In My Head.

Lembranças.

Octavia Blake.

Passei o dia todo completamente mal-humorada e eu sabia muito bem o porquê. Estava com saudades de conversar com Raven e eu tinha consciência de que ignorar não era algo legal, mas foi preciso para que eu não acabasse sendo grossa e gerasse outra briga. Lembrar que ela achava Lexa a única certa, me irritava. Assim como me irritava também ela crucificar Clarke com unhas e dentes, então era bem compreensível a minha atitude. Mas tinha noção que não podia continuar desse jeito até que voltasse de Nova York. Que tipo de namorada eu seria por estragar as coisas mais ainda? Exato, uma namorada idiota e que a deixaria ainda mais preocupada por não dar notícias.

Respirei fundo, encarando o número dela na tela do celular. Já era entediante ficar naquela casa sozinha durante os dias, não precisava piorar isso ficando sem conversar por telefone também. A verdade é que eu sentia muito a falta dela, mas nunca falaria isso até que fosse o dia de buscá-la no aeroporto. Pois tinha noção de que se dissesse essas palavrinhas, ela pegaria o primeiro voo para Charleston e apareceria em casa de surpresa.

Eu ri sozinha pensando naquilo, andando até um mural de fotos nossas, tinham tantas. E era Raven que tirava todas, já que eu, particularmente, odiava. Mas sempre fazia esse esforço para deixá-la feliz. Na verdade, eu faria qualquer esforço por ela, sem nem pensar duas vezes. Segurei uma das fotos, sentando na cama com calma e tendo uma lembrança muito boa daquela fotografia em que estávamos segurando taças de vinho e ela beijava minha bochecha com vontade. Meu sorriso era imenso e eu nunca esqueceria o motivo dele.

— Ok, sabe o que isso pede? — Raven disse em um tom animado, quase dando pulos em direção a cozinha.

— O quê? — Foi impossível não rir com aquela empolgação toda e tudo porque eu havia me mudado definitivamente para Charleston.

— Comemoração! — Ela abriu o armário da cozinha e segurou uma garrafa de vinho. — Qual é, eu vou ter a minha namorada perto de mim agora, acho que isso merece um vinho, não?

Levantei do sofá com um sorriso no rosto, parando em frente ao balcão e apoiando meus braços no mármore. Quase que sai um 'não' da minha boca, mas seria por não precisar de nada além dela ali comigo. Estava feliz por saber que Raven me queria por perto, estava feliz por ver um sorriso enorme e sincero em seu rosto. E tudo por minha causa. Como pode? Ela gostava tanto de mim ao ponto de não querer e nem conseguir esconder isso mais.

— Tudo bem, acho que podemos tomar uma taça, vai. — Acabei cedendo, desta vez escorando minha cabeça em uma das minhas mãos, enquanto a olhava pegar um saca-rolha e ficar, pelo menos, uns quinze segundos só tentando descobrir como funcionava. — Isso se você conseguir abrir.

Ela me olhou e revirou os olhos. — Engraçadinha. — Enfiou o objeto na boca da garrafa, como se soubesse o que estava fazendo.

Enquanto fazia todo um esforço para tirar aquela rolha no intuito de jogar na minha cara que conseguia, eu prestava atenção em cada detalhe dela. Os cabelos soltos e ondulados, os olhos espremidos com os lados enrugados por fazer força e finalmente abrir aquela garrafa. Uma imensidão de castanhos, que agora me encaravam outra vez, eles pareciam sorrir também. Sorrir para mim. Além do sorriso contagiante e mais bonito que já tive a sorte de ver na vida, daqueles que traziam uma felicidade verdadeira e me faziam sorrir também. Involuntariamente. Sem que eu percebesse.

— Viu só? Eu consegui abrir. Mereço um parabéns por isso. — Ficou na ponta dos pés para alcançar as taças em um outro armário.

— Eu amo você.