Ninguém fala nada no caminho de volta para minha casa e vou considerar isso como algo positivo. Se bem que nem sei se Sina está vindo conosco - ela desapareceu logo depois do que Marrein falou. Provavelmente não está aqui e só vai vir depois que Meje e eu atravessarmos uma das fendas.
E também não vou questionar Marrein. As cicatrizes no rosto e no braço dela ainda estão vermelhas, o que quer dizer que sua perna - ou sua cauda - está bem pior. Mas se ela diz que consegue fazer manter as criaturas ocupadas, então deve ser verdade. Afinal, não foi a primeira vez que a atacaram. E ela conseguiu manter um titereiro ocupado, também, porque ele a atacou antes de tudo que aconteceu aqui em Lua Azul.
Levanto minhas defesas só o suficiente para entrar com a picape na área dentro das minhas "paredes" de poder.
— Pelo menos vai ser fácil passar o controle das defesas para você — falo.
Marrein dá uma risada sem humor.
— Ao menos uma vantagem, não é?
É. Ao menos uma.
Estaciono a picape e paro com a mão na maçaneta.
Ainda bem que olhei para fora.
— Não saiam.
Encaro a criatura parada logo depois da linha das minhas defesas. Quando ela entrou aqui?
— Merda — Marrein fala.
Quando eu abaixei as defesas para poder passar com o carro trazendo Meje e Marrein. Óbvio. Eu deveria ter imaginado isso. É óbvio que a passagem se fechando tem algo a ver com eles e as fendas, então quem está por trás disso sabia que teria uma reação rápida e...
Não vou repetir esse erro.
— Tem mais um desse lado — Meje fala.
Ou seja, grandes chances de ter pelo menos mais um na carroceria ou até debaixo da picape.
Um fio de poder e meus diabretes aparecem dentro do carro, empoleirados nos meus ombros e na minha cabeça. Estreito os olhos, ainda olhando para a criatura. Ela é do tamanho de um cachorro grande e tem quatro patas, mas qualquer semelhança termina ali. O focinho é comprido demais, com uma protuberância meio arredondada bem na ponta e os dentes parecem mais dentes de crocodilo do que qualquer outra coisa. E as duas patas da frente - que são a única coisa que consigo ver com clareza - parecem ter casos e garras ao mesmo tempo. Isso não deveria nem ser possível, mas... É o que estou vendo.
— Você não disse que eram aberrações — falo.
— Eu disse que não pareciam prontos.
Prontos. Não no sentido de estarem preparados para fazer alguma coisa, mas no sentido de um projeto em andamento.
— Você não falou isso — resmungo.
Não que faça alguma diferença.
A criatura dá um passo na direção da picape e abre a boca. Definitivamente dentes de crocodilo.
— Eles vão tentar nos prender aqui — Meje fala.
Claro que vão. São inteligentes, não é? Era exatamente nisso que eu estava pensando agora mesmo.
— Você cuida do seu lado — aviso. — Marrein...
— Backup — ela interrompe.
Ótimo.
Abro a porta do carro e meus diabretes disparam à frente, na direção da criatura. Ela tenta abocanhar um deles, mas os cinco se juntam ao redor dela e explodem num flash de luz verde e roxa. A criatura dá um pulo para trás, fazendo um ruído que não é exatamente um rosnado mas passa a mesma ideia e balançando a cabeça. Ótimo. É bom prestar atenção mesmo.
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Fogo e Névoa (Entre os Véus 3) - DEGUSTAÇÃO
Romance-= Versão inicial não revisada. A versão final VAI ter alterações. =- (Já à venda na Amazon!) Rafaela ainda era uma criança quando invocou um demônio pela primeira vez, com um pedido simples: queria um amigo. E, durante muito tempo, teve o que queri...