4. Apenas mais uma vez

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 Está tudo calmo por enquanto, Uami nunca mais teve as suas explosões de raiva, acredito que a Daisy tem uma boa influência sobre o seu temperamento, mas ele pode ser bem difícil quando quer

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Está tudo calmo por enquanto, Uami nunca mais teve as suas explosões de raiva, acredito que a Daisy tem uma boa influência sobre o seu temperamento, mas ele pode ser bem difícil quando quer.

Quando Ricardo foi embora, afectou a todos, principalmente a mim, ele era o meu melhor amigo, e quem diria que Laura fosse aquele tipo de pessoa, sempre me mantive imparcial, mas nunca esperei isso dela.

Passo pelo corredor do 'campus' e me infiltro em uma aula de desenho artístico e olho para as diferentes obras em que os estudantes trabalham, desenhos, fotografias, gravuras, pinturas, esculturas, contam diferentes histórias, retêm diversas lembranças, é sempre fascinante olhar para esse tipo de arte, parece que ultrapassa muitas vezes a compreensão humana, como se olhasses para uma fotografia ou pintura e começares a chorar, sem poder explicar que tipo de sentimento as mesmas te transmitem, é irracional.

Dou mais algumas voltas, quando ia sair me deparo com Simon na porta e fico estática sem saber o que fazer, ele sorri e não sei como reagir.

Simon está diferente, a última vez que o vi foi no enterro da sua mãe, quando tínhamos 14 anos, o comportamento dele estava pior que antes e eu queria saber o que se passava, por que ele estava daquele jeito?

Eu tentei conversar com ele, mas ele me maltratou toda vez que me aproximava, então eu falei com a Sun e fui ver a mãe deles, foi quando eu soube que a mãe deles tinha câncer, Simon não contou para ninguém.

'Uami, eu fui ver a Sra. Rivers hoje'. Digo para o meu irmão e ele olha para mim, desviando os seus olhos do computador.

'Por que te deste a esse trabalho? '. Ele pergunta e não parece nada interessado.

'Ela está doente Uami, muito doente mesmo'.

'Simon não nos quer perto da família dele'

'É por isso que ele está mudado, por favor fala com ele '

'E falamos sobre o quê? Ah!mm, falamos sobre o quê? Não tem nada para falar'. Ele diz e volta a fazer o que fazia antes de o interromper, vou até ao meu quarto, pego um casaco e saiu, indo até à casa de Simon, com esperanças de o encontrar lá.

'Olá Sr. Rivers, o Simon está? ' Pergunto para o pai dele, que acena e me deixa entrar. Vou até ao seu quarto e bato a porta, espero uma resposta que não vem, então eu entro e encontro deitado na sua cama, a olhar para o tecto.

'Simon'. O chamo, ele vira a cabeça e depois olha para o tecto novamente, mas depois se senta abruptamente como se só notasse a minha presença agora.

'O que você faz aqui?'. Ele pergunta e dou alguns passos para chegar mais perto.

'Eu estava preocupada com você, precisamos conversar'. Digo e ele sorri e abana a cabeça, e eu vejo claramente que ele sofre. 'Si, eu só quero ajudar'

'Eu não quero a sua solidariedade, aliás, você precisa mais do que eu'. Ele tenta me atingir, mas não me sinto ofendida.

'Si, não é solidariedade, eu sou tua amiga, eu gosto de você, eu me preocupo com você, por favor, me deixe ao menos te oferecer a minha mão'

'Eu não quero nada vindo de você, você não entende, não quero tocar em algo que me pode manchar, não posso receber algo de alguém como você'

'Para, para, você não é assim, nunca foste assim'

'Então se habitua, eu sou assim agora e não podes fazer nada para mudar isso'

'Você não precisa passar por isso sozinho Si, eu posso___'

'EU NÃO QUERO! Não te quero perto de mim nem da minha família, apenas desapareça da minha vida e me deixe sozinho'. Ele diz e me vou embora.

O câncer da mãe dele já estava em estágios finais, era impossível ela o vencer, até que um ano depois ela cedeu e deixou esse mundo, eles ficaram tão mal que doía ver, mas eu não podia fazer nada, apenas o via sofrer, sofrer tanto que se tornava insuportável, Simon ficou deprimido e depois ele ressurgiu, mas muito diferente do rapaz que algum dia fora, estava diferente.

Esse rebelde que está na minha frente, que mesmo me maltratando não deixei de gostar dele.

"Vejam só se não é a preta mais armada em inteligente". Ele diz na minha cara com o seu hálito de cerveja e o ignoro, passo por ele para ir embora.

"Pare de me seguir". Eu digo e mesmo assim ele anda ao meu encalço.

"O que vai fazer? O 'King Kong' não está aqui para te levar a torre, não tem aqui ninguém para te defender, então que tal você vir comigo?". Ele diz e paro, me viro para ele.

"Quem fica bêbado às 15h, ah!mm? Diz-me, não consegue, pois não? Passar bem Simon". Digo voltando ao meu trajecto, chego até ao parque de estacionamento e vou até ao meu carro, me assusto quando ouço um carro buzinar várias vezes, olho para trás e vejo o Simon deitado no chão, corro até ele.

"Simon, Simon". Chamo por ele, ele olha para mim e sorri.

"Tira esse idiota da minha frente". O motorista do carro a nossa frente grita, eu aceno e ajudo o Simon a se pôr em pé.
"Simon, anda, vem". Digo para ele e tento o máximo que consigo e o levo até ao meu carro, ele se apoia na porta, eu sou pequena, e para quem era lingrinhas quando criança, ele cresceu demais. "Simon, me ajuda vai". Digo, abro a porta do carro e tento o acomodar no banco.

"Você ficou mais forte, mas será que você ainda chora como antes? Eras tão caladinha, só falavas quando era necessário". Ele diz depois de eu me sentar e colocar o cinto nele.

"Me diga o seu endereço". Peço e ele continua a sorrir para mim, o pai dele já parou de responder por ele, e quando ele foi por maus caminhos, ele foi expulso de casa, então eu não sei onde ele vive agora. Ele não diz nada, então eu procuro por alguma informação em seus bolsos, tiro a sua carteira e encontro lá o endereço, dirijo até lá e olho para a área onde ele vive.

Estaciono de fronte a um prédio, desço do carro e olho para os meus arredores, abro a porta para ele e tento o tirar do carro, caminhamos até ao átrio, paredes cobertas de pichações, latas por todo lado, lixo, esse lugar é imundo, nem há iluminação.

"Simon, onde?". Pergunto e dou-lhe um leve estalo no rosto para o acordar, ele tenta andar e eu fico ao seu lado como apoio para ver se ele não perde o equilíbrio, se ele cair não sei se o consigo erguer outra vez, vamos até ao segundo andar, tenho sempre em atenção os passos que ele dá para que ele não tropece, procuro por chaves em seus bolsos, tiro um molho e abro a porta, o lugar cheira a mofo, entramos e o faço se sentar no sofá.

'Será que eu devia o deixar aqui assim? Já fiz um grande favor o trazendo até aqui'. Falo para mim mesma, talvez ele fique bem, mas eu não consigo me mover, olho para o seu apartamento, está imundo e frio, procuro com os meus olhos por um aquecedor e não encontro, como ele consegue viver nessas condições?

Ok Utima, apenas dessa vez.

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