Capítulo 2 - A Morte Certa

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Capítulo 2 – A Morte Certa

- Ela está morta? – Posso sentir o desespero de John em sua voz. Pai, não acredito que está aqui. Queria muito te ver.

- Senhor...

- Pode me chamar de John.

- John. Kate está morta sim. Eu e meu irmão estamos tão arrasados quanto o senhor... – Eu estava ouvindo o pequeno discurso de Adrian sobre minha morte. John começara a chorar.

- Por que ela morreu? O que ela tinha?

Adrian tentara explicar o que aconteceu comigo. Inventou que eu tinha uma doença rara e que eu morreria em pouco dias. Pai, eu não estou morta! Eu queria que você pudesse me ouvir, só estou em coma, mas consigo escutar todos. Adrian e Will disseram que fariam meu funeral. Nunca imaginei-me em um caixão.

- John, você quer que façamos tudo agora? – Perguntou Adrian.

- Tudo o que? – John dizia fungando o nariz. Parecia ainda não acreditar em minha morte. Meu pai deve estar arrasado. Sei que não posso sentir muita coisa, mas é como se uma agulha espetasse meu coração. A dor de ver meu pai indo ao meu funeral.

- O funeral.

- Ah... Eu cuido disso.

- John permita-me fazer isso, eu gostava da Kate.

- E eu também! – Escutei Will dizer. Fiquei pensando se meu pai suspeitaria que os dois gostassem de mim. Meu Deus e agora? Ele não sabia disso.

- Bem, eu não estou muito bem para fazer isso. Ficarei muito agradecido, mesmo.

- Não precisa agradecer. – Disse Will.

Adrian combinou com John que meu enterro seria mais tarde. John concordou e pediu que só a família fosse ao funeral, depois resolveu ir embora. Will ofereceu uma carona, mas meu pai recusou. Disse que gostaria de caminhar até chegar em casa, enquanto ia pensando sobre tudo o que aconteceu. Não consigo pensar em como meu pai contará a Grace o que aconteceu comigo. Imagine como ficarão as minhas irmãs. Maisie era a mais nova e era uma das que gostava mais de mim. As vezes pedia para que eu lesse para ela ou que contasse alguma história. Ela ficará destruída emocionalmente. O coração dela não vai aguentar e eu também não. Não suportarei.

Eu acho que Will estava ao telefone. Não ouvi a voz de Adrian. Estava falando algo sobre caixão. Em instantes, ouvi um barulho de carro e alguém tocou a campainha. William atendeu. Mesmo eu estando no quarto, eu conseguia ouvir tudo o que todos diziam. Senti mãos frias pegando-me e eu sabia que era Adrian, Will estava lá em baixo.

- Kate, isto está sendo tão difícil para mim. – Disse com uma voz baixa. Eu sei como se sente Adrian, está difícil para mim também. Queria muito que pudesse ouvir-me, mas não pode. – Um último beijo antes de estar definitivamente morta. – Adrian beijou-me por alguns breves segundos. Ainda pude sentir um pouco do calor de sua boca quando encostara-se à minha. Desceu as escadas. Pôs-me em uma caixa, estava sentindo frio. Agora acho que estou sendo levada para o local de meu enterro, sinto uma movimentação. Devo estar em um carro.

Finalmente a movimentação parou. Agora sinto que estou sendo carregada – estando dentro do caixão – para a minha cova. Após algum tempo, ouço várias pessoas chorando, minha família. John disse algumas palavras, provavelmente o que eu estava mais apto a realizar o feito. Escuto Grace e as minhas irmãs chorarem. Maisie está soluçando, está chorando escancaradamente e parece não respirar muito. Maisie, pobre Maisie. Sua irmã é mais forte do que parece, não estou completamente morta.

Amélia agora está dizendo poucas coisas de mim. Está tão arrasada quanto às outras. Amélia, você é a mais velha, então cuide das outras por mim. Espero que John – sendo o mais forte da casa – consiga consolar a todas.

Bem, este é o meu fim. Não pensei que morreria por causa de um vampiro – até descobrir que vampiros existem. Passarei segundos, minutos, horas, quem sabe quanto tempo dentro deste caixão até estar verdadeiramente morta, até não sentir nem mesmo a luz quente do dia em meu rosto, até não poder ouvir mais ninguém. Tudo se tornará escuro. Tudo se tornará escuridão. Mais escuridão do que a própria em que permaneço.

Estando nesta cova, não tenho mais nada a esperar a não ser a morte. Já vivi, amei, sorri, brinquei, fiz tudo o que eu queria e podia ter feito. Só preciso esperar a morte. Espero que ela venha ligeira, mesmo em coma, sofro com as lembranças. Penso em todos que amo que agora estão sofrendo. Apenas quando e somente quando cair no esquecimento, saberei certamente que não pertencerei mais ao mundo dos vivos, saberei certamente que estou morta.

Anoitecer (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora