C A R T A A B E R T A

Talvez a última carta

Tenho poucos minutos para detalhar através desta carta os motivos que me levaram ao suicídio. Na verdade não sei exatamente o que dizer e o que escrever. Não sei mais de nada. A dor me consome diariamente e vai se tornando insuportável. Muitos vão julgar como sempre fazem. As palavras e opiniões das pessoas me torturam. Todos vivem à minha volta me dizendo o que fazer, como ser, com quem falar e com quem andar, mas ninguém se importa de fato com o que eu quero ser ou com quem eu quero estar. As vezes eu só queria ouvir um “eu te amo” e tudo o que me disseram foi “me esqueça”. As vezes eu só queria ser abraçada, e tudo o que fizeram foi fingir que eu não existia. As vezes eu só precisei desabafar, e tudo o que fizeram foi me dar as costas. Alguns disseram que era fraca, outros disseram que era frescura, mas ninguém sabe de uma dor que não sente. Muitos motivos me levaram ao suicídio, muitos motivos me levaram a se tornar uma pessoa masoquista, muitos motivos me levaram a sofrer. Na verdade meu suicídio não começou a partir desta carta, eu fui morrendo por dentro lentamente. Amores que não deram certo, decepções, problemas familiares, etc. Esses fatos fizeram em mim pequenas feridas que o tempo não curou, apenas amenizou. A dor é minha única lembrança. Através desta carta também quero pedir à vocês que nunca sejam o motivo das lágrimas de uma pessoa, mas sim do seu sorriso, que nunca desistam do que querem, corram atrás mesmo que pareça impossível, que nunca deixem de fazer algo por medo de se arrepender, é melhor se arrepender por ter feito do que por nunca ter tentado. Pegue o ônibus errado e vá parar do outro lado da cidade, porque no final vai conhecer um lugar que ainda não conhecia. Faça curso em enfermagem porque você odeia sangue mas vai se acostumar. Deseje bem a quem sempre te desejou mal, pois os humilhados serão exaltados na presença do Senhor. Diga bom dia à um desconhecido, pois um dia ele pode ser parte da sua vida. Se você ama alguém, diga hoje, amanhã pode ser tarde. Se você acha que não têm mais motivos para sorrir, encontre novos, as coisas mudam e você precisa mudar com elas. Enfim, eu desejo à você que lê estar carta agora, tudo o que não me deram, tudo o que eu não pude ter. Essas são as últimas palavras de uma garota masoquista antes de acabar com a própria dor.