Silêncio e Frustração

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A viagem de carro de Medford para São Francisco dura cerca de seis horas e Jasmine fingiu cochilar durante esse meio tempo, para que eles não precisassem ter conversas desconfortáveis de elevador.

Isaac a "acordou" para o almoço, na metade da viagem, e eles desceram do carro, o sol forte batendo nos olhos da morena e assim, os três entraram na lanchonete qualquer. Se sentaram em uma mesa no fundo e Isaac se levantou apressado:

― Volto logo ― avisou.

Ela e Nate olharam para o cardápio por alguns segundos e por fim, ela optou por um sanduiche vegetariano e um copo de água. Nate pediu um lanche completo com direito a hamburguer duplo, batatas fritas e milkshake de chocolate para si e de morango para Asa. Aquilo fez Jasmine dar uma risadinha interna, como poderia eles serem parecidos em tantas instancias, mas ainda tão diferentes em outras?

Enquanto esperavam pela refeição, a garota decidiu checar as mensagens recebidas, mesmo sabendo que provavelmente não deveria e deu de cara com uma mensagem do pai:

― Feliz aniversário, Jasmine. Para minha filha única, estou enviando cem dólares pelo correio. Use-os sabiamente.

E sem saber exatamente o que responder para aquela frieza virtual, ela usou sua educação:

― Obrigada, pai.

Isaac voltou antes da comida ser trazida e Jasmine tirou os olhos do celular notando que ele trazia consigo uma sacola.

― É para você ― declarou singelamente sentando-se ao lado do irmão. ― Percebi que o sol te incomoda.

A morena abriu a sacola e tirou dela um óculos, um chapéu simples e um lenço azul. O lenço a incomodou pela semelhança com um hijab, mas ela sorriu para o garoto doce.

Com as feições árabes, o bullying e as provocações por sua ascendência sempre foram uma realidade, era difícil dissociar aquela reação a qualquer coisa remetente a sua cultura após tantos anos sofrendo por ela.

― Você não precisava ter feito isso ― falou. ― Foi muito gentil da sua parte.

A comida foi colocada sobre a mesa e ela deu uma mordida em seu sanduiche para não precisar falar nada. Se a viagem continuasse nesse ritmo, seria muito constrangedora.

― O que há de errado, Jaz? ― questionou Nate a fazendo levantar os olhos. Isaac também a olhava.

― Não há nada de errado ― garantiu.

― Seus olhos estão cheios de lágrimas ― observou.

― Eu só não entendi o porquê do lenço ― ela admitiu em um sussurro. ― Se é por causa da minha origem, não importa, meu pai é batista e eu fui batizada ainda criança.

― Eu só imaginei que você gostasse de azul ― informou Asa com um encolher de ombros.

Nathaniel olhou para o irmão e dirigiu um olhar reprovador para a companheira de viagem, que fez com que a morena se afundasse dentro de si mesma.

Comeram o resto dos lanches em silêncio e após um suspiro de Nate, voltaram para o carro para mais três horas de viagem muda.

***

Quando pararam em um pequeno hotel, o sol se preparava para descer. Isaac foi até a recepção e Nate se virou para ela:

― Você tem que tomar mais cuidado com ele ― disse em voz baixa claramente irritado pela situação anterior e protetor com o irmão. ― Não pode machucá-lo toda vez que se assusta.

Ele saiu do carro e Jasmine saiu logo atrás, se sentindo cada vez pior. Abrindo o porta-malas ele retirou de lá as três mochilas, ela colocou a dela nas costas e ele colocou a dele e a do irmão, uma em cada ombro. Eles encontraram Isaac na porta do hotel, com a chave do quarto em mãos.

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