DOIS - Parte 1

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Tanto trabalho para garantir que Meje não conseguiria passar pelas defesas ao redor da casa, e agora estou aqui, convidando ele para entrar.

Por que eu? Por que não poderia ser alguma coisa mais simples, sei lá... Alguma coisa que eu pudesse ir atrás de descobrir eu mesma, sem precisar dele? Mas não. Não tem outro jeito e só a reação de Meje quando viu a areia já foi o suficiente para eu ter certeza de que ir atrás dele foi a escolha certa. Ele reconheceu alguma coisa ali.

Paro ao lado da porta e espero ele entrar. Meje não olha ao redor, mas tenho certeza de que, se precisar, ele sabe dizer exatamente tudo o que tem na minha sala, com direito a detalhes. Sempre foi assim.

Fecho a porta e me apoio nela por um instante, de costas para Meje. Estou cansada, de verdade. Mas, pelo menos, posso ter esperança de que tudo vai acabar.

— Você disse que tinha mais — Meje fala.

Respiro fundo e me viro para ele, que está parado no meio da sala, entre os sofás.

— Quase dois meses atrás, nós fomos atacados. Tanto a hospedaria quanto Alessio, tudo organizado pelo mesmo grupo.

Meje levanta as sobrancelhas, me encarando, e se senta. Cruzo os braços e continuo onde estou, encostada na porta. Sei o que ele quer dizer com isso: que não é uma ameaça e está disposto a me dar a posição de poder. Mas não tenho a menor disposição para esse tipo de coisa, não agora. Não quero precisar pensar em nada do que minha postura em geral pode dizer - não que tenha como evitar, se estou lidando com um demônio. E se Meje quiser pensar que eu continuar parada aqui é um sinal de que não confio e de que quero manter uma posição de vantagem sobre ele, não importa. Eu só não consigo relaxar o suficiente para me sentar.

— Eles eram três — continuo. — Um humano, um titereiro e uma mulher que não sei o que era.

— Um titereiro — Meje repete.

Assinto.

— Um titereiro tão forte que eu não teria a menor chance contra ele sozinha.

Porque foi preciso eu, Nero, Vanessa e Sina para dar um jeito nele. Não que ele tivesse alguma chance contra nós, realmente, mas não vou dizer que foi fácil. Se um de nós não estivesse na hospedaria...

E antes disso...

Respiro fundo de novo. Não sei até onde posso confiar em Meje e isso dói. Mas não tenho outra opção. Não dar as informações completas pode acabar sendo pior.

— O titereiro atacou Marrein, alguns dias antes — conto. — Ela não falou muito sobre isso, mas a impressão que eu tenho é de que ela escapou por pouco.

Meje estreita os olhos e cruza as pernas.

— Dois meses atrás eu ainda estava aqui.

Balanço a cabeça. Talvez fosse mais fácil se estivesse.

Ou não, porque ele se enfiaria nisso tudo sem estar preso por um acordo, e isso é minha única garantia de segurança agora.

— Foi logo depois que você foi embora. Chegaram a questionar se você estar aqui não estaria ligado a esse grupo

Ele se endireita de uma vez.

— Por que eu estaria ligado a alguma coisa assim?

Como se um demônio montar um esquema desses fosse algo imposssível...

Solto o ar com força e balanço a cabeça.

— Porque esse grupo chegou logo depois e eu não tinha como notar o que eram.

Fogo e Névoa (Entre os Véus 3) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora