É impressionante como as coisas funcionam tão bem quando estão na nossa cabeça e saem completamente distorcidas quando são postas em pratica. Até virar a esquina da rua onde morava o mais velho, Harry estava muito confiante, de peito estufado, com um discurso perfeito e bem articulado pronto para sair de sua boca. Era lindo, emocionante, envolvente. Pois bastou ver a casa há poucos metros de distancia, para tudo isso murchar como uma bexiga de aniversário quando soltam a boca e o ar escapa de uma vez só fazendo com que ela voe alucinada pra todos os lados.
Ele parou na metade do caminho, veio um frio louco na barriga, o intestino deu reviravoltas constrangedoras de quem precisa urgentemente de um banheiro, a garganta deu um nó, as mãos suaram. E sobre o discurso? Que discurso? Onde ele estava com a cabeça? Por que Liam o encorajou a fazer tal coisa? Para começo de conversa, como explicar que há pouco mais de um ano sabia onde Louis morava porque o seguiu como um stalker psicopata, e que mais de uma vez ele fez isso?
Deu meia volta. Foi uma ideia estúpida. E se o pai do garoto fosse mesmo um escroto, ficasse bravo com a presença de um estranho batendo na porta deles e descontasse em Louis? Não dava para levar mais essa pra sua conta.
Dois passos e mudou de ideia de novo.
Se não fizesse agora, faria quando? Três dias depois? Na escola? Ah não! Não tinha ido tão longe para voltar atrás agora!
Respirou fundo, estufou o peito mais uma vez e virou na direção da casa. Vamos lá, Harry! Você consegue! Ele dizia para si mesmo. Algumas luzes estavam acesas, dava para ver alguns vultos pelas janelas anunciando que tinha gente ali. A única forma de distinguir a casa de Louis era pelo número, ele morava naquelas vizinhanças onde todas as casas eram iguais e não podiam ser feitas mudanças na fachada. Pelo menos eram adoráveis construções espaçosas o bastante para famílias de classe média. O cacheado se encaminhava para tocar a campainha, mas hesitou logo que parou em frente a porta e ouviu uma briga bem exaltada. A curiosidade o obrigou a continuar ali, apesar da falta de educação e o perigo de ser flagrado.
…
Louis não voltou para casa no dia que apanhou e levou a suspensão. Muito menos no final de semana. A ideia era ficar fora até que os hematomas sarassem. Encontraria abrigo temporário no bordel; a cafetina responsável permitia que os meninos dormissem por lá quando tinham alguma emergência desde que pagassem pela estadia. No caso de Louis, não era a primeira vez que precisava dos “favores” daquela senhora. Eventualmente, quando Troy estava de namorada nova ou quando reatava com Elisabeta - mulher que tinha um relacionamento tempestuoso de idas e vindas e que Louis odiava com todas as forças - ele expulsava o filho para transar em todos os cômodos da casa, inclusive no quarto do garoto, sem ser interrompido. Quando era Elisabeta, ela mesma expulsava Louis depois de uma discussão acalorada sobre quem manda e quem obedece na casa.
Mas, quando havia dinheiro envolvido, Troy abria mão até da mulher mais gostosa do mundo para ter a mão cheia de notas gordas conquistadas pelo filho. O homem tinha pleno controle dos programas que Louis fazia e funcionava assim: 30% ficava com o bordel, 60% com Troy e 10% ia para Louis, isso quando Elisabeta não roubava parte do dinheiro dele para comprar cigarros, maquiagem e apliques pro cabelo. Todos os ganhos de Louis deviam ser repartidos, sem exceções e quando se tratava de um programa mais caro, Troy engordava os olhos e sua obsessão não passava até ter sua parte nos bolsos. Tudo o que Louis conseguiu foi adiar o pior. Passou o final de semana inteiro no bordel; quando Troy ligou perguntando por ele, mentiu dizendo que tinha três programas aquela noite e um fim de semana com todas as horas ocupadas e este aceitou a mentira. Quanto mais dinheiro melhor!
Mas, na segunda feira o celular não parava de tocar. Louis teve de mendigar programas das formas mais humilhantes, inclusive nas ruas e guetos da cidade cheios de pubs, bares e boates LGBT. O dinheiro que levou da noite com Harry não seria bastante para sustentar sua mentira, ele precisava de mais, muito mais. Entretanto, poucos clientes gostavam de garotos com hematomas no rosto e os que pagavam bem queriam para ter um rostinho perfeito e imaculado de garoto inocente.
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Incondicional (LS|ZM)
FanfictionHarry é estudante do ultimo ano colegial e desde os 11 anos é apaixonado por Louis, que estuda na mesma escola. Descobre que ele é um garoto de programa um dia depois de ficar com ele em uma festa. Mas, apesar o coração partido, Harry descobre segre...