Sentimos quando é o certo.

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Clarke Griffin.

Naquele dia eu acordei mais tarde que o normal, provavelmente por não ter conseguido pegar no sono rápido, mesmo depois de ter enviado uma mensagem de boa noite para Lexa. Ajeitei as poucas roupas que tinha na mochila dentro do guarda-roupa e pensei o quanto eu precisava fazer compras urgentemente ou eu não teria o que vestir daqui uns dias. Era estranho morar em uma casa novamente, era estranho não ter que ficar o dia todo na estrada e era mais estranho ainda ter afazeres depois de um ano. Confesso que não tive muitas pessoas com quem conversar durante as viagens que fiz, tirando com quem passei uma noite apenas ou desconhecidos que estavam na mesma vida que eu, nada que durasse mais de quinze minutos. E aí eu percebi o quanto a estrada pode ser um tanto quanto solitária, mesmo você se acostumando depois de um certo tempo. Talvez fosse por esse motivo que pensamentos ruins sobre amizades passadas atormentavam minha cabeça, dizendo que nada seria como antes. Não sei de onde tirei coragem para chamar Alexandria para um piquenique, mas já tinha feito. Eu não queria pensar na possibilidade dela ter aceitado só por não querer ser rude ou grossa, mas a insegurança rondava a minha cabeça o tempo todo, me enchendo de negatividade e coisas que eu sabia que não era verdade. De qualquer forma, não tinha como voltar atrás e eu não queria, porque não me sentia como a única tentando recuperar algo perdido.

Conseguia sentir o cheiro de comida da porta do meu quarto, deduzindo que meus pais estivessem em casa. Desci as escadas rapidamente, sabia que não podia perder tempo, ainda mais por imaginar que já era de tarde e o que eu tinha marcado com Lexa estava próximo. Entrei na cozinha, apenas abrindo um sorriso e indo até a geladeira. Já que Woods levaria sanduíches, eu faria questão de procurar algumas frutas, biscoitos e compraria uma limonada no caminho para o parque.

Mãe, a senhora tem alguma cesta de piquenique? — Perguntei, ainda com a minha atenção na geladeira.

Tenho, está ali no armário. Vai fazer um piquenique, é? — Disse, mas eu sabia que sua pergunta não era essa.

Sim, às três. Tenho que levar algumas frutas e biscoitos.

E vai sozinha? — Meu pai permaneceu em silêncio, mas eu sabia que ele estava prestando mais atenção do que nunca.

Não, marquei com a Lexa. — Virei, fechando a geladeira e indo até o armário. Percebi a cara de paisagem dos mesmos, como se estivessem tentando decifrar quem fosse Lexa.

Quem é essa?

Lexa, mãe. Alexandria Woods.

Meu Deus, e ela ainda mora por aqui? Faz anos que não aparece. Depois que seus pais morreram ela ficou semanas trancada dentro de casa e quando deu dois meses, arrumou tudo e foi embora.

Parei por alguns segundos, apenas imaginando como tinha sido tudo pra Lexa ou como estava sendo. Eu não tinha ideia do que havia acontecido com seus pais, não sei como foram aquelas duas primeiras semanas sem apoio nenhum e nem o motivo de ter se mudado pra tão perto. Na verdade, no lugar dela, eu não sei o que faria se perdesse os meus pais, mas com certeza partiria para longe.

Sim... Ela mora aqui perto, quer dizer, no outro bairro. — Deixei a cesta em cima do balcão e voltei a procurar coisas que eu pudesse levar.

Um silêncio estranho surgiu. Eu até pensei em perguntar o que havia acontecido com os Woods, mas se meus pais não quiseram se pronunciar, é por que talvez fosse um assunto delicado demais. Pensei também que, se eu quisesse saber, deveria escutar isso da boca de Alexandria.

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