Perfeita

Mudança de Jogo

Quando Jasmine desceu as escadas no dia seguinte, deu de cara com a mãe. Nadine a parou imediatamente segurando seus ombros, seus olhos escuros de penas de corvos deslizando pela filha antes de, em um ato impetuoso, abraçá-la. A menina ficou parada e sem reação, completamente congelada. Aquilo definitivamente não era comum para Nadine.

― Mãe? ― perguntou assustada. ― O que está acontecendo?

― Você é tão linda ― contemplou ela voltando a olhar para a filha. ― Tão perfeita ― Jasmine parou de respirar, a encarando de sobrancelhas franzidas. Sua mãe nunca diria aquilo.

― Está tudo bem? ― questionou devagar. Será que ela estava bêbada? Mas não eram nem oito horas da manhã ainda e sua mãe amava demais a filosofia de que o corpo era um templo para destruir o fígado dessa maneira.

― É claro que está tudo bem, está tudo mais que bem, está perfeito ― disse alisando os cabelos da filha.

― Eu preciso ir ― cuspiu Jasmine assustada antes de se afastar da mãe puxando a alça da bolsa nos ombros. ― Tenho aula.

Ela passou pela mãe às pressas e saiu pela porta em um rompante.

Jasmine correu para a escola, tentando se afastar o máximo de sua casa e ignorar o estômago que se arrependia de ter pulado o café. Ela se embrenhou pelos corredores, já apinhados de gente, e quase se perdeu de Justin no caminho.

― Minnie, oi ― falou a segurando pelo braço. ― Aonde você vai com tanta... ― ele parou no meio da frase, seus olhos se desviando para o rosto da amiga antes de dar um sorriso largo. ― Wow, o que você fez?

A morena inflou os pulmões de ar e juntando toda a sua coragem, continuou:

― O que você quer dizer, Jus?

― Você mudou o cabelo ou algo assim? ― tentou ele. ― Está muito parecida com a Thalia.

Aquela frase mudou tudo. Ela duvidava que com sua pele morena, cabelos grossos e olhos escuros, se parecesse, nem que fosse por um segundo, com Thalia de cabelos louros, olhos verdes e sorriso gentil.

A mente da garota começou a correr pela noite anterior, quando em um momento de desespero, havia pedido para ser perfeita.

Tinha funcionado? Ou aquilo era coincidência? Precisava ser, aquilo havia sido apenas um delírio em seu jardim, a magia não era real. Mas sua mãe nunca a havia olhado como se fosse perfeita. E é claro que a perfeição para Justin era Thalia.

― ... Não atendeu quando eu liguei ontem à noite?

Ela se soltou dele, voltando a ter pressa, apenas na direção oposta.

― Preciso ir, Jus, nos falamos depois ― exclamou já se afastando.

― Jasmine! ― ele gritou conforme ela corria.

Jasmine passou pelas portas de entrada por onde havia adentrado há poucos minutos, o sinal tocando a suas costas. Ela trombou em alguém e quatro braços fortes a seguraram.

― Cuidado ― uma voz rouca avisou.

A morena era uma garota de tamanho médio, o que era uma vergonha tendo Thamires como nome do meio, mas os Stevenson eram gigantes. Ela olhou para cima, direto nos olhos castanhos daquele que havia falado.

― Para onde você estava indo com tanta pressa? ― perguntou o outro, sua voz mais leve e divertida. ― Tenho certeza de que ouvi o sinal tocando.

― Eu ― ela piscou, saindo dos braços deles e tentou organizar os pensamentos como se tivesse acabado de ser liberta de um transe. ― Eu pareço dife...