Quando Nate viu ela, ele riu:
― Por acaso você saiu de um filme dos anos quarenta? ― perguntou ele de sua posição relaxada na cama.
Jasmine precisava admitir que talvez tivesse exagerado, mas queria usar os presentes de Isaac e se redimir um pouco pela sua reação exacerbada de antes e assim, ela acabou com um lenço e o óculos escuros, parecendo, como Nate disse, uma atriz dos anos quarenta.
― Eu acho que ela está bonita ― comentou Isaac colocando a cabeça pela porta do banheiro onde se barbeava. ― Parece a Grace Kelly.
― Etnia errada ― brincou ela de volta.
Depois da conversa da madrugada passada, a morena sentia o clima mais leve e isso a agradava. Eles já haviam tomado café e estavam saindo para uma loja exotérica que Nate havia encontrado na internet. Por insistência de Jasmine, eles acabaram tomando um dos clássicos bondinhos que circulavam pela cidade e não se arrependeram.
São Francisco exalava vida. As casas coloridas e as ladeiras enormes que davam visão apenas de uma pontinha do azul do mar, fizeram a morena se sentir relativamente melhor sobre si mesma. A loja a qual eles estavam indo era pequena e próxima ao parque Golden Gate e na placa de entrada dizia "Evangeline Visions: produtos exotéricos e cartomancia". Isaac empurrou a porta com o ombro, como se tivesse medo de entrar em uma armadilha e atrás dele, os outros dois passaram.
O lugar era roxo escuro e o cheiro de incenso forte os atingiu antes mesmo do som do sino dos ventos. Uma garota ruiva e curvilínea veio bamboleando dos fundos da loja, através de uma cortina de miçangas e se estabeleceu atrás do balcão:
― Bem-vindos a Evangeline Visions. Gostariam de uma leitura celta, um incenso ou algum objeto específico? ― questionou com a voz monótona e robótica típica de vendedores.
― Você é a Evangeline? ― Indagou Nathaniel enquanto Asa e Jasmine encaravam alguns bibelôs para turistas dispostos nas prateleiras limpas.
― Essa seria a minha avó, mas hoje em dia ela só atende consultas previamente marcadas. É o caso?
― Não ― cortou o garoto ao lado da morena. ― Viemos buscar esses itens ― ele entregou a lista que tinham escrito antes de saírem do hotel para a garota ruiva.
― Hmmm ― meditou ela. ― Não vendemos grama de cemitério por aqui ― ela deu um sorriso de desculpas. ― Vocês entendem que não é muito bacana para nossa imagem sermos vistas como ladras de túmulos por nos pegarem saindo de um cemitério tarde da noite. Não estamos mais na idade média, mas boatos ainda se alastram como fogo.
― Entendemos ― murmurou Asa apenas para não a deixar sem resposta.
A garota saiu de trás do balcão e começou a andar pela loja recolhendo pequenos invólucros das prateleiras como se eles estivessem comprando botões e não aqueles itens bizarros.
― Trevo de quatro folhas, dente de leão e grama de cemitério? Que tipo de feitiço é esse? Estão tentando invocar um gênio?
A morena sentiu Isaac prender a respiração ao seu lado e seu próprio corpo endureceu quando Nate se sobressaltou:
― Isso é possível? ― sussurrou ele.
― Claro, mas vocês precisariam também de sálvia e um lenço de seda ― informou como se aquele fosse um tópico de conversa completamente normal e para ela, era.
― Nesse caso, dobre a quantidade de tudo, por favor? ― pediu Isaac suavemente.
― Estamos buscando um pêndulo também ― se intrometeu Nate.
― De que tipo? Hipnose ou proteção? ― inquiriu voltando para o balcão.
― Proteção ― respondeu Isaac prontamente.
Seu rosto redondo se encheu de surpresa e ela se abaixou atrás do tablado e só ouviram sua voz:
― E a garota? Não fala?
Nate deu uma risadinha e recebeu um olhar feio em troca. Para a outra garota, Jasmine disse:
― Não sou muda.
A menina pausou, como se não tivesse gostado do comentário, antes de se recompor:
― Qual deles é seu? ― Retorquiu a alaranjada quando subiu novamente para seus pés e a morena levantou uma sobrancelha pela audácia.
― Os dois.
Isaac se engasgou com a resposta dela e ela reprimiu a vontade de rir. Fale sobre marcar território.
― Qual vocês querem? ― a ruiva então os mostrou dois pêndulos, um de prata e um de pedra marinha.
― O de pedra ― pediu Nate e Isaac concordou.
― Pois bem, a soma de tudo sai $27.
Então eles pagaram, agradeceram e saíram.
― Dois coelhos com uma cajadada só ― aludiu Asa imitando uma tacada de golfe.
― Usaremos três dos itens e completaremos quatro itens da lista. Eu falei que a loja era uma boa ideia ― gabou-se Nate.
― Um strike completo ― brincou a garota.
― Ei, vocês! ― eles se viraram para ver a moça ruiva saindo da loja com os olhos castanhos apertados pelo sol. ― Se querem mesmo invocar um gênio, eu posso ajudar.
― Hm, certo ― Jasmine então olhou para os garotos buscando confirmação e mesmo sabendo que provavelmente não era uma boa ideia, disse: ― Estamos no Blue Sharks, na esquina da 6.
― Sei onde é, precisamos da lua cheia, que começa em dois dias, então, quando ela chegar estarei lá por volta das 19h ― avisou, misteriosa. ― Sou Ava, a propósito.
― Jasmine, Nate e Isaac ― a morena apontou.
***
― Você acha que deveríamos confiar nela? ― perguntou Isaac sentando-se ao lado de Jasmine na cama enquanto ela amarrava seus tênis para saírem para jantar.
A verdade era que ela não tinha gostado da forma como a ruiva olhou para eles, mas isso não era de sua conta, então tudo o que fez foi dar de ombros.
― Não devemos confiar em desconhecidos ― retrucou ela. ― Sua mãe nunca te ensinou isso?
Ele a olhou com delicadeza por alguns segundos antes de menear:
― Minha mãe não ficou por perto tempo suficiente para ensinar muita coisa ― informou e a garota abaixou os olhos imediatamente.
― Sinto muito ― sussurrou constrangida.
― Se ela não quis ficar, não há nada para sentir ― comentou Nate colocando uma jaqueta de couro como se não estivesse ficando cada dia mais quente. ― Todos têm um interesse oculto, ela com certeza quer algo de nós, precisamos ficar atentos ao que, talvez ela também precise do gênio.
― Talvez ― respondeu Jasmine, mas ela não estava de todo convencida.
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Agora vai ser só confusão, vocês que lutem pra se segurar!
Até terça!
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Perfeita
Chick-LitAmor Mágico - Livro 1 Jasmine Chamberlain é uma garota comum. Não, é sério, ela é uma garota tão comum que chega a ser chata, tão comum que nenhum livro nunca seria escrito sobre ela, tão comum que passa pela vida completamente desapercebida, sem nu...