Ingênuo como um cordeirinho

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As festas caseiras raramente terminavam bem. Em geral eram interrompidas pela policia por causa do barulho ou do forte cheiro de maconha que incomodava os vizinhos, além claro do pessoal sem noção fazendo vergonha porque não sabia beber e/ou fumar um baseado sem fazer papel de ridículo. Aí meia dúzia de adolescentes e jovens eram presos e saiam dias, as vezes horas, depois quando os pais pagavam a fiança. Em tese, o fato de ser preso bastaria para diminuir o ritmo de festas, mas na semana seguinte já circulava o folheto com a hora e o local da próxima. Fica difícil também haver limites quando alguns pais liberam suas casas aos filhos nos finais de semana; segundo eles era melhor uma festa em casa do que nas boates perigosas da cidade.  

Harry até que gostava de uma farra, mas não esse tipo de farra extrema e dependendo de quem fosse o organizador ele nem ia. Naquele final de semana, duas semanas depois do ocorrido no refeitório e tudo mais, ele tinha planos de ir ao cinema ver a estreia de um blockbuster milionário com Liam e Zayn - daqueles filmes de herói que os meninos eram fissurados - mas ao invés disso Liam insistiu forte para que fossem à uma dessas festas. Até onde o cacheado sabia, Liam nem gostava muito dessas festas. Ele passava os finais de semana assistindo namorado competir, indo ao cinema com o namorado, acampando com o namorado, treinando suas habilidades na bike enquanto o namorado treinava com o skate, entrando clandestinamente numa rave proibida para menores com o namorado, enfim, tendo uma vida de casado com o namorado e causando inveja forte em Harry quando saiam os três. Isso porque Liam nem era assumido para o pais e nem poderia.

Enfim, mesmo sem entender o porque de tanta fissura, ele acabou cedendo sob ressalva de que o casal magia não o abandonasse naquela nuvem de maconha e sendo assediado por uma bêbada de topless pra se agarrarem no banheiro dos donos da casa. Liam e Zayn tinham um fetiche bizarro, na opinião de Harry, de transar em todos os banheiros de todos os lugares que estivessem e tirar fotos também. Desnecessário e as vezes nojento, Harry pensava.

Chegaram na casa lá para as dez da noite. Do lado de fora dava para ver luzes coloridas nas janelas dos cômodos, o barulho da musica estava abafado, só deu para terem real noção da altura do som quando entraram na casa e mal conseguiam se ouvir. Tinha gente pra todo lado, entre alunos, formados e penetras, o lugar estava entupido. Meninas dançando na escada, em cima do sofá e as mais baixinhas se aventuraram sobre a mesa da sala de jantar; a bebida estava disposta em caixas térmicas e cheias de gelo espalhadas pela casa. Quem quisesse poderia ir até a cozinha e preparar uma batida mais elaborada, mas corria o risco de fazer isso acompanhado de um casal, que sem pudor nenhum, dava um belo amasso ali mesmo.

A festa nem era de todo ruim. O organizador teve o cuidado de contemplar todas as tribos: na sala de estar deixou o Playstation 3 ligado, no hall ligou o Xbox 360 com kinect em outra tv, nos fundos encheu a piscina colocou algumas bolas e colchões de ar, alem de deixar todos os quartos e banheiro do segundo andar disponíveis. A pessoa quando tem uma casa grande pode se dar a luxos como estes e é garantia de receber pontos de popularidade e carisma na escola. Sendo assim, Harry, que foi se distrair jogando GTA 5 no PS3, não se chateou quando Liam e Zayn se juntaram ao pequeno grupo que compartilhava um narguile, alguns bongs e desapareciam em uma nevoa branca. Pelo cheiro o garoto percebeu que não se tratava de maconha. Devia ser alguma dessas ervas alternativas que Zayn adorava tanto.

Estava a meia hora preso em uma maldita missão que parecia impossível. Toda vez que aparecia na tela a frase “se fodeu” era um xingamento que o cacheado soltava enfurecido. Na quinta vez que o personagem foi alvejado de tiros pela policia, Harry soltou o controle no chão e passou a mão no rosto bufando de ódio.

- Sabe, quando a gente joga para ficar calmo e acaba mais puto do que quando começou é melhor parar. - alguém disse sentando ao seu lado.

O cacheado estava com o “foda-se, vai tomar bem no meio do olho do seu cu” na ponta da língua quando se virou e não mais que de repente em sua barriga acontecia uma festa muito mais frenética do que todas as festas já realizadas em todos os tempos pelos alunos daquele colégio! Era ele. Louis. Sentado ao seu lado. Tão perto que sutilmente deixava as coxas se tocarem, ele nunca fazia isso! Harry foi bastante stalker para saber que Louis nunca encostava em alguém, conversava com poucos, entretanto nunca fazia contato físico. E sorria. Aquele sorriso que poderia curar o câncer. Podem começar as pesquisas que a descoberta será essa com certeza! Por outro lado, receber aquele sorriso e olhar poderia causar um ataque cardíaco nele.

Incondicional (LS|ZM)Onde histórias criam vida. Descubra agora