[00.05] Humano

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Aizawa andava pelos corredores tentando manter-se calmo, não queria que o filho descobrisse de sua mentira. Um simples desregular no batimento de seu coração seria o suficiente para seu segredo ir por água à baixo. Bateu na porta levemente, abrindo-a devagar.

Viu o arroxeado sentado na cama, abraçado aos joelhos, com a cabeça baixa. Seus soluços baixinhos era o único som que podia se escutar do menino. Shouta respirou fundo antes de sentar-se ao lado do roxeado, com o tom de voz mais manso que conseguiu, perguntou: ㅡ Como foi?

ㅡ Terrível. ㅡ Sussurrou depois de conseguir estabilizar a respiração. ㅡ Eles tentaram me matar. ㅡ Seu tom mudou para decepção. ㅡ E quem é maluco o suficiente para comer pão recheado de alho?

ㅡ Que nojo. ㅡ O Conde fez uma careta mesmo que o filho não olhasse para ele. ㅡ Minha alergia ataca só de pensar.

ㅡ A minha também. ㅡ Respirou fundo antes de finalmente fazer contato visual com o pai. ㅡ Me desculpe por ter duvidado de você. Nunca mais vou tentar sair.

O homem trouxe o menor para um abraço apertado. Um sorriso mínimo apareceu em seu rosto. ㅡ Tudo bem, vampirinho. Prometo que vou fazer seu aniversário de cento e dezoito anos ser o melhor de todos. E não esqueça que logo poderá abrir o presente que a mamãe te deu.

ㅡ O que será que é? ㅡ Perguntou olhando com seus olhinhos curiosos para o Drácula. ㅡ Estou ansioso.

ㅡ Eu também não sei, pequeno. ㅡ Acaricia os fios púrpuras do garoto. ㅡ Irei chamar seus amigos aqui. Mas antes, olha o que eu trouxe. ㅡ Diz tirando um pirulito de aranha, o doce favorito do filho, do bolso. ㅡ Papai não gosta de te ver tristonho. Eu te amo.

ㅡ Eu também te amo, pai. ㅡ Sorri de uma maneira fofa pegando o doce da mão do homem.

[☆]

ㅡ Foi tão horrível assim? ㅡ Todoroki pergunta ao amigo que estava sendo abraçado por Deidara, esse que dizia estar o protegendo das maldades do mundo. O roxeado apenas assentiu aproveitando o carinho no cabelo que recebia do loiro.

ㅡ Sabe uma coisa que irá te animar? ㅡ Kirishima pergunta sorridente. ㅡ Dançar. ㅡ Disse e ligou o rádio, colocando numa música agitada. O moreno logo começou a encenar como se estivesse num show, fazendo movimentos exagerados arrancando risos dos amigos. O sentimento de felicidade que Eijiro passou foi tão forte que logo todos estavam dançando e pulando enquanto fingiam estar em um show.

Deku e Bakugou subiram em cima da cama e fingiram tocar guitarras, Sero estava tocando sua bateria imaginaria, enquanto os outros cantavam com suas vozes desafinadas, Shinsou e Todoroki apenas se mexiam no ritmo da música, as vezes rindo alto pela idiotice dos amigos.

[☆]

ㅡ Drac. ㅡ Masaru chamou-o assim que lhe viu nos últimos degraus da grande escada. ㅡ Como foi com Hitoshi?

ㅡ Péssimo. ㅡ Resmungou. ㅡ Vou ver se alguém precisa de ajuda, depois nos vemos no bar do Shigaraki? ㅡ O homem lobo apenas assentiu antes de se retirar.

O barulho da porta de entrada soou, assim que os olhos de Aizawa bateu no ser que havia acabado de chegar, memórias passaram por sua cabeça: a morte de Emi, o choro de Hitoshi. A única coisa que fez foi rosnar antes de usar sua velocidade vampiresca para o encurralar na parede. Sua sorte é que não havia ninguém por ali.

ㅡ Quem é você? ㅡ A raiva em sua voz ocultou o medo que sentia. ㅡ E como achou esse lugar?

ㅡ Meu nome é Denki ㅡ o garoto falou. ㅡ, eu tava por aí escalando com uns brothers. Aí alguém me falou de uma floresta sinistra, e quem não se amarra em florestas sinistras? Aí eu vi uns caras muito malucos colocando fogo numas casas ou sei lá o quê, daí segui eles até esse castelo maneirissímo.

"Mas juízo, nada de fogueira e nem fogos de artifício." Yagi tinha lhe avisado, como foi tão burro? ㅡ Quantos vieram com você?

ㅡ Ninguém. ㅡ Deu de ombros. ㅡ Eu prefiro viajar na minha, rola sempre uma galera legal nos albergues sabe? E por falar em "legal", essa sua capa tá irada! Isso é uma festinha a fantasia?

ㅡ O que eu fiz? ㅡ Sussurrou para si ignorando o que o humano falava. ㅡ Se te virem a segurança do hotel estará comprometida. Ninguém voltará. Você precisa ir embora. ㅡ Disse puxando o garoto para fora, antes de dar mais um passo viu alguns monstros caminhando até o castelo. ㅡ Ferrou. ㅡ O vampiro leva novamente o mundano para dentro do hotel, escondendo-se com ele dentro de um quarto de limpeza que havia abaixo das escadas.

ㅡ Que massa. ㅡ Denki murmurou antes de ir vasculhando o local. ㅡ Esse quarto tá meio fraquinho pra um castelo, e sem cama, mas essa pázinha de lixo é maneira. ㅡ Diz brincando com a pá de cabeça de esqueleto.

ㅡ Se Hitoshi te vir, ele saberá que eu menti. ㅡ Murmura apavorado, tinha de levar o humano embora antes que descobrissem.

ㅡ Quem é Hitoshi? ㅡ Perguntou curioso. ㅡ Esse quarto é dele? 'Tá tranquilo, tenho um irmão e sei dividir na boa. ㅡ Antes de voltar a falar sentiu o homem pegar sua mochila num movimento bruto. ㅡ Ei, me devolve.

ㅡ O que você trouxe? ㅡ Pergunta ainda ignorando o humano. ㅡ Estaca? Alho? - Se sente confuso ao pegar um aparelho, havia fios conectado a ele. ㅡ O que é isso? Um instrumento de tortura? Um mecanismo controlador de mentes? Você jamais vai ler meu pensamento.

ㅡ Cara, isso é música. ㅡ  resmunga antes de colocar os fones nos ouvidos do vampiro, ligando a música estilo eletrônica novamente. Aizawa tirou os fios de suas orelhas rapidamente ao ouvir o primeiro barulho sair deles. ㅡ Esse som é irado, não seja careta.

O vampiro apenas o ignorou. Ao notar isso, Kaminari volta a mexer nas tralhas que haviam no quarto, vendo algumas roupas que foram esquecidas pelos primeiros monstros que um dia dormiram no hotel e nunca voltaram para pegar. ㅡ Olha quanta fantasia maneira tem aqui. ㅡ O loiro olhava cada coisa com um sorriso no rosto.

Ao ouvir a palavra "fantasia", Shouta brilha os olhos, como não pensou nisso antes? Ninguém repararia em Denki se ele estivesse vestido como um monstro.

[☆]

Os dois sairam do quartinho de limpeza, Aizawa segurava Kaminari pelos ombros. O garoto olhava para todos os monstros maravilhado com as "fantasias" que usavam.

ㅡ Sou da turma do Frankenstein! ㅡ O loiro exclamou de repente. Enquanto isso Aizawa tentava passar despercebido pelas pessoas. ㅡ Sou demais. Ih, a galera caprichou mesmo nas roupas. ㅡ Shouta quase esbarrou no garoto quando esse parou num baque, mas ao notar que em sua frente estava Jean-Jacques Leroy, o cozinheiro, seu coração desparou. ㅡ E aí cara, beleza?

O homem apenas ignorou o louro, virando e curvando-se ao mestre. ㅡ Senhor, os dedos de lagarto estão prontos. ㅡ Falou, estava orgulhoso de seu trabalho. Mas Aizawa apenas se irritou.

ㅡ Dedos de lagarto? ㅡ Perguntou furioso. ㅡ Eu pedi patê de sapo! ㅡ O filho do corcunda apenas bufou e voltou à cozinha junto de seu "fiel" escudeiro. Quando o Conde virou-se novamente ao loiro, percebeu que a via o perdido. ㅡ Denki?! ㅡ Irritado, seguiu em busca do humano.

Enquanto isso, Kaminari observava atento cada pessoa naquele salão, ao chegar perto de um esqueleto, e ao perceber que dava para passar a mão por dentro de sua "fantasia" - e de quebra ter levado um soco pelo marido da mulher esqueleto. -, finalmente entendeu o que estava acontecendo. A cada lugar que olhava havia um monstro diferente por perto, começou a desesperar-se mais ainda ao ver um cérebro flutuante vir em sua direção.

O loiro - gritando - saiu correndo, nem notou quando "roubou" uma vassoura voadora de alguma bruxa e começou a sobrevoar o hotel, só voltou a si quando sentiu seu corpo se chocar com alguém, ambos acabaram rolando escada abaixo.

Gemendo pela dor de cair uns cento e quarenta e cinco degraus abaixo, seus olhos cruzaram com os de um garoto - aparentemente normal - de cabelos roxos e grandes olheiras.

A última coisa que sentiu foi suas íris queimarem, uma sensação de conforto e proteção atravessou por seu corpo e seu coração acelerou por alguns segundos. Não sabia o que havia acontecido, mas tinha certeza de que queria sentir novamente.

Primeiro Ato || ShinkamiOnde histórias criam vida. Descubra agora