Antes

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 " Eu peguei o anel sobre a mesa, sentindo o peso absurdo na minha palma.

  Logo o Martim-pescador voltaria e Nikolai e eu partiríamos para Ravka Oeste. Nessa época, Maly e sua equipe estariam a caminho do Sikurzoi. Era assim que devia ser. Eu havia odiado a vida na corte, mas Maly a desprezara. Ele se sentiria igualmente péssimo fazendo a guarda nos banquetes em Os Kervo.

  Se fosse honesta comigo mesma, poderia ver que ele tinha se animado desde a nossa partida do Pequeno Palácio, mesmo no subterrâneo. Ele tinha se tornado um líder por conta própria, encontrado um novo senso de propósito. Eu não podia dizer que ele parecia feliz, mas talvez isso viesse com o tempo, com a paz e uma chance de futuro.

  Nós encontraríamos o pássaro de fogo. Enfrentaríamos o Darkling. Talvez até vencêssemos. Eu usaria o anel de Nikolai, e Maly seria realocado. Ele teria a vida que deveria ter, que ele poderia ter tido sem mim. Então por que aquela faca continuava girando entre minhas costelas?

  Deitei na minha cama, a luz das estrelas penetrando pela janela, a esmeralda apertada em minha mão.

  Mais tarde, nunca saberia se tinha feito aquilo deliberadamente, ou se por acidente, meu coração machucado puxando aquela corda invisível. Talvez apenas estivesse cansada demais para resistir ao puxão.

   Eu me encontrei em uma sala turva, olhando para o Darkling.

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  Ele estava sentado na beirada de uma mesa, a camisa embolada sobre o joelho, os braços erguidos sobre a cabeça enquanto a forma vaga de uma Curandeira Corporalnik entrava e saía de foco, cuidando de um corte sangrento no flanco do Darkling. Pensei de início que poderia estar na enfermaria do Pequeno Palácio, mas o espaço estava escuro e borrado demais para eu saber.

  Tentei não notar sua aparência, seu cabelo despenteado, o topo sombreado de seu peito nu. Ele parecia tão humano, só um garoto ferido na batalha, ou talvez ao treinar. Não um garoto, lembrei a mim mesma, um monstro que tinha vivido centenas de anos e tirado centenas de vidas.

   Sua mandíbula enrijeceu enquanto a Corporalnik terminava o trabalho. Depois de a pele ser unida, o Darkling a dispensou com um aceno. Ela pairou ao redor brevemente, depois foi embora, desaparecendo no nada.

  "Tem uma coisa que venho me perguntando", disse ele. Nenhum cumprimento, nenhuma introdução.

  Eu esperei.

  "Na noite em que Baghra contou o que eu pretendia, na noite em que fugiu do Pequeno Palácio, você hesitou?"

  "Sim."

  "Nos dias após a sua partida, chegou a pensar em voltar?"

  "Cheguei", admiti.

  "Mas escolheu não voltar."

  Eu sabia que devia ir embora. Devia pelo menos ter ficado calada, mas estava tão cansada, e parecia tão fácil estar ali com ele.

  "Não foi só o que Baghra me contou naquela noite. Você mentiu para mim. Você me enganou. Você... me atraiu." Seduzindo-me, me fez desejar você, me fez questionar meu próprio coração.

  "Eu precisava da sua lealdade, Alina. Precisava que estivesse ligada a mim por mais do que dever ou medo." Seus dedos testaram a carne onde havia existido a ferida. Restava apenas uma vermelhidão suave. "Há rumores de que o seu príncipe Lantsov foi avistado."

  Eu me aproximei, tentando manter minha voz casual. "Onde?"

  Ele olhou para cima, seus lábios se curvando em um sorriso sutil. "Você gosta dele?"

Light and Dusk- an alternative ending for the grisha trilogyOnde histórias criam vida. Descubra agora