Capítulo 2 - A Bruxa

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Saiu capitulo mais cedo do que eu previa e nem sei como
não sei se ele ficou do jeito que eu gostaria, mas foi oq eu consegui fazer

[ATENÇÃO] esse capitulo ficou meio pesado, envolve de certa forma abuso, então se vc for sensível a conteúdo assim POR FAVOR NÃO LEIA

Esse capitulo se passa antes do outro na ordem cronológica da historia
E Mama seria um apelido carinhoso a mãe da Mina, n sei se deu pra entender, então estou avisando

A religião que eu coloquei para a Mina é a bruxaria ancestral 
infelizmente eu não achei tantas coisas sobre ela, mas queria colocar mesmo assim

acho que é só isso, eu revisei mas podem ter passado uns errinhos 

Espero que gostem >:3 

Eu costumava viver nos subúrbios do reino, como um rato se esgueirando nas ruelas dos bares, mastigando sobras e roubando quando extremamente necessário, sem sentir remorso por isso

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Eu costumava viver nos subúrbios do reino, como um rato se esgueirando nas ruelas dos bares, mastigando sobras e roubando quando extremamente necessário, sem sentir remorso por isso. A vida não é fácil, principalmente quando sua benção se encaixaria mais como uma maldição, se voltando contra você e privando uma parte da sua existência.

Se a vida fosse realmente feita de escolhas, quem escolheu isto para mim? As vezes me pergunto se os deuses que tanto adoro são tão bondosos quanto me falaram, esses pensamentos fogem rapidamente da minha mente. Embora eu sempre os carregue comigo, como um chiclete incomodo grudado na sola do sapato. 

Mama se foi muito cedo, sempre festejando nos bares com um sorriso gentil e safado, tão falso quanto as joias que usava. As vezes me culpo por não ter feito mais por ela, mas se eu só pensasse sobre isso, provavelmente estaria no mesmo beco que ela, indo a bares se oferecer para homens tão asquerosos e podres. Ao invés disso me aproveitei das oportunidades, tão pequenas, mas tão valiosas, me levando a coisas cada vez maiores que eu nem conseguiria imaginar.

Agradeço aos meus deuses por tudo o que me ofereceram até hoje, por erguerem cada floresta, pelo sol que toca a minha pele rosada, pelos animais que correm livremente pelas matas, pelas águas que continuam seguindo seu fluxo. Peço a eles para proteger aqueles que sofrem, para ajudar os indefesos, guia-los para uma vida melhor, assim como fizeram comigo. 

Rezo pelos mortos, que deixaram essa terra sem escolha, tentando proteger vossas almas da crueldade do mundo, perdidos demais para fazerem o certo, sendo forçados e temidos. Espero que Kher-Nun ajuda Mama, quero que ele faça por ela o que eu nunca pude, quero que a de paz.

Pouco tempo atrás, eu me escondia atrás de uma máscara, correndo das pessoas maldosas que despejavam sua infelicidade em mim, me culpando pelos seus fracassos. Eu nunca lancei pragas em ninguém, nem ao menos sei uma, a culpa é realmente minha por toda a desgraça que acontece? Me sinto o próprio diabo rosa.

Tomei a liberdade de ser quem sou, a pessoa que o tempo e acontecimentos me tornaram, coloquei tecidos coloridos, pintei o couro das minhas luvas e botas, parei de esconder meus chifres amarelados. Pela primeira vez em muito tempo senti que finalmente poderia ser eu mesma, que eu não precisava me esconder, que nada poderia me machucar.

Senti os olhares queimarem em minha direção logo após sair da cabana, eles variavam de nojo, surpresa até a admiração das crianças, tão inocentes e fascinadas com o diferente. Corri pelas matas, a grama fazendo cosquinhas na pele, gargalhei ao sentir o vento bagunçar meus fios rosas longos, finalmente alcançando a satisfação de estar sem aquela capa que me escondia.

Subi a colina, vasculhando a floresta atrás de ingredientes para o novo feitiço que eu estava testando, o achei escondido em uma das páginas do livro velho de Mama. Vendo algumas das receitas na feira local, a fim de me sustentar, embora os aldeões me repudiam, eles adoram comprar os frascos escondidos, uma forma de alcançar seus desejos sem se esforçar por eles.Nem posso contar quantas vezes produzi remédios arriscados e raros a pedido deles, desesperados para salvar seus amigos, amantes e crianças. Me dá satisfação vê-los bem graças ao meu trabalho, mesmo que depois eles me amaldiçoem através de suas rezas, eu não me importo, sei que os deuses cuidarão de mim.

Nem notei a movimentação estranha, não entendi como ou ao certo quando aconteceu, foi tudo muito rápido, fugindo de minha compreensão assim como uma lebre foge de uma armadilha. Estava escurecendo, o sol se pondo devagar, deixando o céu uma mistura de cores quentes e alegres, diferente da ocasião.

Era um lugar afastado da vila, mesmo assim, duvido que se fosse no meio daquelas pessoas alguém me ajudaria. Meu cabelo foi puxado brutalmente, sendo segurado por uma mão enorme, quase do tamanho de meu rosto, me senti uma boneca idiota, brinquedo de uma criança maldosa e desleixada. Meu corpo parecia um saco de penas, sendo levantado do chão com tanta facilidade, de um jeito tão maldoso.

Consegui ver os três homens, embora seus rostos estivessem cobertos por capuzes feitos a pressa, um plano imprudente. Me debati, tentei os socar e morder, minhas poções longe demais para eu sequer cogitar em pega-las. Senti eles rasgando minhas roupas com facilidade, desfazendo as costuras e as tacando para longe. 

Nunca me senti tão humilhada, a única coisa que se passava pelo minha mente naquele momento era que eu precisava fugir, eu precisava me soltar, eu não deveria ser quem sou, eu não deveria ter recebido essa benção e muito menos decidido segui-la. 

Eu conseguia ver seus sorrisos cínicos, ouvir suas gargalhadas maldosas e sentir os apertos no meu cabelo. Parei de lutar, sem forças para conseguir ir mais longe naquela brincadeira de bater, não causando nenhum efeito.Havia um bolo na minha garganta, um nó na minha mente e estava começando a ficar frio demais para mim naquele lugar. Os ossos pareciam querer se esfarelar, apenas para fugir daquele aperto que estava deixando marcas.

Pela primeira vez eu quis desistir, desistir de verdade, de tudo o que sou e de tudo o que eu lutei por tanto tempo. De que adiantava a viagem se esse seria o meu fim? Pelo que eu tanto lutei? De que valeria continuar a lutar?Ouvi um grande ruído, algo escorrendo pela minha cabeça, logo depois gritos e mais gritos. Observei um dos homens no chão, ensanguentado, não conseguia desviar o olhar, atordoada demais para notar o que estava acontecendo.

Mais sangue para todo lado, respingando em mim, me pintando como um quadro quebrado. Senti o gosto do ferro na boca, o puxão nos meus fios se suavizando até não haver mais, senti os pés na grama, depois os joelhos, ainda fazia cocegas, mas eu não conseguia prestar atenção nisso, nos detalhes.

Senti tecido escorregar pelas costas, aquecendo minha pele gelada pelo vento, botas encharcadas de sangue apareceu na minha frente, manchada pelo vermelho do sangue e do barro. Subi o olhar, a espada suja brilhava na luz do luar, igual seus olhos selvagens.

Naquele momento soltei a respiração, desabei por completo, caindo em um choro tão agudo que me fez querer vomitar. As lagrimas desciam sem parar, como uma forte correnteza, encharcavam o resto de tecidos, mas não importava.

Ele se sentou na minha frente, sem dizer uma sequer palavra, apenas me observando chorar, volte e meia verificando se não havia mais ninguém na clareira. Sussurrava frases rotineiras, parecia não ter a mínima ideia de como me consolar, eu muito menos saberia fazer o mesmo. Entretanto, ele ficou a noite inteira ao meu lado, até eu pegar no sono por causa do cansaço que as lagrimas me causavam, uma paz me envolvendo. 

Não parecia estar com fome, embora sua barriga roncasse, nem com frio, mas tremia e seus pelos estavam todos eriçados. Naquele momento ele estava me colocando em prioridade, em um grande pedestal, coisa que nunca fizeram comigo, ele estava cuidando de mim como ninguém cuidou. Eu não sabia seu nome, sua história, seus títulos ou os motivos para as suas atitudes, mas eu jamais poderia esquece-lo. 

 Quando eu mais estava com medo, assustada e com nojo, ele estava lá, eu não poderia ser mais agradecida. A minha frente havia um jovem rapaz de peito desnudo e sangrento, o garoto mandado pelos deuses para mim.

O garoto da capa vermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora