você é um

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                "Deve ser estranho viver comigo. É estranho pra mim." ~ Charles Bukowski

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  Olho para o pequeno papel amassado em minhas mãos novamente, para ter certeza de aquele é realmente o lugar, mas o endereço está certo.

  Amasso novamente o papel e o enfio no fundo de meu bolso. Olho mais uma vez para a casa em frente a mim, respirando fundo. É um lugar decrépito, quase caindo aos pedaços. Não se difere muito do resto daquela vizinhança; aquele lugar é conhecido por abrigar os operários das fábricas no entorno de Jayu, o bairro mais precário dessa pequena cidade.

  Caminho até a porta da frente e a madeira velha da varanda range sobre os meus pés. Me olho mais uma vez num espelho pequeno pendurado ao lado da porta e ajeito a máscara em meu rosto. Devo estar parecendo muito suspeito, com essa roupa e capuz pretos, e uma máscara tapando metade de meu rosto, mas ninguém sabe que eu sou o Nagareboshi, e é melhor que continue assim.

  — Já vai! — uma voz feminina e fraca responde do outro lado da porta.

  Em poucos segundos, uma mulher de aparência cansada e alguns fios cinzas atende a porta. Ela parece surpresa ao me ver, mas menos do que eu achei que ficaria.

  — Posso ajudar? — ela pergunta, e eu abro a boca para falar algo, mas me dou conta de que não tenho muita certeza do que estou fazendo. — Está procurando por alguém?

  — Mãe, pode deixar que eu atendo. — bem nesse momento, um Hoseok sorridente e de pijama aparece à porta. Ele beija a testa de sua mãe, que é bem mais baixa que si, e olha para mim com um grande sorriso no rosto.

  Ok, acho que eu ficaria mais aliviado e menos confuso se fosse um trote.

  — Você é o Nagareboshi, certo? — ele pergunta e eu assinto, engolindo em seco. Ajeito a máscara novamente em meu rosto, por reflexo. — Trouxe o que eu pedi?

  Assinto e lhe entrego o papel que vim carregando nas mãos até aqui, com medo de amassar. Tenho vergonha em dizer que não me empenhei muito nesse desenho, mas vamos ser sinceros: aquela mensagem mais parecia uma brincadeira. Ainda não consigo entender que o cara com um sorriso largo e rosto gentil na minha frente é o mesmo Jung que se gaba por prender alunos no armário na escola.

  — Está perfeito! — ele exclama, com os olhos iluminados, o sorriso ainda mais largo estampando-lhe os lábios. — Espero que, com isso, ela se lembre de quem era, ou até mesmo quem eu sou. Ainda tenho esperança de uma cura para o Alzheimer dela.

  Ele encara o desenho por mais algum tempo, o semblante mais triste que antes, porém o sorriso nunca deixando o seu rosto. Encaro-o enquanto milhares de perguntas se passam em minha cabeça: Se ele mora aqui, o que era aquela casa? Por que ele está sendo tão gentil? Quem é a namorada que ele falou? Preciso morder os lábios para que nenhuma dessas perguntas escapem, e o Jung torna a olhar para mim, entregando-me uma cédula de vinte.

  — Espero que seja o suficiente. É tudo o que eu tenho no momento. — assinto e ele ri. — Você não fala?

  Dou de ombros, dando um sorriso mínimo, embora eu saiba que ele não vai conseguir ver. Hoseok me agradece mais uma vez e me dá as costas, porém hesita e me encara novamente, o cenho levemente franzido.

  — Desculpe, mas nós nos conhecemos? — há certo receio na voz dele, como se a ideia de eu saber quem ele é fora daqui o assustasse.

  Balanço a cabeça no mesmo instante, negando. Hoseok me fita por mais algum tempo, a expressão ainda desconfiada, como se estivesse tentando se lembrar onde viu os meus olhos. Por fim, ele balança a cabeça e me dá um sorriso pequeno, voltando para o interior da casa e trancando a porta.

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