ainda um Jeon

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                  "Todos os caminhos estão errados quando você não sabe onde quer chegar." ~ William Shakespeare

 
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  Meu pai me empurra agressivamente para dentro de casa, de modo que eu cambaleio para trás, quase caindo no chão, sua mão forte finalmente deixando o meu braço. Passo a mão pelo local o qual ele estava apertando, sentindo uma terrível queimação e uma pontada de dor ali. Tenho certeza de que a marca de seus dedos ficaram impressas em minha pele depois.

  — Você... — ele grita, e a palavra fica solta no ar, esperando um término, mas acho que ele não sabe bem o que dizer, a boca aberta meio torta e as veias aparentes na pele pálida de seu pescoço sendo uma prova de que ele está prestes a explodir.

  Meu pai quase bate a porta no rosto de minha mãe, que vem logo atrás de nós, o rosto vermelho e desesperado molhado por lágrimas de preocupação, ou talvez sejam de medo. Ela passa pela porta sem fechá-la e corre para ficar entre nós dois bem no momento em que meu pai se aproxima de mim, com o punho fechado e a expressão irada no rosto.

  — Por favor, Jonghyun, você precisa se acalmar e... — ela começa, chorosa, mas é interrompida pelo muro que ele dá na parede.

  —Me acalmar?! — meu pai solta um berro, incrédulo. — Você viu o que aconteceu, Jaehwa. Viu o que agora toda a cidade pensa sobre nós! E tudo isso por culpa... — seus olhos recaem sobre mim, o que faz com que eu instintivamente me encolha, sentindo-me minúsculo em sua presença. Acho que nunca alguém me olhou com tanta repugnância quando meu pai está me olhando agora. — por culpa do nosso filho.

  A palavra "filho" sai tão amarga de sua boca que minha mãe olha rapidamente em minha direção, pois sabe o quanto aquilo vai me afetar. Engulo em seco, sentindo um nó cada vez maior se formar em minha garganta, mas me mantenho de pé, pensando em uma maneira de tentar me explicar, de fazer com que ele não se sinta culpado por algo que ninguém deveria sentir culpa...

  — A gente pode conversar sobre isso mais tarde, meu amor. Você está muito nervoso agora. — minha mãe continua, com a voz mansa, as mãos passeando delicadamente pelos braços do marido, num carinho gentil. Só esse gesto já faz com que meu pai pareça bem mais calmo. — E então eu e Jeongguk poderemos explicar para você e...

  — O quê?! — ele franze o cenho, o corpo e a expressão rígidos novamente, e ele se afasta de minha mãe. — Como assim "eu e Jeonggguk"? Jaehwa, você... — sua voz falha, e parece muito que ele acabou de tomar uma flechada do seu companheiro de guerra. — você sabia?

  Minha mãe fica quieta, encarando-o sem saber o que dizer, as lágrimas já quase escassas sobre seu rosto pálido. Observo a cena de uma parte de toda a fidelidade que eles construíram ao longe de vinte e dois anos junto se despedaçar como uma folha seca, e não sou capaz de fazer nada, a terrível sensação de ser o responsável pela destruição da minha própria família, a que eu sempre fui ensinado a respeitar e a amar, atingindo-me em cheio.

  Eles ficam mais um tempo quietos, apenas encarando um ao outro, como se estivessem se comunicando de um modo que dispensa o uso de palavras. Enfim, meu pai balança a cabeça e passa pela minha mãe, com o semblante extremamente magoado, como se toda aquela raiva tivesse, de repente, evaporado de seu corpo. Minha mãe permanece quieta, observando-o parar ao meu lado, evitando olhar diretamente para mim.

V— Quero você saiba que essa é a maior decepção que eu poderia ter em toda a minha vida. — ele murmura, os olhos ainda distantes. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, e estendo a mão na intenção de tocá-lo, mas ele se afasta, como se repelido pelo meu toque; como se repelido por mim.

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