CAPÍTULO 13

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Alberto saiu do escritório da empresa em que trabalhava e olhou o relógio. Passava das oito. Tivera uma reunião importante com os membros da diretoria e, apesar de cansado, sentia-se muito satisfeito. Fora promovido e além do salário bom havia ainda a possibilidade de progredir muito.
Sentiu vontade de dividir com alguém aquela alegria. Pensou em Lanira. Ela o atraía muito. Bonita, elegante, alegre, inteligente. Tinha todas as qualidades que ele desejava em uma mulher.
Chegou em seu apartamento dez minuto depois ligou para ela convidando-a para dar uma volta.
- Eu vou. Só que não posso voltar tarde. Está bem?
- Está. Passarei em casa dentro dez minutos.
Ela foi se arrumar. Seus pais haviam ido a uma recepção e só estariam de volta depois da meia-noite. Ela pretendia chegar antes deles para não ter que dar explicações. Sabia que eles não concordariam que ela saísse com Alberto. Principalmente o pai, que o tinha como falsário. Uma vez no carro com ele, Lanira disse:
- Hoje estou como cinderela. Terei que voltar antes da meia-noite. Ele riu alegre. Ela continuou:
- Você deveria rir mais. Fica muito melhor sem aquele ar de tragédia que costuma ter.
- É que estou alegre. Fui promovido hoje. Vou poder comprar aquele carro novo que eu queria.
- Parabéns! Por isso quis sair.
- Foi. Queria dividir com alguém minha alegria. Sempre fui tímido, nunca tive com quem compartilhar minhas emoções. Vocês são meus únicos amigos.
- Deve ter sido duro para você ter vivido toda a sua vida sozinho, sem família.
- Foi. Durante muitos anos acreditei ter sido rejeitado por meus pais. Isso me tornou retraído, desconfiado. Apesar de tudo, fiquei aliviado ao descobrir a verdade. Ao lado de Lanira, Alberto sentia vontade de falar de sua vida, de seus sentimentos. O olhar dela como que penetrava nele de tal sorte que ele se sentia seguro o bastante para fazer confidencias como nunca fizeram com ninguém antes.
Lanira sentia que ele se posicionava com sinceridade e isso a emocionava. Sentia que podia confiar nele. Desde que começaram a ir todas semanas às sessões em casa de tia Josefa, eles haviam se aproximado mais. A tia os convidava para o chá nas tardes de domingo ou para conversar aos sábados à noite quando reunião em casa alguns amigos. Como Daniel não comparecia e Rubinho preferia sair com Marilda, apenas Alberto e Lanira gostavam desses encontros em que se podia conversar tudo, principalmente de assuntos espirituais.
Naquela noite eles conversaram muito não só sobre o trabalho dele como também sobre sua forma de ver a vida. Percebendo o interesse dele, que várias vezes segurava sua mão e fizera menção de abraçá-la e até beijá-la, Lanira resolveu conversar.
- Gosto muito de você - disse de repente. - Mas não estou pronta para namorar.
- O quê? - disse ele surpreendido.
- O que você ouviu. Gosto de você, mas não pretendo namorar ninguém. Tenho horror ao casamento, pelo menos por enquanto. Noto que você está sentindo atração por mim. Não desejo que nossa amizade acabe.
- Quer dizer que se eu quiser namorar você, acaba nossa amizade?
- Se você se apaixonar, vai querer controlar minha vida, insistir, e não vai dar mais para sermos amigos. Eu quero manter nossa amizade.
Sem que ela esperasse Alberto abraçou-a e beijou-a longamente nos lábios. Apanhada de surpresa, Lanira sentiu o coração disparar e um forte rubor subiu-lhe nas faces. Ele a largou, respirou fundo, depois abraçou-a novamente, beijando-a apaixonadamente. Lanira não soube o que dizer. A surpresa paralisara-a. Nunca ninguém fizera isso com ela. Ficou sem se e não conseguiu articular palavra. Alberto apertava sua mão e iria beijá-la de novo quando ela conseguiu dizer:
- Por que fez isso?
- Porque não consegui me controlar. Desde que a conheci, desejava beijá-la.
- Você não devia ter feito isso. Não ouviu o que eu disse? Não pretendo namorar.
- Se não quer me namorar, o que posso fazer? O que eu não pude foi olhar para você sem beijá-la.
Olhando-a nós olhos, ele fez menção de beijá-la novamente. Ela o empurrou dizendo:
- Vamos embora. Leve-me para casa. Você não deveria ter feito isso. Ele ligou no carro e levou-a para casa. Foram em silêncio durante todo o trajeto.
- Você está zangada?
- Estou.
- Não tem razão - apanhou a mão dela e levou-a aos lábios com carinho. - Não quis ofendê-la. Foi mais forte do que eu. Ainda agora sinto uma vontade louca de beijá-la de novo.
- Vou entrar. Boa noite.
Ela abriu a porta do carro e saiu apressada. Seu coração batia forte e ela correu para dentro sem olhar para trás.
Alberto suspirou fundo. Aquele beijo deixara-o excitado e ele intimamente sentiu que faria tudo para ter aquela mulher. Acionou o carro pensando no que faria para conquistar definitivamente o amor de Lanira. Ia tão distraído que nem percebeu que seu carro estava sendo seguido.
Ao chegar diante do prédio de apartamentos em que morava, colocou o carro na garagem e foi esperar o elevador quando, de repente, surgiram dois homens mascarados apontando um revólver e agarraram-no. Um deles disse:
- Fique calado senão você morre! É um assalto Alberto sentiu um arrepio de medo.
- O que vocês querem? Podem levar o dinheiro.
- Nós queremos você. Vamos andando
Empurraram-noe um deles imediatamente colocou o capuz na cabeça de Alberto, que, atordoado pela surpresa, foi jogado para dentro de um carro que arrancou em alta velocidade.
Rodaram durante algum tempo em silêncio, sem responder as perguntas que Alberto de quando em quando fazia. Por fim pararam e ele foi puxado para fora. Entraram em uma casa e ele sentiu um cheiro forte de mofo. Tiraram seu capuz e um deles o empurrou para dentro de um pequeno aposento fechando a porta pelo lado de fora.
Alberto passou os olhos pelo quarto. A casa era antiga. Havia uma janela de madeira, com uma trava de ferro e um cadeado. Uma cama de solteiro, um criado-mudo com um abajur barato, o mesmo cheiro desagradável de mofo. Havia outra porta que Alberto abriu. Era um pequeno banheiro. No alto um pequeno vitrô que ele imediatamente abriu para que entrasse um pouco de ar.
A noite estava quente. Alberto tirou o paletó e a gravata, abrindo a torneira da pia e molhando o rosto na tentativa de refrescar um pouco.
Quem seriam aqueles homens? Se fosse um assalto, teriam levado seu carro, seu dinheiro, até subido a seu apartamento para roubar. Mas não. Angustiado, ele se lembrou do pedido de Jonas para que tivesse cuidado.
Por que não lhe dera ouvido? Aqueles homens só podiam ser mandados por José Luís e Bóris. Se isso fosse verdade, sua vida estava correndo sério perigo. Eles fariam tudo para livrar-se dele. Se não o mataram à queima-roupa foi porque pretendiam fazê-lo de forma a não despertar nenhuma suspeita.
Tentou forçar a porta do quarto mas foi inútil. Ele ouvirá o ruído do carro saindo. Eles o haviam deixado só. Foi até a janela, mas não tinha como abri-la. Em sua angustia, lembrou-se do avô. Ajoelhou-se d ao lado da cama e rezou pedindo ajuda. Só Deus poderia socorrê-lo naquela hora difícil.
Lanira entrou em casa nervosa. Até então Alberto havia sido comedido, respeitoso. O que dera nele para beijá-la daquele jeito? Apesar de tudo, ela sentia o coração bater descompassado quando recordava aqueles beijos. Sempre se julgara imune à tentação e ria quando os rapazes lhe dirigiam galanteios.
Deveria ter reagido com mais força. Mas ao mesmo tempo estremecia lembrando-se do brilho dos olhos dele, do beijo carinhoso em sua mão. O que estaria acontecendo com ela?
Estaria ficando fraca?
Deitou-se mas custou a dormir. A lembrança dos beijos de Alberto não a deixava e ela se inquietava, virando na cama, tentando encontrar uma explicação para o que estava sentindo. Na manhã do dia seguinte Rubinho procurou Daniel dizendo:
- Estou esperando Alberto para fazermos aquela reunião sobre a audiência e ele não apareceu. Liguei para o escritório dele: não foi trabalhar.
- Ligou para o apartamento?
- Ninguém atende.
- Estranho. Ele nunca faltou a nenhuma reunião nossa. Tem certeza de que ele sabia que era hoje?
- Tenho. Ontem falei com ele para confirmar.
- Vou ligar para o apartamento novamente.
Daniel tentou mas o telefone tocou, tocou e ninguém atendeu.
- Vai ver que ele saiu. Logo deve estar chegando.
Mas chegou a hora de almoço e ele não apareceu. Rubinho ficou preocupado:
- Vou até a casa dele.
- Vou com você.
Chegaram ao prédio onde Alberto morava e falaram com o porteiro. Ele só vira Alberto sair para o trabalho no dia anterior.
- Eu fui bater no apartamento porque achei a chave do carro dele no chão da garagem, perto do elevador. Mas ninguém atendeu. Como o carro dele está na garagem, pensei que ele deve ter saído com algum amigo e nem percebeu que derrubou a chave. Os dois advogados olharam-se assustados.
- Tem certeza de que o carro dele está na garagem?
- Tenho. Vocês podem ver.
Os três foram ao subsolo e viram o carro.
- O zelador tem as chaves dos apartamento. Somos os advogados dele.
Achamos que ele está correndo perigo de vida. Vamos examinar o apartamento.
O zelador imediatamente abriu o apartamento, mas lá não havia ninguém.
- O que faremos? - disse Daniel. - Vamos chamar a polícia?
- Vamos avisar Jonas.
Dali mesmo ligaram para Jonas informando-o do ocorrido. Em menos de meia hora ele estava no apartamento de Alberto com um investigador. Examinaram tudo e não encontraram nada.
- Ao que parece ele não entrou em casa. Tudo indica que chegou aqui, colocou o carro na garagem e quando ia tomar o elevador deve ter sido agredido e levado para algum lugar - concluiu o investigador.
- Espero que não o tenham matado - disse Jonas. - Eu preveni. Estamos lidando com assassinos dá pior espécie. Nós o vigiamos, mas nem sempre pudemos estar ao lado dele.
- O que faremos? - perguntou Daniel inquieto.
- Marcos vai avisar o departamento dele para que dêem uma busca. Precisamos de fotos.
Eles procuraram no apartamento e encontraram algumas em um álbum.
- A audiência será dentro de uma semana. Foi por causa disso que eles agiram - lembrou Rubinho.
- Se ele não comparecer, o trabalho será prejudicado - comentou Daniel.
- Se ele estiver morto, eles serão indiciados. Isso eu prometo. Com as provas que tenho, nós os colocaremos na cadeia - disse Jonas
- Se ele estiver vivo em algum lugar, nós o acharemos. Estou começando a implicar com esses malvados. Depois de tudo quanto fizeram com o moço, ainda querem dar cabo dele. Vou me empenhar, vocês vão ver.
- Vou redobrar a vigilância em Bóris. Não podemos perder um minuto. O José Luís nunca faria nada pessoalmente. Bóris é quem dá as cartas para ele. É nele que precisamos centrar nossa atenção.
- Você está certo, Jonas - concordou Daniel. - A amante dele também tem que ser vigiada.
- Pode deixar - garantiu Jonas. - Vamos embora. Nada mais temos que fazer aqui. Deu um cartão ao zelador, dizendo:
- Qualquer coisa estranha que aconteça, ligue para nós. Qualquer pista pode ser a chave para salvar Alberto.
Rubinho e Daniel voltaram ao escritório preocupados. Daniel ligou para Lanira e contou-lhe o que havia acontecido.
- Estivemos juntos ontem até às onze e meia - disse ela assustada.
- Verdade? Seria bom que viesse até aqui para nós contar tudo.
- Irei. Pode esperar.
Naquela tarde, Maria Alice procurou Gabriel.
- Queira que você né acompanhasse a uma visita a Carolina. Ele a olhou admirado, mas ela lhe fez pequeno sinal e respondeu:
- Está certo. Quando quer ir?
- Agora. Prometi estar lá antes das quatro. Quando se viram no carro, ela disse:
- Precisamos conversar. Estou preocupada.
- Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu. Ouvi José Luís conversando com Bóris. Eles pretendem resolver definitivamente o caso de Marcelo.
- Como assim? Ele vai dizer a verdade?
- Nada disso. Eles querem acabar com ele. Gabriel parou o carro dizendo nervoso.
- Um crime? Com isso nós não podemos consentir. Temos que dar parte na polícia. Maria Júlia agarrou o braço do filho dizendo aflita:
- Isso não! Você não vai fazer isso.
- Mãe, não podemos permitir que eles tirem a vida de uma pessoa.nissk é um crime e não estou disposto carregar esse peso.
- Polícia, não. De forma alguma. Temos que arranjar outro jeito.
- Tem certeza do que está dizendo? O que você ouviu?
- Eles estavam faltando em voz baixa. Não me viram. Eu ia ao cabeleireiro, cheguei a ir até o carro, mas mudei de idéia, voltei e sentei-me na poltrona do hall para descansar um pouco. A porta do escritório estava aberta e eles conversavam. Bóris dizia:
- "Ele já está preso lá. Temos que decidir como vamos fazer. Ele não pode comparecer à audiência de jeito nenhum. Estive lendo os autos. Eles têm inúmeros provas. Temos que agir depressa. Vou falar com Antunes e faremos tudo do jeito que pareça acidente."
- "Não dá. Antunes ajudou-me a apanhar o pato, não vai abrir o bico. Tem mais interesse em ficar calado do que nós. Depois, ele gosta muito de dinheiro."
- " Esse é meu medo. Dinheiro. Ele pode querer chantagear, como Eleutéria."
