado e um muito bom ― ele lhe deu um sorriso cheio de dentes. ― Além do mais, teríamos seu depoimento.
Ele sabia que ela não queria aquilo, mas não lhe negaria naquela situação, então ela estremeceu e ele se calou. Discussão encerrada.
― Você quer uma carona para casa? ― perguntou Nate que havia deixado que eles tivessem seu momento.
Ela olhou para trás e parecia pronta para recusar quando a porta de entrada se abriu e o casal de amigos dela saíram.
― Sim, claro, vamos ― ela praticamente os atropelou para entrar no carro e os irmãos se entreolharam antes de segui-la.
― Como estão os preparativos para a viagem? ― perguntou Nate tentando aliviar o clima.
― Eu já falei com a minha mãe e minha mala está quase pronta ― ela suspirou. ― Podemos partir quando quiserem.
Nate a olhou pelo retrovisor e notou as mãos dela apertadas nos joelhos:
― É isso? ― perguntou Asa. ― Nenhum impedimento?
Nate geralmente era o que colocava os pés pelas mãos quando se tratava de Jasmine, mas Asa parecia estar muito interessado em deixá-la furiosa hoje.
― Está tentando me desencorajar, Isaac? Sinto dizer, mas eu fiz essa bagunça e eu vou resolvê-la.
Nate ficou feliz que ela estivesse olhando pela janela e assim não pudesse ver o sorriso no rosto deles.
Naquela noite, as mãos de Jasmine tremiam tanto que ela teve que abandonar as miçangas, frustrada. Desistindo, guardou a caixa no quarto e checou pela última vez a bagagem. Seriam quase duas semanas fora e ela fez um ótimo trabalho condensando tudo o que precisava em uma mochila e uma bolsa pequena.
Isaac havia criado um grupo de mensagens para os três e apesar de ainda estar ressabiada com ele, a garota lá no fundo gostou da atitude.
Travis bateu na porta do quarto dela e ela sorriu ao vê-lo:
― O jantar está mesa, Minnie.
Se virando, colocou o celular no carregador e seguiu o padrasto.
― Sabe, eu estou um pouco preocupado com você ― começou.
― Pela viagem? ― ela sussurrou.
― Sim ― ele respondeu. ― Você sabe que é como uma filha para mim e não sei se gosto da ideia de você viajar sem nenhuma supervisão com dois garotos hormonais.
Aquilo doeu e Jasmine, que estava acostumada a guardar tudo para si, naquele momento não pôde.
― Você não confia em mim? ― indagou com a voz trêmula.
Travis parou no meio do corredor e olhou para ela, realmente olhou para ela:
― Eu confio muito mais em você do que confio na sua mãe e você tem apenas dezessete anos ― ele sorriu e eles voltaram a caminhar. ― O que eu não confio é em dois garotos dessa idade, afinal eu já fui um e só posso imaginar o que deve estar passando pela cabeça deles com essa história de viagem.
Jasmine sabia muito bem o que eles estavam pensando, queriam ajudá-la, mesmo que ela não entendesse muito bem por que eles queriam tanto desfazer o seu erro.
― Eles são bons rapazes ― respondeu para ele surpreendendo a si mesma. ― E não pensam em mim assim.
Ela não conseguiu dormir naquela noite, cada vez que fechava os olhos sentia que estava prestes a saltar em um abismo, então pegou o celular e mandou uma mensagem no grupo que Nate havia nomeado como "2BeB". Tinha que se lembrar de perguntar o porquê daquela sigla em algummomento.
― Que horas vamos sair amanhã?
― Cedo ― respondeu Nate de forma sucinta.
Ela não respondeu. Ele precisava mesmo tentar tão duro ser um babaca o tempo todo?
― Estávamos pensando em algo próximo das 9h ― disse Isaac por fim.
Aquele era o mesmo cara que tinha dado uma surra em Chad?
― Obrigada pela pequena gota de educação, Isaac.
Pensou por um segundo e então completou:
― Boa noite.
― Boa noite, Jaz ― veio dele, por fim.
Jasmine suspirou e fechou os olhos. No dia seguinte ela começaria a viver, enfim, sua grande aventura.
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Perfeita
Literatura FemininaAmor Mágico - Livro 1 Jasmine Chamberlain é uma garota comum. Não, é sério, ela é uma garota tão comum que chega a ser chata, tão comum que nenhum livro nunca seria escrito sobre ela, tão comum que passa pela vida completamente desapercebida, sem nu...