CAPÍTULO I

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Feyre

   Completavam-se dez anos depois da guerra contra Hybern. Anos estes que foram conturbados, porém, finalmente houve um acordo, agíamos como se ainda houvesse uma muralha. Os Feéricos e Grão feéricos não iam para as terras mortais, e para que isso não fosse burlado, cada Grão Senhor disponibilizou guardas para cuidar do local onde a muralha se encontrava. Por não confiar em nós, alguns humanos mudaram-se para os reinos mortais, porém, conseguimos viver em harmonia, o que fora decidido foi respeitado.

   Mas não era a paz que eu desejava. Desejava uma paz com um povo unificado, onde Humanos, Feéricos e Grã-Feéricos estivessem unidos, como Miryam e Drakon conseguiram em Cretea. Ao menos, o que foi decidido depois de muitas reuniões e discussões era melhor que nada, e tudo estava indo bem, talvez a situação mudasse com um pouco mais de tempo. Não agora, obviamente, mesmo dez anos tendo se passado, as marcas da guerra ainda estavam presentes, todos se reerguiam à sua maneira, alguns indo mais rápido que outros. Outros apenas não tentavam.

   Dispersei-me de meus pensamentos com Amren estalando os dedos em frente do meu rosto, pisquei algumas vezes para recobrar minha atenção na pequena anciã que se encontrava sentada á minha frente na mesa.

— No que tanto pensa Feyre? Está parada aí olhando para o nada já faz alguns minutos. — Amren indagou, resultando numa risada de Cassian e Mor, que também estavam a mesa conosco. Era cedo, e estávamos tomando café da manhã, estariam todos reunidos se não fosse por Rhys e Lucien não estarem conosco, Rhys se encontrava na Corte Diurna resolvendo assuntos com Helion. Algo como uma movimentação em Hybern os deixava preocupados. Já Lucien, não sabia onde estava, já era para ele estar aqui, visto ter o costume de vir tomar café conosco.

— Não é nada de mais, apenas um breve devaneio — Disse, ajeitando-me na cadeira.

— Breve? Eu lhe chamei três vezes, e você continuou olhando para o nada feito uma tonta — Nestha disse arqueando uma sobrancelha enquanto me olhava, batendo as unhas na mesa impaciente. Assimilei seu olhar com um mar acinzentado revolto, com grandes ondas.

   O barulho de assas tomou meus ouvidos, pensei ser Rhys a princípio, porém, sua proximidade pelo laço não apareceu, então ao olhar para a janela, pude ver uma enorme Águia com penas brancas parada no jardim do qual Elain cuidava e gostava — Era realmente belo, Rhys conseguira flores diversas, e quando as recebeu, Elain brilhava em alegria e desde de então, se dedicava a deixá-las sempre bonitas e com os mais gostosos perfumes — Olhei para todos confusa, sendo respondida com os mesmos olhares, nunca vi nada como aquela Águia em meu tempo como imortal.

   Meu olhar passeou por todos em busca de respostas. Azriel colocou a mão em sua cintura acima de uma adaga, enquanto Cassian se mantinha alerta. Amrem olhava para a janela, observando a Águia que olhava diretamente para mim, era como se houvesse apenas eu em seu campo de visão.

— Vamos ver o que é aquilo, fiquem aqui e a qualquer sinal Mor, atravesse e chame por Rhys — Cassian disse olhando para ela que apenas assentiu, Amren ficou entre minhas irmãs e me olhou, ela iria protegê-las se algo acontecesse.

   Olhei para Cassian e Azriel que me deram um breve aceno com a cabeça, eu iria com eles mesmo que não assentissem. Andei até eles, fomos até a porta de entrada para o Jardim abrindo-a em seguida. Cassian segurou o cabo de sua adaga, resultando num afastamento da Águia. Ela continuava a me olhar, até que abaixou a cabeça em direção a sua pata direita. Segui para onde olhava, sua pata continha um recipiente cilíndrico negro com pequenos adornos em dourado amarrado. Parecia um recipiente para pergaminhos.

   Olhei para Azriel para sinalizar que me aproximaria e com isso fui me aproximando devagar da grande ave, que não fez nada quando cheguei bem perto, não como fez ao ato de Cassian, era como se minha presença não lhe afetasse como a dos dois Illyrianos. Fui em direção a sua pata e desamarrei o recipiente gentilmente, afinal, não tinha dúvidas ao olhar suas garras que se a ave me atacasse causaria um grande estrago. A águia se afastou e continuou me encarando, observei suas características com clareza por estar bem perto, ela era belíssima, as penas brancas azuladas pareciam se mesclar ao cinza, que no que lhe concerne era como metal polido e brilhava com a luz solar que lhes batia, seus olhos eram negros com um rodeado amarelo vívido e levemente alaranjado na íris, eles me encaravam como se pudessem enxergar as partes mais profundas do meu ser.

   A águia era maior que eu, ao menos duas vezes maior, e era simplesmente majestosa. Me aproximei da mesma em passos calmos, levantando uma de minhas mãos. A ave continuou me encarando, então ela abaixou a cabeça, aproximando-a de minha mão estendida, fazendo-me tocar seu topo. Estava surpresa pela textura de suas penas, elas eram suaves e macias, e as partes onde julguei serem feitas de metal polido eram ainda mais macias, tive a sensação de estar tocando em algodão. Após ter essa sensação maravilhosa em minha mão, a ave se afastou, fez o que pareceu ser uma reverência e tomou voo, subindo aos céus. O vento feito por suas asas puxaram meus cabelos para frente de meu rosto.

Corte de Luz NebulosaOnde histórias criam vida. Descubra agora