Capítulo Um

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Verão, 1817

— Eu não quero que vá. — a mulher de cabelos cor de fogo disse enquanto deslizava a ponta do dedo sobre o peito desnudo do amante.

— Já é tarde, irei a pé. — Simon levantou da cama, vestindo a camisa branca. Procurou pelas calças que na pressa de um desejo quente foi jogada a qualquer canto.

A mulher, ainda completamente nua, ficou de pé, esperando que sua nudez despertasse algo no homem. Mas ele nem a olhou, já tinha conseguido o que viera buscar, e tudo que restava era apenas o desinteresse da parte dele, que a aquela altura já estava calçando as botas e indo em direção a porta do quarto.

— Foi convidado para o baile de lady Jane? — perguntou ela, tentando pela última vez chamar sua atenção.

De costas para ela, o conde pensou por um momento.

— É certo que sim. Não entendo o motivo de ela ter me convidado, não tenho uma boa fama. — respondeu sem dar-se ao trabalho de olhá-la.

Ele passou pela porta e foi até as escadas, onde desceu devagar devido a escuridão, não querendo causar alvoroço na casa, e acordar os criados. Sabia ser discreto quando necessário.

— Boa noite, senhor. — era o mordomo, parado a sombra da porta, como se esperasse que ele passasse ali.

Simon respondeu baixinho, devolvendo o cumprimento.Saiu da casa para a noite quente de Londres, notando um grande movimento de pessoas para aquelas horas, perguntando-se se havia algum evento naquela noite, e que não fora convidado.

Ele não se importava, tudo que desejava era chegar logo em casa, e deitar-se, quem sabe assim a incessante dor de cabeça passasse. Naquela noite, o que buscara era prazer, para que de alguma forma aplacasse a angustia que sentia. Mas o resultado era mal, e agora o que ele sentia era uma vontade grande de deixar tudo para trás, e sumir pelo mundo, como se aquilo fosse capaz de resolver. Sabia que não resolveria nada, e que tudo voltaria ao início causando ainda mais dor. Ele era refém daqueles sentimentos desde que sua esposa morrera naquele terrível acidente, e depois disso deixara de viver, apenas arrastando-se, sem qualquer ânimo.

Mas havia o pequeno Charlie, seu filho, que no meio dos momentos de dor era como um bálsamo, acalentando seu coração. Ele não sabia dizer o que seria dele sem o pequeno, e como teria agüentado tudo aquilo. Ele somente não conseguia se aproximar da criança, que tinha um pai distante. Acreditava que as coisas simplesmente tinham que acontecer e não havia nada que pudesse mudar o curso do destino.

Basta aceitar, pensava ele.

Naquela noite de céu estrelado, ele seguiu rumo a sua casa, que agora já não estava longe. Mas parou ao ouvir gritos de mulher, e virou-se para o lado, buscando na escuridão de onde vinha aquilo. Avistou duas mulheres lutando contra um homem, que tentava pegar a bolsa de uma delas. Não pensou duas vezes ao correr até lá, e com destreza, puxar o ombro do homem, dando-lhe um soco quando ele virou-se.

— Mas o quê? — o homem disse cambaleando.

Quando o homem se aproximou, pronto para atacá-lo, ele desferiu mais um soco, e em seguida segurou-o pelo colarinho, ergueu-o, e jogou-o no chão, deixando-o imóvel.

— Me acompanhem, senhoras. — Simon falou, indicando para que as duas se afastassem do homem.

— Muito obrigada, meu senhor. Não sabemos como agradecê-lo corretamente. — a mais jovem explicou.

Ele tentou ver melhor a imagem da jovem, mas a escuridão não permitia. Ele contentou-se com a voz suave nos seus ouvidos.

— Não se preocupem com isso. Era meu dever ajudar, senhoras. Mas evitem andarem desacompanhadas a esta hora.

O calor dos teus beijosOnde histórias criam vida. Descubra agora