― Hmm ― o interior de Jasmine se apertou e ela quase derreteu de vergonha ali mesmo. Ela olhou para baixo para ver se estava ao menos decentemente vestida e ficou aliviada ao ver uma camiseta marrom e uma bermuda, logo em seguida, ficou com raiva por se importar. Como podia se sentir tão atraída por eles, se sequer era capaz de distingui-los? ― Claro ― respondeu por fim, vencendo a batalha consigo mesma e os conduzindo até a sala de estar.
Eles se sentaram no sofá cor de creme, longe o suficiente um do outro para que ela se sentasse no meio. Suspirando, ela preferiu a poltrona de frente para eles e se acomodando, os encarou.
― Você consegue diferenciar quem é quem? ― questionou o da esquerda, que vestia verde.
Ela se esquivou da pergunta, não querendo dar o braço a torcer:
― O que querem aqui?
O da direita esticou a mão, que vestia uma camiseta vermelha, e pegou uma das pulseiras de contas em cima da mesa e a colocou no pulso esquerdo.
― Não há vergonha em não conseguir. Quando éramos crianças até nossos pais tinham dificuldades, às vezes. Sou Isaac, a propósito ― sorriu docemente ― agora você pode se lembrar.
Era ele que demonstrava indícios de cachinhos, Jasmine pensou, mas ficou bem quieta. Não falou que a pulseira custava dinheiro. Era tão pouco, afinal. Desde que eles não saíssem de lá, levando a reboque um dos vasos caros de sua mãe, estava tudo bem.
― Onde está sua mãe? ― indagou Nathaniel como se ouvisse seus pensamentos. ― Ocupada demais cuidando do novo marido e dos novos filhos?
Jasmine se engasgou chocada e assistiu Isaac dar um soco no braço do irmão:
― Perdoe o Nate ― pediu educadamente. ― Ele é incapaz de pensar antes de falar.
― Viemos ― disse Nate cortando os bons modos do gêmeo ― porque sabemos o que você fez ― completou.
― Do que você está falando? ― gaguejou a morena boquiaberta.
― Te vimos ontem, no jardim ― ele continuou. ― E subitamente hoje todos agiam de forma diferente.
― Mas ― balbuciou ― as luzes estavam apagadas, pensei que ninguém estivesse em casa...
― Estamos tentando salvar o planeta uma lâmpada de cada vez ― brincou Isaac, mas a garota estava séria.
― Vocês estavam me vigiando? ― cuspiu ela.
― Queremos saber o que você fez, por que você fez e como podemos reverter ― desviou Nate sem respondê-la.
Ela se empertigou:
― Do que vocês estão falando? Por que acham que eu gostaria de mudar isso?
― Porque isso não é certo, é antinatural ― sussurrou Isaac. ― E logo você vai entender isso.
― Eu não fiz de propósito ― murmurou a morena. ― Foi só um pedido estúpido de aniversário.
― Por que alguém pediria algo assim? ― indagou Nate com o nariz torcido, como se estivesse eternamente enojado com aquela atitude.
Jasmine sentiu como se tivesse tomado um soco no estômago e se levantou:
― Acho que vocês deveriam ir ― pronunciou devagar.
Nathaniel se ergueu em um rompante, como se estivesse esperando exatamente essas palavras:
― Eu sabia que era uma perda de tempo virmos aqui ― falou irritado olhando para o irmão.
― Só queríamos te ajudar ― entoou Isaac com um sorriso triste. ― De qualquer forma, se mudar de ideia, nós estaremos amanhã na biblioteca as 16h, logo após o treino de futebol, procurando uma forma de desfazer isso.
Jasmine os acompanhou até a porta, o coração pesado como concreto.
― Você merece mais do que falsa perfeição, Jasmine ― pronunciou Isaac, por fim.
A morena fechou a porta silenciosamente e olhou para o pote de contas em cima da mesa de centro, ela tinha perdido a vontade de continuar. Ela subiu as escadas e pescou o celular de cima da cama. Estranhou a quantidade de notificações recebidas e ao abri-las ficou chocada ao notar que entre seguidores, solicitações de amizade e tweets, havia dezenas de mensagens de garotos (e garotas!). Fugindo dos poemas, flertes e convites para encontros, ela finalmente conseguiu encontrar o contato de Justin.
Ele atendeu após dois toques:
― Está tudo bem, Minnie? ― perguntou surpreso por ela ter ligado ao invés de mandar uma mensagem como era o usual.
― Você está ocupado? ― questionou ela em vez de responder sua indagação.
Justin deve ter percebido a angústia na voz dela, pois só hesitou por um momento antes de dizer:
― Não.
― Posso ir aí?
― Claro, ― ela podia ouvi-lo se mexendo do outro lado ― só me dê dois minutos para arrumar a bagunça.
Eles desligaram e quando a mensagem dele avisando que estava tudo pronto chegou, ela já estava na metade do caminho. Jasmine foi recebida na porta pelo seu melhor amigo desde a infância e quando ele viu seu rosto, exclamou:
― Nossa, Minnie, você parece péssima. ― Apesar da imensa vontade de chorar, ela forçou uma risada pelo nariz. ― Minnie ― ele murmurou antes de abraçá-la. Eles seguiram para o andar de cima, mais precisamente o quarto dele, onde ela tinha passado incontáveis tardes nos últimos doze anos.
Eles sentaram-se na cama que não tinha mais o lençol com estampa de carrinhos e essa mudança, mesmo que tivesse sido gradual, a fez querer soluçar. Ele ligou a televisão, pois sabia que ela detestava o silêncio total. Quando ela não disse nada, ele desceu para buscar comida porque a conhecia bem assim.
Quando ela o viu a porta, com tacos nas mãos, ela começou a chorar. Ela comeu tacos com lágrimas e quando soluçou novamente por fim, ele a deu um olhar verdadeiramente sofrido:
― Quer conversar sobre isso? ― perguntou em voz baixa. Justin era realmente um homem incapaz de ver uma mulher chorar, menos propenso ainda, se essa fosse uma mulher que ele amava.
― Tudo ― soluçou. ― Tudo só se torna demais as vezes, entende?
E ele entendia. Filho único de pais separados, Justin sabia muito bem como as vezes tudo ficava demais.
― Estou aqui por você ― disse tentando reconfortá-la. ― Sempre estive e sempre estarei.
― Eu sei ― ela respondeu porque sabia. ― Estou aqui por você também.
Após isso ela se aquietou. Não havia motivo para se desesperar se Justin estava ao seu lado e ainda a tratava da mesma forma.
Eles viram filmes, comeram doces e a melhor parte: eles riram. Riram como não riam desde crianças. Porém tudo que é bom tem um fim e quando Justin começou a ficar distraído e responder mensagens de texto, ela soube que a bolha mágica havia estourado e era hora de ir embora.
Então, ela foi e não notou, mas sua aparência perfeita fez com que, ao atravessar a rua, um carro freasse bruscamente, causando um pequeno acidente e posteriormente, um grande engarrafamento que seria largamente noticiado na TV. Aquele era apenas o início dos problemas de Jasmine com a Perfeição.
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Que a Perfeição só vai causar estresse a gente sabe, mas o que vocês acham que causou isso, hein?
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Perfeita
ChickLitAmor Mágico - Livro 1 Jasmine Chamberlain é uma garota comum. Não, é sério, ela é uma garota tão comum que chega a ser chata, tão comum que nenhum livro nunca seria escrito sobre ela, tão comum que passa pela vida completamente desapercebida, sem nu...