SEIS - Parte 2

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Entro debaixo do jato de água da mangueira presa em um suporte e deixo a sujeira escorrer de mim. Não está quente o suficiente para a água gelada ser a melhor coisa a essa hora, mas nunca que vou entrar em casa do jeito que estava. Quem vai ter que limpar a bagunça depois sou eu, então, melhor não.

— Nem sinal sobre de onde vieram.

Olho para onde Meje está, vindo do lado da casa depois de dar a volta no perímetro das minhas defesas enquanto Marrein e eu tirávamos o pior da sujeira das roupas.

— Nenhum rastro?

Ele balança a cabeça, sem olhar para mim. O que foi agora?

Ah. Certo.

Não que ele tenha algum motivo para não olhar para mim só porque estou molhada. Não é como se alguma coisa estivesse aparecendo. Ou como se ele se importasse. Ele já deixou isso bem claro.

Olho para Marrein. Ela revira os olhos e sinto o poder dela contra mim um instante antes da água desaparecer.

— Obrigada. Não vou demorar.

Porque é óbvio que vou tomar um banho depois disso tudo, é óbvio que ela quer fazer a mesma coisa, talvez Meje também, e minha casa só tem um banheiro.

Marrein assente e entra debaixo da água.

Suspiro e vou na direção da porta dos fundos de casa. Meje está encarando Marrein - provavelmente pensando no poder que sentiu, que foi uma coisa bem característica dos demônios maiores, e em quanto das histórias sobre ela são ou não verdade. Ótimo. Quanto mais tempo ele passar pensando nisso, mais fácil vai ser ficar longe dele.

Entro em casa e vou direto para o meu quarto. Droga. Eu dormi, mais cedo, mas ainda estou mais cansada do que deveria. Odeio ter que usar qualquer tipo de poder curativo justamente por causa disso. Preciso dormir e descansar, mas duvido muito que vou conseguir fazer isso.

Pego roupas limpas e saio do quarto.

Meje está parado no corredor, encostado na parede e de braços cruzados.

— O que foi? — Pergunto.

Droga. Depressa demais, seca demais. Se tivesse gritado que ele estava me incomodando não teria sido mais óbvia. Preciso tomar cuidado e prestar atenção no que eu faço e falo perto dele. Meje cresceu sendo treinado para ler reações. Não foi à toa que me ensinou tudo aquilo. Tenho que fazer melhor que isso.

Ele suspira.

— Às vezes eu acho que não deveria ter te ensinado a controlar suas reações.

E pelo menos eu tenho certeza de que ele tem nenhum tipo de poder no sentido de ler mentes. Provavelmente só falou isso porque minha expressão mudou assim que percebi o que estava fazendo.

Não respondo, só fecho a porta do meu quarto.

Não responder é reconhecer que a presença dele está me incomodando. E ele não merece nem isso de reação.

Olho para Meje de novo.

— Por quê?

— Porque eu ia poder conversar com você, de novo, e não com a parede que eu te ensinei a levantar.

Não vou reagir. Não vou. Ele só está falando isso para tirar uma reação de mim e mais nada.

Ele não tem direito de querer que tudo seja como antes.

Levanto as sobrancelhas.

— Você está conversando comigo.

Passo por ele e vou na direção do banheiro.

Fogo e Névoa (Entre os Véus 3) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora