Park 51.

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Alexandria Woods.

Eu nunca havia saído da Carolina do Norte. Para ser mais específica, eu nunca havia saído de Charleston. Me pergunto o que os meus antigos amigos pensariam ou falariam, caso vissem que eu construí a minha vida ali, na cidade que crescemos e sempre estudamos juntos, depois de planejar sair e conhecer o mundo. Bom, eu nunca o fiz. Me perguntava o que Clarke pensaria.

Suspirei pesado, levantando daquela poltrona velha e surrada. Passei a noite toda escrevendo mais alguns capítulos do meu terceiro livro. Confesso que levar a vida de escritora era algo que eu imaginava sim, mas não daquelas que fica no topo assim que lança o seu primeiro livro e no segundo cai rapidamente. Talvez isso tenha feito com que eu quisesse dar um tempo, mas não poderia fingir que não tinha uma vida, sozinha. Ou eu me virava ou eu me virava, não haviam outras opções.

Depois que meus pais faleceram, há alguns anos, logo após o término do ensino médio, me vi obrigada a arrumar um emprego e correr atrás das minhas responsabilidades. Isso explicava muita coisa, muitas mesmo. O fato de não ter ido para a faculdade, o fato de alugar uma casa em um bairro longe da casa dos meus pais para não ter que olhá-la todos os dias. Doía, mas não como na noite que aconteceu.

Olhei pela janela da cozinha, gostava da forma como minha casa era repleta de árvores e bem pertinho de um lago. Além de conseguir ver algumas crianças brincarem por ali naquela manhã de sábado, acabei lembrando que Raven havia me chamado para ir até uma cafeteria mais tarde e pelo o que me lembro, concordei em ir. Gostava de colocar o papo em dia com meus amigos, mas nesse caso, era apenas uma amiga. Não que eu precisasse de mais, pelo contrário, Raven era uma ótima pessoa e eu não a trocaria por nada. Mas como o cansaço estava me vencendo pela maldita insônia naquela noite, optei por dormir um pouco, assim não ficaria exausta na hora de encontrá-la.

Subi as escadas sutilmente, e mesmo assim, conseguia ouvir o ranger por onde eu pisava. O bom de Charleston, é que as casas eram sempre bem aconchegantes, por mais que fossem antigas. Talvez eu gostasse, ou apenas teria me acostumado ao passar do tempo.

Deitei na cama de casal, que mesmo de um tamanho normal, parecia maior do que nunca. Minha respiração pesava e enquanto meus olhos fitavam o teto repleto de estrelas que eu mesma havia colocado, esqueci completamente de me cobrir e antes que me desse conta, apaguei.

Acordei com meu celular vibrando sem parar em cima da escrivaninha. De primeira eu resmunguei, mas lembrei do que tinha marcado e então levantei com um pulo. Peguei o celular e contavam com mais de sete ligações perdidas de Raven. Queria me bater naquele momento, odiava me atrasar. Pensei em ligar para me desculpar e dizer que já estava a caminho, mas foi em vão quando o telefone tocou novamente em minhas mãos, qual eu nem pensei duas vezes antes de atender.

Raven? Olha, me desculpa! Eu acabei dormindo e perdi a noção do tempo. Já estou chegando, tudo bem? Só preciso tomar um banho. — Falava sem respirar, afim de quebrar qualquer resquício de raiva e bronca da mais nova. — E nem venha me dizer que você já foi embora, porque não foi! E se foi, vou na sua casa lhe buscar.

Tudo bem, Woods. Só venha logo, antes que lote. É um sábado! — Ela quase gritou no telefone comigo, desligando antes que eu pudesse me defender ou dizer mais alguma coisa.

Eu acabei soltando uma risada com o tom de Reyes. As pessoas que olhassem de fora, achariam ela uma pessoa grosseira ou até rude demais. Mas eu poderia provar que não tinha nada disso em Raven, pelo contrário, sua companhia me ajudou muito nesses últimos anos e só eu sei o quanto ela se importava comigo, como eu também me importava com ela.

In My Head.Onde histórias criam vida. Descubra agora