O Stalker

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"Eu sempre quis ser um detetive, investigar e resolver crimes, encontrar respostas para os mistérios mais intrigantes, mas ser um detetive não é fácil. Por isso me envolvi com a escrita, talvez ser um repórter saciaria meu desejo por mistérios. Então quando você reparou na minha habilidade, não pude evitar ficar feliz, "Foi para isso que eu nasci", foi o que eu pensei.

"Meu destino" começava com esse trabalho simples.

—Eu contratei alguém para encontrar um lugar específico, que me parecia perigoso, mas não deu muito certo. — Você explicou antes da última aula —Então o que eu posso fazer é te pedir para ficar de olho na sua colega, algo ruim vai acontecer com ela e não sei outra forma de impedir que isso aconteça.

—Algo ruim?

—Eu recebi uma informação... sobre um armazém abandonado em uma parte isolada da cidade, um lugar perigoso que a amiga dela tem frequentado. — Parecia ansiosa —Só fique de olho nela e na amiga também, se encontrar o tal lugar ou se elas forem para lá, me informe.

Não parecia um trabalho tão difícil, ainda mais quando eu estava sendo pago para fazê-lo. Garantir que uma das garotas mais novas de nossa turma não se envolvesse em perigo, observar e relatar o que ela fazia. Não cabia a mim perguntar o porquê de uma professora se interessar assim pela vida de uma aluna.

Mais uma vez, eu estava sendo pago para isso e parecia muito divertido.

Então eu o fiz, assim que a aula acabou saí de sua casa e me escondi atrás de uma árvore esperando que a garota saísse também. Ela demorou um pouco mais que os outros alunos, saiu saltitando como uma idiota. Dália, nos seis meses que estudamos juntos nunca cheguei a falar com ela, era jovem e estúpida. Sempre atrapalhava as aulas com perguntas idiotas e te forçava a repetir o mesmo conteúdo algumas vezes.

Assim como os outros, ela não parecia possuir habilidade para escrita, só gosto. Não era como eu e você, professora, era ingênua demais. Nem mesmo percebeu que estava sendo seguida, então não me importei em manter distância.

Foi até a casa de uma amiga e ficou algum tempo por lá, tirei fotos e anotei o endereço, e esperei. As duas saíram quando o sol já estava quase se pondo, sua amiga era uma garota estranha, longos cabelos escuros emaranhados e uma pele tão clara que eu podia ver suas veias do braço com clareza. As segui até uma área mais remota da cidade, não havia muito por ali além alguns condomínios afastados e ruas desertas.

Sem carros ou pessoas, era como andar por uma cidade fantasma e ainda sim, de alguma forma, eu as perdi de vista.

Desviei o olhar por um segundo e elas tinham desaparecido.

Procurei por todos os lados e não encontrei ninguém, me lembrei da descrição que me deu de um armazém onde eu poderia encontrá-la, mas também não fui capaz de achá-lo em lugar algum. Não havia nada ali, nem ninguém à quem eu poderia pedir alguma informação.

Acabei desistindo quando a noite finalmente havia caído, o céu escuro e nublado tornava aquela região um pouco assustadora. A única iluminação nas ruas provinha das janelas dos poucos prédios e casas da área.

No entanto, não havia som algum.

O som natural da cidade parecia ter sido abafado.

Nenhum cão latia.

Nenhuma pessoa falava.

Nem carros podiam ser ouvidos à distância.

Demorei a notar que tinha prendido minha respiração instintivamente, como se tentasse acompanhar a quietude daquelas ruas.

O QUE OS OLHOS NÃO PODEM VER - CONTOS DE TERROROnde histórias criam vida. Descubra agora