O QUE OS OLHOS NÃO PODEM VER - CONTOS DE TERROR

Sete Palmos

[N.A: Recomendo que leia "Olhos de Peixe" e "Procurado" antes de ler esta história]

"18 de Outubro, 9h32.

Bom dia, senhorita, por meio deste e-mail nós do 13° distrito lamentamos informar que a investigação do caso por trás dos assassinatos que seu primo é suspeito será prolongada por tempo indeterminado. Sabemos que está internada e não pode vir refazer seu depoimento, então enviaremos um oficial para recolhê-lo pessoalmente. Considerando a gravidade da situação, não podemos esperar que se recupere para retornar a nos auxiliar. 

Segue um pequeno relatório dos acontecimentos desde o início da investigação e urgimos que mantenha essas informações em sigilo até que o caso seja fechado.

1- Entre os dias 20 de Setembro e 02 de Outubro deste ano, cerca de vinte pessoas foram dadas como desaparecidas por toda a cidade, principalmente nas áreas do mercado central, da orla e do parque municipal.

2- No dia 02 de Outubro, os vizinhos do suspeito, seu primo, entraram em contato com a policia para reclamar de gritos vindos de sua casa. A intervenção policial resultou na descoberta do cadaver do suspeito e do que mais tarde foram comprovados serem os restos mortais dos desaparecidos. 

3- Não há evidência física de que o suspeito tenha cometido os assassinatos, com exceção dos olhos das vítimas e do tapete ensanguentado. Não encontramos seus corpos nem possíveis armas utilizadas durante os assassinatos, a autópsia também não foi capaz de nos dar muitas informações. 

4- Uma análise dos e-mails enviados por ele antes de se suicidar determinaram que seu primo estava passando por algum surto psicótico, talvez devido ao estresse do trabalho. Sem testemunhas ou provas concretas, o caso estava destinado a ser abandonado. No entanto, na noite de ontem, 17 de Outubro, os restos mortais das vítimas foram roubados e o corpo de seu primo foi exumado.

Por sorte, os guardas do cemitério chegaram a tempo de assustar os culpados e o corpo não foi levado. Estamos cientes de que a senhorita possui um álibi concreto, então não precisa se preocupar em estar na nossa lista de suspeitos. 

Mais uma vez, lamentamos informá-la da situação desta forma.

Ass. 13° Distrito Policial."

"19 de Outubro, 18h00.

Boa noite, sou o Cabo Fernandes, um dos oficiais encarregados da vigia da sepultura de seu primo. Estarei relatando, como pedido, quaisquer mudanças ou novas ocorrências no caso durante meu período de vigia. Por favor, me contate com dúvidas e questões e mantenha todas as informações em sigilo absoluto até novas ordens."

"20 de Outubro, 00h.

Nenhuma nova ocorrência ou mudança, ninguém sequer se aproximou desta ala do cemitério desde que cheguei. Não há sequer um som que me passe despercebido e mesmo que passe, há outros três policiais rondando a área, armados e com lanternas. Faremos o possível para garantir que aqueles que tentaram saquear o túmulo de seu primo sejam pegos e levados à justiça."

"20 de Outubro, 02h30.

O chefe do Distrito me disse para deixá-la tão informada quanto um de nossos companheiros, então me perdoe o número excessivo de e-mails. Sei que não foi capaz de vir visitar a sepultura depois do ocorrido, então sinto que devo descrever como está no momento. A lápide foi quebrada e a grama que a cobria foi revirada e cavada, também abriram duas outras valas ao lado para despistar. 

Seu primo retornou para seu lugar de repouso e foi coberto com terra mais uma vez, no entanto as valas ao redor ainda estão abertas e com caixões expostos. Os coveiros prometeram organizar tudo amanhã pela manhã antes que a mãe do suspeito, sua tia, venha visitá-lo. Não podemos proibir a visita de familiares e amigos, mas preciso avisar... A cena não é das mais bonitas e não vai se tornar melhor.