Tolices

3.9K 211 98
                                    

Assim como muitos garotos de sua idade, Harry tinha o desejo desesperado de perder a virgindade. Todos os seus amigos já tiveram suas experiências, todos, sem exceções. Até o mais magrelo, nerd e desprovido de beleza de sua sala, se gabava por ter passado uma noite de sexo louco com a garota da banda do colégio. Tudo bem que dito cujo deu uma enfeitada no pavão; o sexo nem foi tão louco assim e a garota envolvida passou a atravessar a rua sempre que ele aparecia em seu caminho e ameaçava esfregar no asfalto a cara de qualquer pessoa que toque nesse assunto com ela. Mas, o que importa é que a virgindade não era mais um problema para ele, enquanto Harry seguia como alvo de piadas em sua sala.

Era o último ano dele no ensino médio regular e como não pretendiam fazer faculdade, tendo assim que cursar mais dois anos de estudos avançados, Harry e seus amigos estavam no clima de despedida do último ano estudantil e a ansiedade com o futuro que estava as portas. Alguns já tinham decidido seus rumos - trabalhariam com algo genérico ou na empresa de um parente bem sucedido - outros não faziam ideia, só queriam se livrar da escola. Harry meio que era desse último grupo. A verdade é que ele estava tão focado nessa história de virgindade que não dava para pensar em outras coisas, como carreira, futuro e dignidade. Afinal, por que ele era obrigado a tomar essas decisões definitivas quando nem seus hormônios decidiram parar com a rave frenética dentro dele, pipocando seu rosto de espinhas cabulosas e ereções constrangedoras em lugares impróprios?

E não foi por falta de oferta que o garoto não conseguia resolver seu terrível problema, muito pelo contrário. Aos dezesseis anos, meninas também estão loucas para perder a virgindade e, sem exageros, todas elas se jogaram em cima do garoto. Até as que já não eram mais virgens, porque Harry era tão querido que não havia quem não quisesse ser a primeira. Foram muitas as técnicas: encurtar o comprimento da saia, soltar alguns botões da camisa, usar uma voz mais aveludada, fingir ter gostos em comum com Harry, encurralar o garoto em lugares convenientes ou simplesmente beijá-lo a força e tocar em suas partes, especialmente nas festas onde todo mundo já estava meio louco depois das dez da noite. Entretanto, todas falharam miseravelmente. As desculpas do cacheado variavam entre "aqui não é um lugar apropriado" para "você merece uma primeira vez mais especial". Fofo, não deixava de haver certa verdade nisso, mas não era bem esse o motivo.

E quando começaram a surgir os comentários sobre preparativos para a formatura e o baile, mais ansiosas elas vão ficando e capazes de qualquer negócio para agilizarem o processo de transição entre a fase infantil e a adulta, mesmo que o outono não tivesse chegado nem na metade e a formatura seria só no verão do ano seguinte. Certa vez, uma das meninas mais insistentes encurralou Harry em um canto do refeitório durante o lanche, colocando as duas mãos na parede e deixando o menino entre seus braços, com uma perigosa aproximação de rostos. O lugar estava bem movimentado, mas ninguém impediu que a menina que até então nem fazia nada demais. Ela disse que podiam transar em sua casa, os pais não ligavam, ela tinha uma cama grande, macia e confortável com lençóis de seda e tudo; seu quarto na verdade era uma suite que tinha até banheira, seria perfeito e mágico como Harry dizia ser a forma perfeita de uma menina perder a virgindade. Para todas as sugestões o garoto disse uma desculpa diferente.

- Ai, Harry! Não se faz de difícil! - reclamou sem libertar o garoto - Eu sei que você tá louco pra transar. Por que não comigo?

Nervoso com a insistência constante da garota e já perdendo seus argumentos, Harry exclamou:

- PORQUE EU SOU GAY!

A ideia era só falar alto, mas acabou saindo um grito que se sobressaiu na conversação dos demais. Todos no refeitório pararam de comer, falar, andar, de viver só para encarar o garoto.

- Nossa, Hazz. - ela quebrou o silencio constrangedor tirando também os braços da parede - Era só dizer que eu não faço o seu tipo. Não precisa dizer que é gay só pra me dispensar. Eu hein. - ela o olhou desgostosa e foi embora.

Incondicional (LS|ZM)Onde histórias criam vida. Descubra agora