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Acredito em você.

Estou sentada na mesa junto com Mary, Bash e Gilbert, quando a namorada dele chega. Ela fixa os olhos em mim, e com passos apressados, vai até Gilbert lhe dando um beijo na boca bem intenso.

Sinto minhas sobrancelhas unirem, tento disfarçar mas é impossível. Era óbvio que o motivo de toda aquela cena era a minha estadia na casa.

— Bom dia Ruby — disse Mary — se quiser se juntar a nós para tomar café.

— Não, obrigada — ela se ergue e ajeita a postura impecável.

Analiso-a, curvas discretas, rosto com poucos sardas, olhos azuis, cabelos loiros longos e com cachos a partir dos ombros. Um sorriso florescente de tão branco.

— Sou Ruby Gillis — ela estende a mão para mim.

Pisco, não estava preparada.

— Sou Anne Shirley — lhe dou a mão.

O ar fica tão denso que sinto meus ombros pesados.

— Eu não lhe contei antes Ruby, pois sei que como é costume você passar aqui pela manhã, sabia que a encontraria. — Gilbert de justifica — ontem a tarde eu a atropelei, ela quebrou a perna e agora está sem uma casa.

— Que pena — ela diz — mas você sabe que ela não poderia ficar aqui.

— Por que não? — Mary se intromete — desde que sei, temos muitos quartos disponíveis, até Anne se recompor, sua perna sarar e ela arrumar um emprego, ela pode ficar.

— Bash? — Ruby desvia os olhos para ele procurando refúgio.

— Eu concordo com a Mary — ele ergue os ombros — Gilbert a deixou nesse estado, ela precisa de um ombro amigo.

— Bom dia meus amigos — Cole entra na cozinha, imediatamente faz um sorriso um tanto cínico quando sente a tensão que estamos — Gilbert, eu te espero no carro.

Em segundos ele some.

— Gilbert, precisamos conversar a sós!

O casal sai em disparada para outro cômodo.

— Ele não vai mudar de ideia, Anne —  diz Mary — não se preocupe.

— Se ele decidiu que você vai ficar, você vai ficar e nada e nem ninguém vai faze-lo mudar de ideia. — Bash se levanta, da um beijo em Mary e sai.

— Vocês moram aqui?

— Sim, Gilbert não tem família — diz Mary — o conhecemos quando ele tinha dez anos e ficou órfão. Éramos amigos do pai dele, depois que ele se foi, Gilbert herdou toda a fortuna. Vimos que ele tinha talento, e investimos nele, e agora ele está no auge.

— Queria ter tido a mesma sorte — sorrio torto — bom, eu também sou órfã, e quando sai do orfanato, fui direto para casa de um garoto que morou comigo lá também. Dizíamos que éramos espíritos perdidos em busca de se encontrarem. Eu estava com ele, nós nos relacionamos, e depois de um tempo, ele começou a mostrar quem verdadeiramente era, me ofendendo, traindo, me humilhando.

— Sinto muito.

— Oh, não sinta. Tudo que vivi com ele foi o suficiente para me mostrar que as pessoas são superficiais, ninguém conhece o interior de ninguém. Acho que, será difícil eu tornar a amar alguém, ou que alguém vá me amar.

— Eu não posso concordar com isso. Quando a pessoa certa aparecer, posso dizer com plena convicção que você se sentirá amada, compreendida, transbordante.

— É bom conversar com alguém que não te chame de burra, incapaz. — mordisco uma torrada — é bom pensar que existem pessoas boas como você no mundo.

Ela se levanta e delicadamente me abraça.

— Acho que vou ter que te mostrar ainda mais — ela sorri.

. . .

Passei o dia procurando um lugar para ficar, mas eu não tinha condições ainda de sair da casa de Gilbert. Não tinha sequer condições para comer.

A batida oca na porta me tira de minhas pesquisas.

— Licença — a voz de Gilbert invade meus ouvidos, encaro-o.

— Toda — digo — fico feliz em saber que aprendeu a pedir para invadir um quarto.

— Se eu peço, não é invasão — seus olhos se unem e ele afina os lábios.

— Tem razão — respondo de imediato — e então, sua super namorada decidiu que eu devo ir?

— Ela não manda em mim — ele da uma gargalhada profunda — acho que você ainda não entendeu que o dono da casa sou eu.

— Talvez eu tenha entendido.

— Amanhã, você inicia amanhã o seu trabalho como minha fotógrafa.

— E você vai me levar para o estúdio em uma cadeira de rodas?

— Vou te levar em uma montanha, você vai tirar foto da paisagem.

— Um teste?

— Sim, preciso ter certeza de que você realmente tira fotos.

— Já sei, sua namorada o convenceu de que eu posso estar mentindo?

Ele ergue os ombros.

— Você não é tão machão quanto pensei — falo sem pensar — sem ofensas, mas sua namorada faz isso porque está com ciúmes.

— Ciúmes de você? — ele morde o lábio — desnecessário — caçoa.

— O quê é que tem de errado em mim? — me sinto ofendida.

— Estou brincando — ele solta um sorriso cínico — acho que qualquer garota em sua sã consciência teria ciúmes de você. O seu único erro, é não ter erro nenhum.

Meu coração acelera.

— Você é muito atrevido.

— Você não viu nada — ele coça a nuca — então, aceita o teste amanhã ou não?

— Eu não tenho escolha — ergo os ombros. — agora, até amanhã.

Movimento os braços para que ele saia.

— Até amanhã, ruivinha.

Sorte a nossa - Songfic SHIRBERT Onde histórias criam vida. Descubra agora