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  A senhora Kim solta uma risada sarcástica, como se o fato de eu ter vindo até sua casa e, o pior, ter falado com ela, fosse uma espécie de desafio. A mulher me encara por mais um tempo, julgando-me de cima a baixo. Eu desvio o olhar, envergonhado. Ela percebe o gesto, e acho que isso faz com que perceba que eu não vim até aqui travar nenhuma guerra, porque ela enfim diz:

— O que você quer aqui, Jeon? — seu tom de voz é cansado, e aposto que ela mal pode esperar pela hora que eu sairei dali.

— O Taehyung está em casa? - pergunto, de uma só vez. Se eu esperasse mais um segundo sequer, sei que eu vacilaria.

Ela me fita por um tempo, um sorriso divertido surgindo em seus lábios. Por algum motivo, ela acha a situação engraçada.

A senhora Kim dá uma tragada em seu cigarro e diz, com um desprezo abjeto: — Por que saberia onde o bosta do Taehyung está?

A frieza de suas palavras me pegam de surpresa e eu fico boquiaberto por um tempo, pensando no que dizer. Ela nem sequer o chama de "filho".

Taehyung sempre me contou sobre como a senhora Kim o tratava, como se ele não fosse nada além de um encosto em sua vida, e eu nunca duvidei de suas palavras. Ainda assim, era estranho imaginar aquela mulher linda e com um sorriso atrevido, que conquistava todos os moradores de Jayu, dizer as coisas que ela dizia para o seu próprio filho. Mesmo quando eu próprio as ouvia sem querer, deitado em meu quarto, me perguntava se não era tudo um delírio, porque o fato é que ela simplesmente fingia muito bem.

Mas acho que ela já não precisa mais fingir, pois não tem medo de detoná-lo na minha frente.

Vendo que eu estou hesitante ante ao que ela disse, a mulher revira os olhos e diz, já fechando a porta: — Você está me fazendo perder meu precioso tempo, pirralho.

— Não, calma! — seguro a porta, desesperado. Ela olha para mim com uma das sobrancelhas erguidas, curiosa pela minha reação. Com um tom de súplica, digo:  — Por favor, senhora Kim, eu preciso saber onde Taehyung está. Eu não o vejo há uma semana, e ninguém sequer faz ideia de onde ele possa ter ido. Eu tenho medo de algo ter acontecido com ele, e...

— Ah, agora eu entendi tudo. — a mulher me interrompe, com um sorriso malicioso nos lábios. Ela aproxima-se de mim e diz, com uma expressão de quem acabou de descobrir um baú cheinho de ouro: — Você só o está procurando porque sabe que, se algo tiver acontecido, a culpa é sua. Você só não quer viver uma vida inteira tendo que carregar a culpa de tê-lo ferido. Rá, isso é tão típico de um Jeon, sempre se preocupando com a sua própria imagem...

E então, ela dá mais uma tragada, a fumaça batendo em meu rosto. Sinto algo em meu peito, enquanto eu penso que essa mulher não sabe de absolutamente nada. O fato de a senhora Kim não ter o mínimo apreço pelo filho a impede de imaginar que talvez outras pessoas o tenham.

— Estou fazendo isso porque eu o amo.  — respondo, firme. Ela revira os olhos e dá mais uma tragada em seu cigarro.

- O ama tanto que simplesmente o deixou por causa do seu enorme orgulho.

- Você fez isso a sua vida inteira! - rebato, com um ódio cada vez maior crescendo dentro de mim.

- Mas eu nunca havia lhe dito o contrário, Jeongguk. Eu sempre deixei claro para o Taehyung, desde pequeno, que ele não passava de um encosto em minha vida. Eu o teria abortado se tivesse conseguido. - ela fala isso com tanta naturalidade, com tanta indiferença, que eu começo a me culpar por não ter percebido antes a pessoa horrível que ela é. Eu deveria ter ajudado os seus filhos antes.

Aliás, eu sempre soube que a senhora Kim era uma péssima pessoa, mas demorei a perceber que Taehyung não é, e nunca foi, como ela.

- E você? - ela encosta o dedo fino no meu peito, uma das sobrancelhas arqueadas. - Agia como se o amasse, como se fosse sempre estar lá por ele. Deixa eu te perguntar uma coisa, Jeon: Você está lá por ele agora?

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