CAPÍTULO 25

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          Daniel olhou o cartão que a secretária lhe deram e perguntou:
          - Dr. Guilherme Gouveia. Está aí fora?
          - Está.
          Ficou calado durante alguns segundos pensando. O que um brilhante e famosos advogado, diplomata respeitoso de família muito importante, desejava dele?
          - Mande-o entrar imediatamente.
          Em seguida Elza introduziu na sala um homem alto, elegante, bonito, aparentando cinquenta anos.
Daniel levantou-se para recebê-lo.
          - Doutor Gouveia! Prazer em recebê-lo.
          Depois dos cumprimentos, ele se acomodou na poltrona em frente à escrivaninha de Daniel, que se sentou, também e esperou que ele falasse.
          - É um prazer estar aqui com você. Tenho acompanhado o rumoroso caso que vocês estão defendendo com muito interesse. Há uma semana cheguei ao Brasil. Estava como adido da embaixada brasileira em Bruxelas nós últimos dois anos.
          - O senhor tem prestado inúmeros serviços aí Brasil. Temos acompanhando sua brilhante carreira. É preciso disposição para estar sempre fora do país.
          - Desta vez pretendo ficar mais por aqui. Meu filho mais velho está radicado em Nova York e minha filha, na França. Casaram-se e não dependem mais de mim. Estou com saudade de nossa terra e um pouco cansado de viajar.
          - É uma boa notícia. Em que posso ser-lhe útil?
          - Vim inteirar-me dos detalhes do processo do Dr. José Luís Camargo de Melo. O julgamento já foi marcado?
          - Sim. Será no próximo dia dezoito. Temos apenas mais alguns dias. Por isso é que este escritório está tão movimentado. A imprensa não dá sossego e para trabalhar precisamos de calma. Por isso estamos dificultando o acesso.
          - Entendo. Tenho lido o noticiário, nem sempre claro. Quero sabe tudo a respeito desse caso.
          Daniel remexeu-se na cadeira indeciso. Apesar de ter diante de si uma pessoa importante, sua ética falou mais alto e tornou:
          - Qual é seu interesse no caso? Estaria representando o réu?
          - Absolutamente. Dou-lhe minha palavra de honra que pretendo ajudar a esclarecer plenamente o assunto. E de vital importância para mim conhecer certos detalhes desse processo.
          - Poderia ser mais claro?
          - Há muitos anos conheci o Dr. José Luís e sua esposa. Tenho motivo muito sérios que me fizeram vir até aqui. Para ser mais sincero, foi por causa desse caso que resolvi voltar ao Brasil. Volto a dizer. Pode confiar em mim. Dou-lhe minha palavra de que estou aqui para colaborar com vocês.
          - Nesse caso, vou colocá-lo a par de tudo.
          Daniel relatou como conhecera Alberto, o desenvolvimento do caso que culminou na prisão de José Luís e finalizou:
          - D. Maria Júlia tem sido uma vítima em tudo isso. Mas está difícil provar que ela não foi cúmplice deles. Esse é o ponto crucial que estamos tentando resolver agora. A culpa de José Luís e dos demais está provada. Eleutéria, Bóris, Pola confessaram o suficiente para serem condenados. Mas José Luís insiste em declarar que a esposa era cúmplice, e os outros confirmam. Estamos querendo impedir essa injustiça. O próprio testemunhou a favor dela contando como foi protegido e sustentado por ela. Está difícil entender por que, sabendo de tudo, ela se calou durante tanto tempo, usufruindo da fortuna. Esse fato tem sido explorado pela imprensa, sempre voltada à idéia de atacar os ricos em defesa dos pobres.
          - Ela nunca disse por que se calou?
          - Alega que teve medo. Mas isso não serve de prova na injustiça.
          - Talvez o marido a tenha ameaçado.
          - Foi o que ele fez. Mas quem acreditará nisso? Ela viveu ao lado dele todos esses anos, frequentou a alta sociedade sempre aparentando viver muito feliz. Eles eram até apontados como casal modelo. É o que diz o promotor agora. De fato, não posso negar que essa era a imagem deles até há pouco tempo.
          - Acha que ela será condenada?
          - Receio que sim. Embora com atenuantes no caso de Marcelo, há os outros crimes.
          - Vim procurá-lo porque preciso encontrar-me com ela.
          - Desculpe. Não entendi. O que disse?
          - Preciso encontrar-me com ela. Tentei falar-lhe, mas não quis atender-me.
          - Ela tem vivido reclusa. Não fala com ninguém.
          - É urgente que nos encontremos. Por isso vim procurá-lo. Como seu advogado, penso que poder arranjar isso.
          - Posso tentar. Poderia esclarecer-me o que pretende com isso?
          - Ajudar. Mas preciso conversar com ela. Esclarecer algumas coisas. Convencê-la a se defender. Tenho impressão de que ela está pretendendo punir-se de alguma forma.
          - Sei o que quer dizer. Também tive essa impressão. Guilherme levantou-se, curvou-se para a frente, apoiando-se na mesa, olhou-o firme nos olhos e pediu:
          - Por favor. Arranje um encontro a sós com ela. Se não quiser me receber em sua casa, iremos a qualquer outro lugar. Faça isso e serei grato pelo da vida. Impressionado, Dani respondeu:
          - Vou tentar.
          - Não temos tempo a perder. O julgamento será dentro de alguns dias.
          - Falarei com ela hoje à noite.
          - Agora.
          - Agora?
          - Sim. É urgente.
          - Deixe-me pensar. Terá que ser a sós.
          - Não pode me adiantar o assunto?  O que me pede pode desgostá-la. Vamos fazer o seguinte: vou ligar para ela agora e passar o telefone a você. Posso?
          - Está bem.
          Daniel discou e mandou chamar Maria Júlia. Quando ela atendeu, ele disse:
          - D. Maria Júlia? Tem uma pessoa aqui que deseja muito conversar com a senhora.
          - Quem é?
          - Alguém que deseja ajudá-la. Fale com ele. Guilherme pegou o telefone e disse:
          - Sou eu, Maria Júlia. Guilherme. Voltei ao Brasil assim que soube de tudo. Quero falar com você.
          - Não posso! - respondeu ela emocionada. - O que quer de mim?
          - Esclarecer algumas coisas.  Por favor. Não me negue esse consolo.
          - Por que me procurou depois de tanto tempo? Ninguém pode saber o que aconteceu no passado.
          - Só quero conversar com você. Seus filhos não precisam saber. Daniel guardará segredo. Não pode me negar isso.
          - Tenho medo!
          - Farei o que disser. Tenho que falar com você hoje.
          - Não sei como. Meus filhos estão aqui. Não me deixam sozinha.
          - Fale com Daniel. Ele vai dar um jeito. Passou o telefone a ele dizendo baixinho:
          - Ela aceitará se puder livrar-se dos filhos. Daniel apanhou o telefone e resolveu:
          - Vou cuidar desse assunto. Daqui a pouco voltarei a ligar. Vocês precisam se encontrar.
          Daniel sentou-se pensativo. De repente lembrou-se de tia Josefa. Imediatamente ligou para ela e explicou o que estava acontecendo.
          - Deixe comigo. Vou ligar para Maria Júlia e avisar que irei buscá-la dentro de meia hora. Vocês vêm para cá e quem chegar primeiro espera.
          - Está bem, tia. Obrigado.
          - Estou contente em colaborar. Ele desligou e disse:
          - Tudo resolvido. Daqui a meia hora iremos a casa de minha tia, que está indo buscá-la. Você conseguiu. Guilherme deixou-se cair na cadeira aliviado.
          - Você não avalia o bem que nos fez.
          - Tenho interesse em libertar D. Maria Júlia. Sei que é inocente. Depois, tanto ela quanto seu filho Gabriel ajudaram-nos muito desde o começo, revelando um desprendimento admirável. Chegaram a nós surpreender pelo interesse em fazer justiça mesmo sabendo que além de perderem dinheiro passariam pelo descrédito público.
          - Gabriel sabia de tudo?
          - Não. Quando o escândalo estourou pela imprensa, ele desconfiou e a mãe acabou confessando tudo. Ele nunca se deu bem com o pai. Posso entender. São completamente diferentes. Enquanto um é criminoso e interesseiro, o outro é honesto e desprendido. Guilherme ficou silencioso por alguns segundos, depois disse:
          - Você acha que Gabriel é um bom rapaz, apesar da convivência com o pai?
          - Tenho certeza. É um moço de princípios e muito valoroso. Por isso eu e Rubinho nos empenhamos em defendê-los, para que não sofram mais do que estão sofrendo. Para dizer a verdade, ele nem parece filho de José Luís. Daniel notou que os olhos de Guilherme brilharam comovidos. Ele baixou a cabeça tentando encobrir a emoção. Daniel não se conteve:
          Seu interesse por esse caso, o fato de D. Maria Júlia recebê-lo e tudo o mais está me fazendo pensar que ainda não sei o suficiente. Há alguma coisa a mais. Pode dizer-me o que é?
          - Ainda não. Espero que Maria Júlia concorde, e então vocês saberão de tudo.
          - Devo lembrar-lhe que como advogado dela preciso estar informado de tudo.
          - Concordo. Se não pensasse assim, não teria vindo. Deixe-me falar com ela primeiro, depois voltaremos ao assunto.
          Quando Daniel e Guilherme chegaram em casa de Josefa, ela ainda não havia voltado. Foram introduzidos na sala pela criada, que, orientada, serviu-lhes café com biscoitos. Quinze minutos depois as duas chegaram. Maria Júlia pálida e nervosa. Depois dos cumprimentos, Josefa conduziu-os ao escritório e deixou-os a sós, sentando-se com Daniel na sala para conversar.
          Assim que se viu sozinho com ela, Guilherme disse comovido:
          - Quanto tempo! Lamento o que está acontecendo. Durante todo esse tempo pensei que você estivesse feliz e que José Luís fosse um homem de bem. Porque nunca se comunicou comigo? Não sabe como vivi atormentado este tempo todo.
          - Eu não queria envolvê-lo em mais problemas.
          - Tentei algumas vezes vê-la, à distância acompanhava suas notícias nas colunas sociais. Consolava-me pensando que, apesar de todo o mal que eu lhe causará, você conseguirá vencer e ser feliz.
          - Minha felicidade era de aparência. Uma máscara que eu usava para encobrir a verdade. Agora nem isso tenho mais.
          - Engana-se. Tem seus filhos, tem a mim, que voltei para tentar ajudá-la.
          - Ninguém pode me ajudar. Estou envolvida demais. José Luís me avisa e não tenho como defender-me.
          - Diga a verdade. Conte por que aguentou todas as maldades dele reagir. Maria Júlia tremia nervosa, seu coração disparava e ela não conseguia controlar-se
          - Não posso. Meus filhos ignoram tudo. Já estão desiludidos com o pai. O que será deles quando souberem que eu tenho mentido todo esse tempo? O que pensarão de eu ter me casado carregando no ventre o filho de outro homem?
          - Entenderão por que você se submeteu às exigências de seu marido. Não compreende que essa é a sua defesa diante das acusações que vem sofrendo? Você precisa dizer a verdade.
          - Não tenho coragem. Prefiro morrer.
          - Não permita que a falsa moral que a fez suportar uma situação terrível todos esses anos continue a vitimá-la. Você sempre foi uma mulher de bem, apesar do que houve entre nós. Assim que li nos jornais o que estava acontecendo, deixei tudo e voltei decidido a ajudá-la. Embora não conhecendo detalhes do caso, tinha a certeza de que você nunca teria sido cúmplice de seu marido. Nem por um momento acreditei em sua culpa. A conversa que mantive com o Dr. Daniel mostrou-me que estava certo. Ele me disse que está difícil por que você ficou calada todo este tempo. Eu sei o motivo.
          - Sabe?
          - Sei. Gabriel. Nosso filho. Não foi por isso que se calou? Maria Júlia conteve as lágrimas. Guilherme segurou a mão dela e continuou:
          - Esse canalha deve ter ameaçado você. Ela fez que sim com a cabeça.
          - Por que suportou tudo sozinha e nunca me procurou? Eu a teria defendido.
          - Tive medo. Não queria prejudicá-lo. Você é um diplomata e, depois, tem família. Eu não tinha o direito de envolvê-lo.
          - Agora você precisa contar a verdade no tribunal. Dizer por que se calou. É a maior prova de sua inocência.
          - Não posso. Vão querer saber tudo, você será envolvido. Já pensou o escândalo? Sua carreira irá por água abaixo. E sua família me odiará. Não. Não vou fazer isso.
          - Pois eu vou. Estou disposto a depor em juízo e a contar tudo.
          - Não faça isso!
          - Faço. Há muito me desiludi com a carreira. Estou cansado da hipocrisia dos políticos, dos governos de aparência que se permitem a todos as falcatruas, desde que nada venha a público. Não me importa mais o julgamento das pessoas maldosas que vivem julgando as pessoas para tentar fingir que são melhores. O que conta agora para mim, Maria Júlia, é a minha felicidade, a paz de minha consciência.
          - Você pensa assim, mas e sua mulher? E seus filhos? Eles sofrerão.
          - Minha mulher morreu há cinco anos. Meus filhos casaram-se e vivem em outro país. Mas ainda que eles estivessem aqui eu faria o que estou pretendendo. Sinto dentro de mim a vontade de ser verdadeiro, de limpar minha alma, de fazer o que meu coração sente. Eu preciso apagar um pouco a lembrança do mal que lhe causei, enganando-a.
          Maria Júlia já não tentava conter as lágrimas que desciam por suas faces. Ele continuou:
          - Eu a amava muito. Desde o primeiro dia que a vi, apaixonei-me perdidamente. Meu casamento com Isaura obedeceu mais à escolha da família em um tempo em que eu não sabia o que era amor. Ela foi companheira de infância. Eu gostava dela, nas amor eu só vim a conhecer quando vi você. Sabia que se dissesse que era comprimento você nunca me aceitaria. Por isso a enganei. Estava louco. Queria ficar com você para sempre. Insisti para que fugisse comigo. Mas você não quis e eu não tinha forças para deixá-la.
          - Para que recordar agora todo o nosso sofrimento? Chega!
          - Nunca pude dizer-lhe como me.senti depois de nossa separação. Meu pai descobriu que eu estava apaixonado por você e providenciou para que eu fosse mandado para longe. Eu havia ingressado na carreira diplomática, que sempre fora o sonho dele. Fui embora com a família pensando que ficaria fora dois meses. Entretanto, eles foram me segurando fora. Quando voltei, soube que havia casado com José Luís.
          - Depois que você viajou, ele foi protelando o aborto dizendo que eu precisava tomar alguns medicamentos preventivos. Finalmente se recusou a fazer o que prometera alegando que era tarde demais e que o bebê tinha que nascer. Fiquei apavorada por causa de meu pai. Hoje agradeço a Deus por não termos feito isso. Meu filho e meu tesouro. Mas naquele tempo só pensava em papai. Então ele se ofereceu para casar-se comigo e dizer que era o pai de meu filho. Mesmo sem amor, aceitei. Pareceu-me a única saída.
          - Ele me mandou uma carta dizendo que vocês haviam descoberto que se amavam e que iriam casar-se. Que eu nunca mais a procurasse, porque você não me queria mais.
          - Eu nunca o amei. Também não pensava em procurá-lo. Estava disposta a renunciar a seu amor. Não concordaria jamais em ser apenas sua amante, prejudicando sua mulher e seus filhos.
          - Sofri muito por isso. Mas concordei em me afastar de seu caminho. Acreditei no que ele disse naquela carta. Senti que não tinha o direito de prejudicar mais sua vida. Confesso que foi difícil aceitar isso. E até hoje, quando penso, sinto enorme tristeza. Nunca deixei de amar você, Maria Júlia. Esse amor ainda aquece meu coração. Foi ele que me fez regressar e é por ele que desejo lutar daqui para a frente.
          - Agora é tarde, Guilherme. Apesar de tudo, ainda estou presa a José Luís.
          - É uma questão de tempo. Só uma coisa me interessa. Se disser que ainda resta em seu coração um pouco daquele sentimento que nos uniu um dia, não medirei esforços para conquistar o direito de vivermos juntos para sempre. Diga que não me esqueceu. Diga que ainda gosta de mim.
          Maria Júlia levantou o rosto lavado em lágrimas e olhando-o nos olhos disse emocionada:
          - Esse amor tem sido meu alimento nesta vida. Nos momentos difíceis que tenho vivido, só a lembrança daquele tempo a seu lado me dava forças para suportar a realidade de minha vida. 
          Guilherme não se conteve. Tomando a mão dela, vê-la levantar-se, abraçou-a e beijou-a nós lábios. A princípio delicadamente, depois com paixão.
          Maria Júlia esqueceu tudo. Nos braços de Guilherme, entregou-se aquele sentimento tanto tempo reprimido que tomava conta de seu ser ansioso por libertar-se. Quando se acalmaram, Guilherme disse baixinho:
          - Não se entregue, Maria Júlia. Lute e permita que eu a ajude a libertar-se desse pesadelo. Juntos seremos fortes e venceremos. Ainda temos muitos anos pela frente. Podemos ser felizes.
          - E meus filhos? O que lhes direi?
          - A verdade. Só a verdade. Eles entenderão.
          - Tenho medo.
          - Não precisa. Tenho aprendido que a verdade é mais forte que tudo. Quero que conte a verdade a Gabriel. Ele precisa saber que sou seu pai. Pretendo reconhecê-lo como filho legítimo e oferecer-lhe meu nome e dividir com ele minha fortuna.
          - E seus filhos? Eles podem não gostar.
          - Farei o que acho direito, dia a quem doer. Entretanto meus filhos estão bem de vida e têm fortuna própria. Têm cabeça aberta e muito bom senso. Estou certo de que vão nos apoiar. Mas mesmo que não concordassem eu o faria. Estou disposto a não fazer mais nada contra o que considero verdadeiro e justo. Quem não gostar, paciência. É assim que quero viver daqui para a frente e conquistar a paz de minha consciência.
          Os dois continuaram conversando durante mais algum tempo. Quando eles finalmente saíram do escritório, Maria Júlia parecia outra pessoa. Seu rosto conservava vestígios das emoções emoções que vivera, mas sua expressão era mais relaxada e em seus olhos havia um brilho novo, de vida e de força.
          Josefa fê-los sentar e serviu-lhes chá com biscoito. Foi Guilherme quem falou primeiro.
          - Obrigado por sua hospitalidade. Serei eternamente grato a vocês por haverem nós proporcionado este encontro. Temos muito que conversar. Você fala ou eu?
          Maria Júlia respondeu:
          - Josefa já conhece nossa história. Tem sido minha confidente. Fale você. Daniel precisa saber.
          Guilherme relatou tudo quanto acontecera entre eles finalizou:
          - Como ei previa Maria Júlia viveu a vidas toda chantageada por José Luís. Ele ameaçava a vida de Gabriel.
          Maria Júlia completou:
          - Eu sabia que ele havia assassino o próprio tio, os primos, tentara matar Marcelo sem nenhum remorso. Não duvidava que ele seria capaz de cumprir o que dizia. Todos haviam morrido mesmo, quem lucraria com minha confissão? Preferi preservar a vida de meu filho.
          - Como a senhora deve ter sofrido! - disse Daniel admirado.
          - Estou disposto a testemunhar em juízo e contar a verdade - disse Guilherme. - Faria isso de qualquer forma, ainda que minha mulher estivesse viva. Mas ela morreu. Estou livre. Eu e Maria Júlia nunca deixamos de nos amar. Queremos ficar juntos para sempre. Estou disposto a fazer tudo que for preciso para isso . Se conseguir legalmente, bom. Senão, iremos para outro país onde há divórcio e nos casaremos lá. Temos o direito à felicidade e vamos lutar por ela.
          Josefa levantou-se e abraçou Maria Júlia com entusiasmo:
          - Isso mesmo! Sinto-me feliz por saber disso. Vocês merecem a felicidade.
          - Estou pensando em meus filhos. Laura não vai aceitar.
           - Laura é jovem. Logo encontrará alguém e seguirá deu próprio caminho. Você não está fazendo nada errado. Seu marido será condenado. Mas mesmo que ele estivesse livre você não voltaria para ele depois do que ele fez. Nenhuma lei do mundo a obrigaria a isso. Laura terá que compreender. Se isso, será beneficiada. Poderá viver em um lar feliz e ter proteção e o carinho de vocês até dar um rumo à sua vida. Não prejudique sua felicidade por causa dela. Você já foi muito prejudicada e tem todo o direito de ser feliz. Se ela não puder entender isso ainda, a  vida terá meios de ensinar-lhe o que lhe falta aprender. Um dia  ela compreenderá.
          - Tem razão, tia.
          - Ainda assim, tenho medo. Guilherme é um diplomata. Não posso permitir que se envolva em um escândalo desses. Atrasaria sua carreira.
          Guilherme abraçou-a dizendo emocionado:
          - A carreira não conseguiu me devolver a felicidade. As viagens foram pretextos para fugir do Brasil e para não ver você ao lado de outro homem. Eu imaginava que você o amava e que eram felizes. Isso me entristecia e eu mergulhava mais no trabalho na esperança de esquecer. Agora que sei a verdade, que reencontrei você, que descobri que sempre me amou, não vou perder a chance de ser feliz. Sabia que, aconteça o que acontecer, estarei a seu lado. Nunca mais a deixarei. Isso é tudo que eu quero da vida. O resto não importa. Maria Júlia quis responder, mas não encontrou palavras. Seus olhos encheram-se de lágrimas e seus lábios tremiam de emoção. Daniel não se conteve:
          - Um amor como i de vocês tem força. Tenho certeza de que conseguirão tudo que desejam. Estamos aqui para ajudar no que for possível.
          - Quero testemunhar no processo - disse Guilherme com voz firme. - Vocês, como advogados, devem me orientar.
          - Não precisa. Basta contar os fatos - disse Daniel.
           - Se por um lado eu sentia ciúme, por outro me conformava pensando que eles haviam encontrado a paz. Quando li sobre o escândalo no jornais, fiquei desesperado. Mas só depois, quando percebi que ela estava sendo acusada de cumplicidade, foi que resolvi voltar.
          - Sua presença será de grande ajuda no caso dela - disse Daniel. - Sua coragem de enfrentar tudo e permitir que sua vida íntima venha à tona é admirável.
          - Eu amo essa mulher! Sempre a amei. Saber que ela me ama deu-me forças para enfrentar qualquer desafio. Nós ainda seremos felizes, tenho certeza. Depois que ele se foi, Daniel ficou pensativo.
          - O que foi? Está calado.
          - Pensando na força do amor. Puxa, o que ele faz com as pessoas.
          - É mesmo. Eu faria qualquer coisa por Marilda. E você, o que faria por Lídia?
           - Tenho medo de pensar. A cada dia que passa me sinto mais preso a ela. Tenho a impressão de que agora já não dá mais para tentar escapar.
          Rubinho riu alegre e respondeu:
          - Nós já marcamos o casamento. E você?
          - Ainda não sei. Depois que tudo isto acabar, veremos.
          - O julgamento está marcado para o dia dezoito. Depois da sentença, tudo estará acabado.
          - Parece mentira que conseguimos desvendar tudo isso.
          - Às vezes penso que tivemos muita ajuda espiritual. Você com seus sonhos, as sessões em casa de D. Josefa. Há momentos em que me parece que estamos apenas sendo instrumento das forças superiores. Nunca pensou nisso?
          - Já. Tia Josefa acha que estava na hora de  verdade aparecer. Mas diz que nosso trabalho foi fundamental para que tudo se concretizasse. Se nós não tivéssemos aceitado a causa, talvez eles não pudessem fazer o que pretendiam.
          - Por isso você sonhou que precisava aceitar esse trabalho.
          - Eu ia dizer não. O sonho mudou minha vontade. Ainda agora a presença desse diplomata disposto a defender D. Maria Júlia fez-me pensar.
          - Em quê?
          - No merecimento que ela tem. Quem poderia imaginar uma coisa dessas?
          - Concordo.
          Josefa deixou Maria Júlia em casa e despediu-se dizendo:
          - Coragem. Estarei rezando por você.
          Ela foi direto para seu quarto, sentou-se na poltrona e pensou nas palavras de Josefa. Durante o trajeto de volta ela lhe mostrara o quanto Deus havia sido bondoso com ela, ajudando-a sempre que precisava. Primeiro, tirando-a tirania paterna, depois libertando-a do marido, e, num momento decisivo e difícil, trazendo de volta o amor de sua vida, disposto a lutar por ela e dar-lhe a felicidade.
          Josefa tinha razão. Nessa hora ela precisava confiar em Deus. Ele a estava ajudando e protegendo. Queria que seus filhos usufruíssem dessa proteção e pudessem refazer suas vidas. Guilherme tinha dito que se ela desejasse, depois que tudo se resolvesse, eles iriam para outro país, onde havia leis para o divórcio e para outro casamento. Tanto poderiam continuar vivendo lá como voltar ao Brasil. Ele faria tudo como ela e seus filhos quisessem. Maria Júlia fechou os olhos e rezou. Agradeceu a Deus a proteção que tivera e pediu que lhe desse forças para contar toda a verdade aos filhos. Ao terminar, respirou fundo e sentiu-se aliviada. Chamou os filhos a seu quarto para essa conversa. Eles obedeceram imediatamente.
          - Sente-se melhor, mamãe? - indagou Gabriel.
          - Sim. Estou bem. Sentem-se aqui, a meu lado. Eles se acomodaram e ela continuou:
          - Chamei-os porque precisamos conversar. Tudo que tem acontecido ultimamente tem-nos perturbado e feito sofrer. Para vocês deve ter sido terrível descobrir os fatos dolorosos de nosso passado.
          - Mãe, ainda duvido que papai tenha cometido tudo que dizem.
          - Infelizmente, Laura, ele o fez. Você é filha sempre teve dele uma imagem boa e eu sinto ter que lhe dizer a verdade. Eu me falei esses anos todos por que nunca pensei que Marcelo pudesse descobrir tudo e voltar para nós pedir contas.
          - Quer dizer que você foi cúmplice dele em tudo isso? Como pode concordar com uma coisa dessas?
          - Eu nunca concordei, filha. Fiz o que pude para salvar Marcelo e o consegui. Só Deus sabe como foi difícil e o medo que passei. Mas eu também tinha um filho pequeno e repugnava-se saber que pensavam em matar aquele menino.
          - Mãe, não precisa dizer nada - tornou Gabriel. - Isso a faz sofrer. Sabemos de tudo. Não se atormente mais.
          - Não, meu filho. Ainda não sabem de tudo. É sobre isso que desejo lhes falar. Minha vida tem sido até agora um amontoado de mentiras. Tenho sido covarde, nunca tive coragem para lhes contar o que ia em meu coração, porque é como me casei com José Luís. O que vou lhes dizer agora e o segredo que tenho guardado durante tanto tempo mas que não dá mais para segurar. Desejo abrir meu coração a vocês, dizer toda a verdade, lavar minha alma. Desnudar meus sentimentos mais íntimos para que me vejam tal qual sou. Apenas uma mulher que amou muito e que tem sofrido todos esses anos.
          - Sempre desconfiei de que havia alguma coisa que a fazia temer Bóris e papai. Várias vezes senti que eles a ameaçavam.
          - É verdade, meu filho. A vida inteira vivi ameaçada. Nossa história começou quando eu tinha dezessete anos.
          Maria Júlia, olhos fixos no passado, com voz pausada porém firme que a emoção por vezes dificultava, foi relatando todos os acontecimentos de seu passado. A medida que ela falava, Gabriel foi se emocionando, pressentindo que suas palavras tinham a ver com ele. Segurou a mão dela com força e, sem desviar o olhar, esperava ansioso que ela concluísse. Laura sentia as lágrimas descerem por suas faces. Nunca lhe passará pela cabeça que aquela mulher que sempre viver bem-posta, calma, controlada, havia passado por todas aquelas emoções, e parecia-lhe estar vendo-a pela primeira vez.
          Em silêncio, esperaram que ela acabasse:
          - Por isso me calei durante toda a vida - finalizou ela. - Eles ameaçavam a vida de Gabriel e eu sabia que eles diziam a verdade. Eu os conhecia. Vira como eles haviam planejado todos aqueles crimes. Eu mesma muitas vezes pensei que eles poderiam me matar. Acho que ele nunca fez porque tinha uma fixação por mim. Era como uma obsessão. Queria conquistar meu amor a qualquer preço. Precisava de mais essa vitória. Como nunca conseguiu, não desistia. Os dois a abraçaram com força e misturaram suas lágrimas. Gabriel sentia um nó na garganta e não conseguia falar. Ficaram assim, abracados, durante alguns minutos. Quando se acalmaram, Maria Júlia continuou:
          - Eu queria poupar você. Entretanto foi inútil. A vida tem seus próprios caminhos. Espero que me perdoem. Eu amo vocês. Preciso de seu amor.
          - Mãe, você sempre foi generosa e amiga. Deu-nos tudo e foi até o sacrifício para nós preservar. Só lamento que não tenha me contado a verdade antes. Se tivesse feito isso, talvez tivéssemos encontrado uma solução para acabar com seu sofrimento.
          - Eu temia que não entendessem. Pretendia ficar calada pelo resto da vida. Nunca iria revelar esse segredo, a não ser que José Luís cumprisse a ameaça que me fez de que, se fosse preso, contaria tudo. Todavia, hoje aconteceu algo que me fez mudar de idéia. María Júlia levantou a cabeça e olhou-os por alguns segundos em silêncio. Depois continuou:
          - Daniel me telefonou e disse que o Dr. Guilherme Gouveia insistia em falar comigo pessoalmente.
          - O diplomata? - indagou Gabriel admirado.
          - Ele mesmo. Conversamos e Josefa veio buscar-me para um encontro em casa.
          - Mãe, porque ele a procurou? O que ele tem a ver conosco? - indagou Gabriel apertando as mãos dela com força.
          - Porque ele foi o amor de toda a minha vida. Depois daquele tempo, nunca mais nos encontramos. Pretende testemunhar a meu favor. Contar por que me calei durante esse tempo todo.
          - Mãe... quer dizer que ele... é meu verdadeiro pai??!
          - É, meu filho. Ele pretende contar tudo em juízo e reconhecê-lo como filho legítimo. Gabriel não se conteve:
          - Mãe, ele tem família. Não será um pouco tarde essa atitude?
          - Não, meu filho. Ele nunca nos procurou porque pensou que éramos felizes. Não desejava nós prejudicar. Acompanhava nossa vida à distância, pelas notícias sociais. Quando soube pelos jornais do que aconteceu, voltou ao Brasil disposto a me ajudar. Entendeu logo por que eu calara. Seus dois filhos casaram-se, moram no exterior. Sua esposa morreu há alguns anos. Ele está sozinho e nossos sentimentos ainda são os mesmos. Ele pensa  retomar nossa vida, desta vez de maneira limpa. Acredita que serei absolvida. Depois que tudo acabar, quer se casar comigo, no exterior, é claro. Aqui não há divórcio. Estou contando tudo a vocês como aconteceu. Não vou decidir nada sem ouvi-los a respeito.
          Laura olhava-a emudecida pela surpresa. Não sabia o que responder. Era-lhe difícil pensar em sua mãe casada com outro homem. Gabriel, emocionado, não conseguia concatenar os pensamentos.
          Maria Júlia abraçou-os dizendo:
          - O importante é ter vocês a meu lado.
          - Já pensou no que vai fazer? - indagou Gabriel. - Vai aceitar seu pedido?
          - Não sei ainda, meu filho. Neste momento vocês são mais importantes do que tudo para mim. Nada farei que possa desgostá-los.
          - Você ainda gosta dele? - indagou Laura.
          - Nunca esqueci esse amor. Entretanto, para ser sincera, foi há muito tempo. Eu mudei, tudo mudou. Não sei se poderei retomar esse sentimento. Estou confusa e atormentada. Nem sequer sei se conseguirei sair livre de toda essa sujeira. A podreza me assusta por causa de vocês. No momento não tenho como tomar nenhuma decisão.
          - Ele vai mesmo testemunhar a seu favor? - indagou Gabriel.
          - Vai. Eu não queria. É um diplomata respeitado, admirado. Tem livros publicados, é fomos. Esse depoimento vai arruinar sua carreira. Mas ele insiste, e Daniel, que estava conosco, é de opinião que, se ele contar nosso segredo, serei absolvida.
          - Ele deve sentir-se culpado - disse Gabriel. - Por causa dele você acabou se casando com uma pessoa que não amava e viver todo esse drama. Ele não merece o respeito que usufrui. Diz que a amava, mas enganou-se, iludiu-a. Usou de má-fé. Você era inexperiente e confiante. Depois do que fez, ainda queria que você abortasse.
          - Não diga isso, meu filho. Não o culpo. Nós nos apaixonamos perdidamente. Ele nunca quis um aborto. Ao contrário, queria fugir comigo. Eu não quis. Tive medo de papai. Depois, repugnava-me fazê-lo abandonar a família. Ele tinha dois filhos. Está muito arrependido do que fez, mas eu, não. Apesar de tudo, lembrança daqueles momentos de amor que vivenciamos juntos tem me dado forças para suportar toda a frustração que sido minha vida. Eles continuam vivos em minha mente. Nunca esquecerei.
          Gabriel baixou a cabeça sem saber o que dizer. Ele se lembrou da noite em que Larina para o barco e da experiência inesquecível que tinha vivido.
          - Gostaria que entendesse que nos deixamos levar pelas emoções e nos envolvemos sem pensar nas consequências e pagamos um preço muito alto por nossa fraqueza. Ele teve medo de dizer que era casado e eu de assumir a verdade perante a família. Assim, acabamos por piorar a situação. Ele cumpriu até o fim a sua responsabilidade para com a esposa e os filhos, e eu tentei fazer o mesmo. Ele conseguiu, mas eu não tive a mesma sorte.
          - Você não podia saber o que eles iriam fazer - disse Gabriel.
          - Se papai não tivesse cometido tantas loucuras, tudo estaria bem agora. Talvez até você tivesse aprendido a gostar dele - disse Laura com voz triste. Maria Júlia abraçou-a comovida:
          - Tem razão, minha filha. Quando José Luís me pediu em casamento, disse que me amava e que seria um bom pai para meu filho. Acreditei. Ele era um médico, bonito, jovem, agradável. Achei que seu amor estava sendo sublime a ponto de me aceitar grávida de outro homem. Acreditei que todos os problemas estavam resolvidos. Tinha certeza de que conseguiria amá-lo. Infelizmente, não foi o que aconteceu:
          - Porquê? - indagou Laura.
          Maria Júlia olhou-a nos olhos e respondeu séria:
          - Ele é seu pai, e o que vou dizer não é agradável. Mas estou disposta a dizer a verdade. Nunca mais quero ter segredos para vocês.
          - Fale, mãe. Queremos saber tudo - pediu Gabriel.
          - Você já sabe, meu filho. Seu pai tinha um gênio difícil. Possessivo, ciumento. Casou comigo mas nunca aceitou de fato a situação. Tinha raiva de você porque o achava parecido com o verdadeiro pai.
          - Pelo que sei, era Gabriel que não gostava dele - interveio Laura.
          - Quando era bebê, várias vezes surpreendi-o dizendo palavras rancorosas e você chorava. Algumas vezes eu desconfiei até que ele o beliscava. Quando ficou maiorzinho, começou a fugir dele e os criados começaram a notar. Então ele passou a rodeá-lo de atenções, mas eu sabia que era só diante dos outros. Por isso nunca o deixava a sós com ele.
          - Eu sentia a repulsa dele. Nunca me  senti bem em sua presença.
          - Mãe, custo a crer. Meu pai é um monstro!
          - Prefiro pensar que ele seja um neurótico, um psicopata. Gostaria de não ter que lhe dizer tudo isso, minha filha, mas sinto que não posso mais segurar.
          - Agora já posso entender melhor o que está acontecendo. Para mim papai sempre foi calmo, controlado. Era respeitado por todos, e mesmo você sempre me pareceu feliz ao lado dele. Nada disso era verdade. Estávamos vivendo uma situação falsa. Vocês colocaram no rosto uma máscara atrás da qual escondiam seus verdadeiros sentimentos. Diante do que falou de meu pai, de seu temperamento, posso acreditar que tudo quanto dizem dele é verdade. Ele nunca foi quem eh pensava que fosse. Laura soluçava e tanto Maria Júlia quanto Gabriel abraçaram-na em silêncio. Quando ela finalmente parou, Maria Júlia tornou:
          - Obrigada por terem me ouvido. Espero que me perdoem e continuem me amando apesar de tudo. Só isso me importa.
          - Mãe, não né sinto em condições de julgar nada - disse Gabriel emocionado. - Sempre amei você e sempre vou amar. Aconteça o que acontecer, estarei do seu lado.
          - Eu também, mãe - tornou Laura. - Nunca esquecerei este momento. Admito sua coragem e seu desprendimento abrindo seu coração, contando-nos a verdade. Fico triste em pensar que papai cometeu tantos erros, mas reconheço que precisa assumir sua responsabilidade por eles.
          - Obrigada, meus filhos. Infelizmente, depois do que aconteceu, seu pai não pode ficar em liberdade. Está descontrolado e pode fazer coisa pior.
          - Apesar de tudo, mãe, não desejo abandoná-lo. É meu pai. Se puder fazer alguma coisa para ajudá-lo, eu farei.
          - Compreendo, filha.
          - Ele não pode ficar em liberdade, Laura. Você ouviu o que mamãe falou - disse Gabriel. - Se ele sair da cadeia, vai tentar alguma coisa contra ela.
          - Depois de tudo, tenho certeza de que ele ficará preso. Vou ficar do seu lado e de mamãe, mas repito: se puder ajudar papai de alguma forma, eu o farei.
          - Faça o que seu coração quer. É a maneira mais certa de viver. Terá sempre meu apoio. Agora vamos para a copa, vocês precisam comer alguma coisa. Quando saíram do quarto abraçados, Maria Júlia sentia-se aliviada. A conversa fizera-lhe muito bem. Reconheceu que há muito tempo não se sentia tão leve. Satisfeita, percebeu que tanto Gabriel quanto Laura também pareciam estar meu.

        
         

         
       

        

    
         
    
     
       

         
       

         
         
         

         
   
         
         

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