Hidrofobia

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Queria não ter que me preocupar com nada por um tempo, as coisas não estão... Indo muito bem, para não ser dramática demais. Considerando os últimos e-mails que recebi e as coisas horríveis que eles trouxeram, tentei desligar as notificações e me focar no meu trabalho.

Todavia, aqui estamos.

Assim que o relógio indicou meia-noite em ponto a notificação apareceu, por um momento senti meu corpo tremer. As duas últimas vezes em que esses e-mails misteriosos chegaram e eu os ignorei, a culpa que me atingiu, e ainda atinge, foi maior que o medo. Não saber à tempo resultou em consequências que eu não podia prever ou impedir, consequências que ainda terei de lidar.

Desta vez eu o abri o mais rápido que pude.

"30 de Novembro.

Olá, professora, já faz um tempo.

A última vez em que nos vimos foi em outubro, após o funeral do seu primo, quando você deu sua última aula de produção escrita para a nossa pequena turma. Você nunca foi muito sociável conosco, eu sei que uma professora de renome não precisava tratar amadores como nós com gentileza, ainda mais estando na sua própria casa. Estávamos te pagando para que nos ensinasse a ser um pouquinho como você então era natural que fôssemos inferiores, era o que eu dizia para mim mesma.

Contudo, naquele dia nos tratou com menos frieza, eu me lembro bem do olhar triste e assustado em seu rosto, sempre indo para o seu telefone como se esperasse por uma notícia ruim. Estava tão bonita naquele dia e foi tão gentil comigo, mesmo quando eu era completamente incapaz de compreender as regras que nos ensinava.

Preciso confessar que não era uma matéria tão difícil, eu só sou uma garota idiota e que se distrai facilmente... Principalmente quando há uma mulher tão linda na minha frente. Naquele dia, você sorriu para mim, mesmo estando tão triste, e disse que se eu precisasse de algo poderia te enviar uma e-mail.

—A partir de hoje não somos mais aluna e professora, pode me considerar uma amiga. — Você disse e o fez somente para mim.

Não te vi falar nada para nenhum dos outros antes de saírem e achei que significava algo a mais.

Achei que gostasse de mim também.

Estava tão feliz que saí de lá saltitando, é meio embaraçoso contar isso, mas é a verdade. Peguei dois ônibus e caminhei seis quarteirões com o sorriso mais idiota de todos em meu rosto. Minha amiga me recebeu em sua casa com um olhar divertido.

Nós nos conhecemos há tantos anos que ela já sabia o que significava, então me deu uma leve cotovelada e riu.

—Finalmente conseguiu dar em cima dela? — Zombou —Seis meses de curso e só se deu bem no último dia?

—Eu não me dei bem... Ainda. — Sorri um pouco maliciosa —Ela me passou o e-mail dela, disse para considerá-la uma amiga.

—Dália, meu anjo, eu sinto muito. — Tocou meu ombro.

—Não! Você não entende, ela disse isso só para mim! — Apontei para mim mesma animada —Rayssa, ela quer manter contato comigo e mais ninguém!

Ela riu novamente e me puxou para dentro.

Era um dia bem quente de outubro, mesmo já sendo fim de tarde a temperatura se aproximava dos trinta graus. Rayssa sempre gostou mais do frio do que do calor, algo que não podíamos concordar nem mesmo com muita briga. Por isso, enquanto eu me trancava em quartos quentes e confortáveis escrevendo para passar o tempo, minha amiga estava sempre na água.

—Encontrei essa piscina, gigantesca, não muito longe daqui. — Contou animada enquanto lanchávamos —Ela fica trancada, mas não tem segurança alguma e há uma passagem por trás--.

O QUE OS OLHOS NÃO PODEM VER - CONTOS DE TERROROnde histórias criam vida. Descubra agora