SEIS - Parte 1

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Ninguém fala nada no caminho de volta para minha casa e vou considerar isso como algo positivo. Se bem que nem sei se Sina está vindo conosco - ela desapareceu logo depois do que Marrein falou. Provavelmente não está aqui e só vai vir depois que Meje e eu atravessarmos uma das fendas.

E também não vou questionar Marrein. As cicatrizes no rosto e no braço dela ainda estão vermelhas, o que quer dizer que sua perna - ou sua cauda - está bem pior. Mas se ela diz que consegue fazer manter as criaturas ocupadas, então deve ser verdade. Afinal, não foi a primeira vez que a atacaram. E ela conseguiu manter um titereiro ocupado, também, porque ele a atacou antes de tudo que aconteceu aqui em Lua Azul.

Levanto minhas defesas só o suficiente para entrar com a picape na área dentro das minhas "paredes" de poder.

— Pelo menos vai ser fácil passar o controle das defesas para você — falo.

Marrein dá uma risada sem humor.

— Ao menos uma vantagem, não é?

É. Ao menos uma.

Estaciono a picape e paro com a mão na maçaneta.

Ainda bem que olhei para fora.

— Não saiam.

Encaro a criatura parada logo depois da linha das minhas defesas. Quando ela entrou aqui?

— Merda — Marrein fala.

Quando eu abaixei as defesas para poder passar com o carro trazendo Meje e Marrein. Óbvio. Eu deveria ter imaginado isso. É óbvio que a passagem se fechando tem algo a ver com eles e as fendas, então quem está por trás disso sabia que teria uma reação rápida e...

Não vou repetir esse erro.

— Tem mais um desse lado — Meje fala.

Ou seja, grandes chances de ter pelo menos mais um na carroceria ou até debaixo da picape.

Um fio de poder e meus diabretes aparecem dentro do carro, empoleirados nos meus ombros e na minha cabeça. Estreito os olhos, ainda olhando para a criatura. Ela é do tamanho de um cachorro grande e tem quatro patas, mas qualquer semelhança termina ali. O focinho é comprido demais, com uma protuberância meio arredondada bem na ponta e os dentes parecem mais dentes de crocodilo do que qualquer outra coisa. E as duas patas da frente - que são a única coisa que consigo ver com clareza - parecem ter casos e garras ao mesmo tempo. Isso não deveria nem ser possível, mas... É o que estou vendo.

— Você não disse que eram aberrações — falo.

— Eu disse que não pareciam prontos.

Prontos. Não no sentido de estarem preparados para fazer alguma coisa, mas no sentido de um projeto em andamento.

— Você não falou isso — resmungo.

Não que faça alguma diferença.

A criatura dá um passo na direção da picape e abre a boca. Definitivamente dentes de crocodilo.

— Eles vão tentar nos prender aqui — Meje fala.

Claro que vão. São inteligentes, não é? Era exatamente nisso que eu estava pensando agora mesmo.

— Você cuida do seu lado — aviso. — Marrein...

— Backup — ela interrompe.

Ótimo.

Abro a porta do carro e meus diabretes disparam à frente, na direção da criatura. Ela tenta abocanhar um deles, mas os cinco se juntam ao redor dela e explodem num flash de luz verde e roxa. A criatura dá um pulo para trás, fazendo um ruído que não é exatamente um rosnado mas passa a mesma ideia e balançando a cabeça. Ótimo. É bom prestar atenção mesmo.

Fogo e Névoa (Entre os Véus 3) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora