Prólogo

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—Você tem montanhas nos olhos, mas não estou as vendo

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—Você tem montanhas nos olhos, mas não estou as vendo.— Declarou Melinda, virando a face em direção à irmã deitada ao seu lado.

A superfície macia sob os corpos femininos das jovens Backer's, afigurava uma textura disforme para Melinda, que não estava com os sentidos límpidos.

—Se nossa mãe descobrisse que você está drogada ela me mataria.—Melissa sorriu, imitando o gesto da irmã ao voltar a encarar o teto branco.

—Eu estou feliz.—A voz monótona da mais nova, foi proferida enquanto em sua visão, pontos desconexos e abstratos predominavam o ambiente.

Um alto barulho de algo se quebrando no andar debaixo, ecoou na mente entorpecida da adolescente, levando a mesma à fechar seus olhos e espremer os lábios, como se pudesse sentir o gosto daquele som.
Vozes exaltadas surgiram, fervorosas em uma discussão feroz. Era para ser um jantar entre sócios, mas para os pais das garotas as coisas não estavam tão amigáveis naquele escritório.

—VOCÊ OUVIU E VIU COISAS DEMAIS!— As palavras com tom masculino, foram lançadas quase perfurando o mundo alternativo no qual Melinda estava.

—VOCÊ É LOUCO!—Rebateu com a mesma raiva, uma outra voz não identificada.

Quem eram? A jovem não conseguia identificar entre seu pai e o grande sócio.

As vozes das mulheres, formavam um chuvisco de agulhas gélidas em seu rosto.

—Vou ver o que está acontecendo.— Melissa explicou, se levantando da cama e saindo do quarto.

Aquela frase havia sido descartada pelo cérebro de Melinda, que na verdade mal tinha a noção da ordem em que as palavras que ouvia realmente eram pronunciadas. Não se importou em fechar os olhos e imergir nas cores e texturas que lhe eram proporcionadas.

Porém ela se levantou, dando um passo de cada vez. O contato de seus pés com o piso frio, era incerto e melódico, dançando sobre as mandalas rosáceas, que se desintegravam lhe elevando ou afundando em suas entranhas.
A garota conseguia sentir cada irregularidade das paredes que tocava naquele corredor, os pequenos e milimétricos grãos que se soltavam em seus dedos e os caminhos jamais traçados que pairavam por debaixo de seu toque.

Ao enfim chegar nas escadas, seus olhos se admiraram com o laranja vívido e dançante, que desfilava possessivamente envolvendo tudo em sua frente.

— Fogo. —Impressionada, seus lábios silabilaram.

Os olhos verdes tão presos e hipnotizados pela obsessão e selvageria que aquele elemento continha, se viam vislumbrados diante da sutileza agressiva e destruidora. Tamanha concentração, ofuscou a chegada de Melissa, essa que tinha um semblante assustado ao passar correndo pela irmã.

— Temos que sair daqui.— Afirmou ofegante. A voz oscilando entre o rouco e o grave, se afastou gradativamente, assim como os passos apressados da jovem adulta que voltara para o quarto.

O pé direito da mais nova alcançou o primeiro degrau de sua descida, intencionada em seguir na direção oposta de Melissa.

O portal de madeira da porta do escritório, caiu tomado pela figura flamejante, impedindo a saída dos quatro adultos.

A Backer mais nova levou uma de suas mãos para cobrir boca e nariz, sentia suas vias aéreas pinicando em ardência.

— MELINDA.— A voz materna, embalando o desespero, a chamou.

Quando os olhos de mãe e filha se encontraram, foi como mergulhar em alto mar sem saber nadar, o balançar das águas, balançava também o interior das duas, fazendo as mesmas se tornarem vivos oceanos turbulentos, Tentando ao máximo se agarrar em algo, tendo o vácuo sob os pés e tão perto de as consumir como sua própria definição.

A droga não conseguiu ludibriar a imagem assombrosa, de seu pai sucumbindo ao fogo, gritando dolorosamente junto com os demais. A mãe das Backer's, não hesitou em precariamente e numa tentativa suicida, atravessar as labaredas em direção à filha caçula.
Rastejando até os pés da escada, sentindo-se arder na mais torturante aproximação da morte, a mãe gritou em plenos pulmões, decorrente da dor.

— Meu amor foi minha maldição.—As palavras engasgadas e afogadas em lamúria, atingiram Melinda ainda estática. A própria alma da mulher estava naquela frase esganiçada.

O cheiro de tudo sendo queimado, os objetos, os móveis e os corpos. Ficaria selado nas paredes internas da jovem.

Um aperto brutal, tomou o braço da menina, a arrastando de volta para o quarto, até a deixar em frente a janela aberta, onde abaixo da mesma existia um gramado incrivelmente bem cuidado, engolido pela escuridão da noite que agora tomava tons alaranjados.

— Pula, Lin.— O apelido antes tão doce, agora trazia um tremor agoniante com gosto de morte nos lábios de Melissa, que estava com metade do rosto tampado com uma camisa.

— É muito fundo!— Protestou com o nariz ardendo, a dificuldade em respirar assolava a sustentação do corpo e consciência já perturbada da garota.

Com a realidade quase escapando de seus sentidos, a mais velha empurrou Melinda para logo em seguida saltar também.
Aquela era uma tentativa de sobrevivência, revestida num salto para a morte.




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Oioi, como estão?

Eu sou a louca dos sonhos, então essa é mais uma adaptação de sonho que tive KKK.

Sejam bem vindos (as)!!

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Beijocas!!

Nas Asas da SanidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora