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Abri as mãos liberando os punhos de Lucy.

— Pode solta-lo Judy.

Fiquei de joelhos tentando respirar melhor.

— Infelizmente príncipe , ninguém pode nos proteger, nem mesmo nossa mãe pode. — Disse Lucy guardando a adaga nas costas enquanto Judy passava a faixa que usou para me sufocar, na cintura.

— Eu posso! — Falei rouco. — Eu. . . posso.

As duas hesitaram tempo o suficiente para eu me explicar.

— Na floresta de sangue, posso esconde-las lá.

— E por que não nos entregaria a Hakon? Seu povo corre perigo. . .

— Vocês são minha salvação. — Falei abaixando o olhar. — Se eu ou alguém as entregar tudo morrerá.

— Nós vamos morrer Liam! — Saltou Judy. 

— Não se forem comigo, eu prometo. . .

— Não prometa o que não pode cumprir! — Disparou Lucy pegando a mão da irmã e me dando as costas.

Corri até elas.

— Há algum motivo. . . — Engoli em seco. — Há uma força, algo que não compreendo, mas precisam vir comigo.

— Qual motivo ou força Liam?

— Não sei, eu . . .

Hesitei e elas voltaram a me dar as costas andando para longe de mim.

— Não, esperem, eu preciso que. . . — Merda, a verdade sempre é o melhor caminho. — Eu sinto meu coração acelerar quando estou perto da Judy e sinto minha pele arrepiar quando estou perto de você Lucy.

As duas pararam sem se virar. 

— Eu não sei explicar sobre magia, mas há algo dentro de mim, e isso está atado a vocês duas. — Minhas mãos ficaram inertes.

— Está me dizendo que está apaixonado por nós as duas?! — Disse Lucy.

— Não eu não. . . não sei, tem alguma coisa que me trouxa aqui agora, para leva-las para a floresta de sangue, eu tenho um tio, e por mais que parece loucura . . . ele é um lobo.

As duas se olharam.

— Asgar? — Perguntou Lucy.

— O conhecem?

— Não, apenas suas lendas! — Disse Judy.

— É um filho da terra protetor da lua.

— Ele vai cuidar de vocês e Ibsen.

— Ibsen? — Perguntou Judy com um sorriso.

— Sim . . . vocês. . .

— A Deusa do sangue, guerreira de Mazafen, dizem que ela dizimou um exercito inteiro apenas com sua sede de vingança. — Disse Judy com os olhos brilhando cor de prata líquida na mesma intensidade que brilhava nos olhos de Lucy.

— Os dois . . .

Gritos interromperam nossa fala, as duas se olhara.

— Eles estão aqui! — Disse Lucy. — Precisamos correr.

— Meu cavalo está no portão. . .

— Não. . . eles tem cães! — Vamos pela floresta! — Disse Lucy puxando a irmã para o meio da floresta escura como o breu.

— Sabem chegar a floresta de sangue? — Perguntei indo atrás delas.

Judy pegou minha mão me puxando atrás delas, eu não via nada a não ser breu. Estou cego. Senti algo correndo atrás de nós. Eu precisava enxergar. Vi os olhos de Judy se virando pra mim e meus olhos conseguiram enxergar um lampejo de seu rosto.

— Liam. . . — Sussurrou. — Transforme-se.

— O quê?

— Shiii. . . — Repreendeu Lucy.

— Ele pode se transformar Lucy. . .

— Estão nos cercando! — Sussurrou Lucy parando. 

Os olhos das duas em prata e ouro luminosa e liquida me olhando, as mãos de Lucy pegaram meu rosto e lá estava o lampejo de seu rosto na minha frente. 

— Precisa se transformar! — Disse ela tão perto de meu rosto que senti seu hálito quente, e seu rosto ficou visível pra mim olhei para Judy e a vi, olhei em volta vendo a floresta toda, ouvindo além do que normalmente ouço, patas e farejares, sussurros ''estão por aqui''  um rosnado saiu de dentro de mim que fez tudo silenciar.

— Você não sabe acessar sua magia Lian? — Sussurrou Judy.

— Não. — Confessei. — Eu nem sabia até poucas horas, mas minha mãe disse que ela viu que eu tinha isso dentro de  mim, quando perguntei sobre a Judy. 

Elas se olharam e senti o farejar chegando mais perto, mas onde eu olhava não tinha nada ainda. As duas se olharam. 

— O quê. . .?

Judy assumiu as mãos em meu rosto e me beijou, um tremor em meu peito, seu gosto era de lavanda e mel, os lábios gelados, mas macios, então se afastou e Lucy assumiu o seu lugar, energia fluiu por minhas veias eriçando minha nuca. Eu mantinha uma mão em cada irmã. Os lábios de Lucy são quentes e tinham gosto de alecrim e limão, algo incendiou em mim, senti onde fluía, senti o rosnado de um cão atrás de mim e me virei violentamente, ouvindo o rasgar de tecidos e a fúria que fluía de minhas veias, eu quis gritar para que Lucy e Judy corressem, mas um rugido de um leão saiu de mim, os cães em volta choramingaram. 

''O que é isso?'' 

Ouvi vozes mais ao longe, o cão se abaixou diante de mim e avancei com mais um rugido, o cão correu e eu me virei para as duas fazendo sinal com a cabeça para que subissem em mim, elas montaram e corri pela floresta, sentindo aqueles cães correrem atrás, eu sentia como se milhões de fios enérgicos fluíssem de meu peito. Preciso achar a floresta de sangue, mas estou perdido. Quando não ouvi nada parei olhando pras estrelas tentando me situar de onde eu estava.

— Para a direita Leãozinho! — Disse Judy.

— Estão vindo, corre! — Disse Lucy.

Direita, peguei aquele caminho e corri sentindo ao meu encalço aqueles cães. O centro de minhas mãos ou melhor patas, eram cortados com espinhos e gravetos e pedras e eu queria chorar, mas eu precisava mante-las a salvo, nem que isso me mata-se, corri e corri até que senti em meu peito quando entrei na floresta de sangue. Um uivo cortou a noite e aquele vento que me recebeu mais cedo ondulou por nós. 

''Quem ousa. . .?''

''Mi sangre es tu sangre.''

Tentei falar e saiu um rugido, os cães que estavam longe agora me encontrariam, outro uivo e um rosnado mais alto a minha frente.

O vento soprou abrindo caminho e corri ao lado de um lobo enorme. . . não um lobo, meu tio, ele parou a minha frente. 

"Não se assuste'' — Disse ele em minha mente enquanto olhava em meus olhos.

''O que eu faço?''

''Espere!''

Serpenteando pelo caminho algo enorme se movia.

''O quê é?''

''Não tenha medo!''

— Pelos Deuses! — Sussurrou Lucy. — Jörmundgander.

Meu tio se transformou em humano. 

— Não o próprio princesas, apenas a filha dele, não tenham medo!

Entre a Flor e o EspinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora