Koany
Minha voz já está embargada e um nó forma-se em minha garganta, dói muito relembrar tudo isso. Ele faz menção de se levantar para vir até mim, mas eu o detenho.
— Por favor, fique onde está. Você já forçou muito a sua perna sem as muletas e a última coisa que quero de você é que sinta pena pelo que estou lhe contando. Já comecei, agora vou terminar. Só peço que tenha um pouco de paciência, pois não é nada fácil reviver tudo aquilo.
— Ok, continue.
— Senti braços me ampararem e, em seguida, perdi totalmente os sentidos. Acordei um dia depois no hospital, totalmente desorientada, sem ter a mínima ideia do que tinha acontecido comigo, sem entender o motivo de eu ter ficado tanto tempo desmaiada.
— Você foi hospitalizada? E ninguém me avisou?
— Se me interromper novamente, eu juro que saio por aquela porta e nunca mais nos veremos — Falo já alterada demais, desejando não ter começado esse papo, que só vai servir para uma coisa: me livrar dessa sensação de história mal resolvida.
— Está, está tudo bem, vou me controlar. Afinal de contas, quanto tempo durou sua crise de nervos, e por que demorou tanto tempo para voltar?
— John, você é um completo idiota, egoísta e insensível, sabia? Vou-me embora e nunca mais quero olhar para essa sua cara de babaca! — Esbravejo essas palavras, já pegando a minha bolsa e andando em direção à saída. Ele levanta-se mancando e alcança meu braço, me detendo.
— Calma, agora que começou, precisa me dizer tudo, juro que não vou mais interrompê-la. Sente-se ali, eu vou preparar outra bebida para nós, venha comigo. Acho que precisamos de algo mais forte. Eu vou pegar um whisky para mim. E você, quer o quê?
— O mesmo! — Respondo rispidamente.
Bebidas servidas e, mais uma vez, ficamos frente a frente sentados no sofá. Tomo um gole da bebida, que desce queimando em minha garganta. Faço uma careta e ele sorri.
— Não está acostumada com destilados, não é? Ou não faria esta careta linda ao ingeri-los.
— De fato, não sou muito de beber. Na minha profissão, erros são fatais. E o álcool não é um bom companheiro para quem não tem o direito de errar.
— Você é uma boa médica, Dra. Vasconcelos, e excelente cirurgiã. Salvou a minha vida e eu serei eternamente grato por isso. Agora, se não for demais para você, poderia continuar de onde parou?
— Só fiz o meu trabalho. Continuando... Quando acordei e vi a Karen deitada na poltrona ao lado, me toquei que havia algo muito errado, então fui tomada pelo desespero e logo pensei em minha mãe. Por um momento, acreditei que ela tinha morrido. Karen me tranquilizou, dizendo que ela estava viva e sendo bem cuidada. O médico entrou e assinou a minha alta. Fui para a casa de minha amiga, tomei um bom banho para refazer as minhas forças, voltar ao hospital e ver como a minha mãe estava. Chegando lá, não a encontrei onde ela deveria estar e, em seguida, fui encaminhada para uma sala para falar com meu pai. Foi aí que eu soube o que eu jamais imaginei que pudesse acontecer. Minha mãe acabara de falecer.
Choro copiosamente como se tudo estivesse acontecendo naquele exato momento.
— Oh, princesa, eu sinto muito.
— Tudo bem, deixe-me terminar. Quando eu estive na casa da Karen, vi suas chamadas e planejava retorná-las assim que tudo se acalmasse, depois que eu visse mamãe e voltasse para casa. Mas ao receber a notícia de sua morte, fiquei desorientada e acabei deixando para depois, e os dias foram passando e a situação só fazia piorar. Não consegui me entender com meu pai, pois para mim ele é o único responsável pela morte dela, e eu nunca consegui perdoá-lo. Uns dois meses depois, consegui fugir de casa com a ajuda de meus amigos. Jaime, Karen e Lúcia foram verdadeiros anjos em minha vida.
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Uma paixão sem limites (Completo)
RomanceO livro retrata a história de uma jovem inexperiente e sonhadora, vivendo em um mundo totalmente limitado pelas exigências conservadoras do pai. A descoberta e a entrega do primeiro amor a levará a um universo desconhecido e cheio de emoções avassa...