| IV |

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— Vamos, Idylla, já está atrasada.

— Ah, Shina, me deixa dormir mais cinco minutos...

— Está vendo, Marin? Você a deixa na boa vida e o resultado não poderia ser diferente.

— Não estava previsto que Idylla fosse treinar algum dia, Shina. Nem tente me culpar.

A amazona de Cobra adentrou o quarto onde a menina dormia e a colocou sobre os ombros, seguindo para a pequena cozinha da casa.

— Ei, Shina! Por que a pressa?!

— Uma amazona não dorme até tarde, é melhor se acostumar. — A mulher deixou a garota no chão novamente.

— Já disse que não quero ser amazona coisa nenhuma — A menina reclamou, sentando-se à mesa. — Além disso, ninguém perguntou se eu queria treinar. Deuses não treinam.

— De onde tirou isso?

— A Saori treinou alguma vez, por acaso?

Shina ficou em silêncio e Marin soltou uma risada.

— Ela tem um ponto.

— Você está do lado de quem, Marin?

A amazona de cabelos esverdeados cruzou os braços como resposta, esperando Idylla terminar o café da manhã e depois trocar de roupa. Ao ficar pronta, as duas seguiram para o local de treinamento, que seria perto do Templo de Atena, como Saori havia pedido.

— O que ela tá fazendo aqui? — Um garoto sussurrou para o outro quando viu Shina se aproximando com a menina.

— Não sei... será que a Shina ficou maluca?

— O que estão cochichando aí? — A amazona inquiriu.

— Nada demais, senhora.

— Já que está tão desocupado, vai ensinar o básico para Idylla. Ela vai começar a treinar a partir de hoje.

— Shina, não precisa disso. — A menina deu dois passos para trás — Posso pedir para o Shun ou para a Marin me treinar.

— Deixe de besteira, Idylla. Você não pode ter medo deles pelo resto da vida. Vamos, não temos o dia todo.

— Me desculpe, mas me recuso a ficar no meio deles.

A filha de Hades começou a seguir o caminho para longe do local de treinamento, mas para ao ouvir uma voz.

— A gente é que deveria ficar longe de você. — A menina do dia anterior tomou a palavra — Por sua causa, quase morremos ontem! Você usa o que sabe para machucar as pessoas!

— Apenas me defendi. — A herdeira do submundo deu três passos na direção dela — Vocês começaram a atirar pedras em mim! E tudo isso porque têm medo do meu pai!

— É claro. — A outra garota cruzou os braços, encarando Idylla fixamente — Ele sempre tentava matar todo mundo, então por que vamos confiar em você?

— Porque eu não sou ele!

— Mas vai ser um dia. E vou me tornar a amazona mais poderosa para acabar com você.

— Você é engraçada, Acates.

A menina de cabelos escuros foi embora, deixando a outra sem palavras. No entanto, Acates decidiu que não deixaria barato e saiu correndo na direção da outra, evitando ser pega por Shina e se preparando para dar um golpe.

Idylla foi avisada pela fada do que viria a seguir e se virou de frente para sua agressora novamente, usando a telecinese para jogá-la para trás.

— Como você faz isso?! — Acates olhou para sua mestra, ajeitando o cabelo ruivo novamente em um rabo de cavalo enquanto seus olhos castanhos faiscavam de raiva — Senhora Shina, isso é impossível! Ela sequer moveu um dedo!

— Esse é o poder de uma divindade. Por ser filha de Hades, isso faz de Idylla uma deusa também.

— Essa aberração, uma deusa?! — A ruiva apontou para Idylla — Sem chance!

— Ela não é uma aberração, é uma pessoa como todos nós. Atena já disse uma vez para vocês esquecerem de Hades, ele não existe mais e não pode nos ameaçar, então parem de implicância de uma vez. Peça desculpas, Acates.

— Não precisa se preocupar, Shina — A menina de olhos azuis interrompeu. — Ela vai perceber que cometeu um erro.

— Isso é uma ameaça, aberração?

— Não. É uma certeza.

Idylla olhou fixamente para Acates, fazendo-a ficar paralisada, embora estivesse atenta a tudo o que acontecia. Entretanto, se preocupava mais em entender a sensação de culpa e tristeza que a inundavam tão de repente. Seus olhos marejaram e a ruiva tentou lutar contra as lágrimas por não haver motivos para chorar, só que não adiantou. Quando menos esperava, estava correndo na direção da filha de Hades e se ajoelhando diante dela.

— Me desculpa, Idylla! Eu não queria falar aquelas coisas, não queria mesmo, foi um erro! Estou arrependida, de verdade!

A outra não se movia, apenas permanecia estática enquanto encarava Acates soluçando e pedindo perdão diversas vezes. Os demais observavam a cena sem compreender o que se passava, se era alguma mudança súbita de comportamento da loira ou uma influência de fora.

— Idylla, já chega. Você não precisa fazer isso.

A voz de Shun fez com que a menina desviasse o olhar da outra, cessando o choro e o pedido de desculpas imediatamente, porém Acates continuava abalada, sentindo o peso da culpa. Shina apenas observava, entendendo que o que ouvira de Marin poderia ser verdade. Ninguém faria uma pessoa se sentir daquela forma e nenhum outro deus é capaz de tal ato, convencendo a amazona da existência da Deusa da Penitência.

Herdeira do EclipseOnde histórias criam vida. Descubra agora