- "Antunes não fará isso. Já tem trabalhado para nós e fez tudo direitinho. Aceita o dinheiro e pronto. Nunca fez chantagem."
- "Está bem. Faça isso. Mas não quero que ninguém desconfie."
- "Então, meu filho - finalizou Maria Júlia -, eu saí dali e fui esconder- me no quarto.
- Mãe, é fora de dúvida que eles pretendem acabar com o moço. Temos que ir a polícia. Não podemos deixar isso acontecer. Estou chocado. Ele ameaçou você! Quer vingar-se. Temos que denunciá-lo.
- Prometa que não fara isso. Pelo amor de Deus!
- Por que tem tanto medo assim, mãe? Há alguma coisa que não me contou?
- E que, quando a polícia descobrir a verdade, seria presa como cúmplice. Fiquei calada durante todos esses anos.
- Arranjaremos bons advogados. Você foi coagida. Teve medo.
- Ainda assim, não quero que vá à polícia.
Ela apertava o braço dele desesperada. Vendo sua aflição, ele não insistiu.
- Acalme-se. Vamos pensar em outra coisa. Você não pode deixar que eles saibam que escutou a conversa. Tenho medo de que se voltem mais ainda contra você. Vamos nos acalmar e pensar em outra solução.
- Isso sim.
- Enquanto isso procure se acalmar. Trate de controlar-se para que em casa ninguém note nada.
Gabriel fez o que pôde para que Maria Júlia ficasse mais calma, entretanto ele se sentia preocupado, aflito.
- Seria bom que você fosse mesmo ao cabeleireiro, porque assim ninguém desconfiaria de nada.
- Não estou a disposição para isso.
- Por isso mesmo
Vai fazer-lhe bem e não despertará suspeitas. Deixá-la-ei lá e mais tarde virei buscá-la.
Depois de deixá-la no cabeleireiro, Gabriel entrou no carro preocupado. Ele precisava fazer alguma coisa. Mas o quê? Sua mãe temia a polícia. O jeito era tentar encontrar Marcelo e libertá-lo. Mas para onde o teriam levado? Precisava descobrir.
Inquieto, não conseguia deixar de pensar, tentando encontrar uma solução satisfatória. A cabeça doía-lhe, e quanto mais pensava menos encontrava saída. A única coisa que e sabia era que não queria que esse crime se consumasse. Precisava fazer alguma coisa, mas o quê?
Passava das seis quando apanhou a mãe no cabeleireiro e voltaram para casa. Ele, recomendando-lhe calma, foi para o quarto. Precisava pensar, encontrar uma alternativa. Precisava vigiar Bóris. Ele estava em casa, ficaria atento, não iria dormir. Se ele saísse, iria atrás sem que ele notasse.
Apesar disso, Gabriel não conseguia acalme-se. De repente um temor o assaltou. E se Antunes fizesse tudo sem Bóris, para não despertar suspeitas? Levantou-se da poltrona e começou a andar de um lado o outro do quarto. Ele não podia esperar. Um minuto poderia ser tarde demais. Tinha que fazer alguma coisa.
Decidido, apanhou o telefone e ligou para Lanira. Pouco depois ela estava ao telefone:
- Alô.
- Como vai Lanira?
- Gabriel!!
- Sim. Desculpe incomodá-la, mas preciso conversar com você urgente. Por favor.
- Está certo.
- Vou passar aí dentro de dez minutos. Obrigado por me entender.
- Estarei esperando.
Ela desligou e Maria Alice aproximou-se interessada:
- Era o Gabriel?
- Era. Vamos dar uma volta. Ele quer conversar.
- Vai ver que se arrependeu e deseja reatar a amizade.
- Pode ser, mamãe.
Lanira não disse que percebera o nervosismo dele. Sua voz estava trêmula. O que ele desejaria? Teria alguma coisa a ver com Alberto?
Quando ele passou, ele já estava no portão esperando. Ele desceu do carro e, depois de cumprimentá-la, disse:
- Vamos dar uma volta.
Ela entrou no carro e ele tornou:
- Estou muito angustiado e, nesse momento, a única pessoa que eu senti que poderia ajudar-me é você. Por isso, apesar de tudo resolvi procurá-la. Você sobre sente alguma amizade por mim?
- Claro. Devo lembrar que telefonei várias vezes e foi você quem nunca quis me atender.
- Eu sentia vergonha. Entretanto, hoje, em minha angústia, você não me saiu do pensamento. Eu preciso que me ajude. Eu queria ir à polícia, mas minha mãe não quer de forma alguma. Ela tem medo. Eu não quero que nada de mal lhe aconteça.
- Você sabe alguma coisa sobre o desaparecimento de Alberto?
- Sei o suficiente para ficar apavorado. Temos que fazer alguma coisa. Impedir que eles cometam esse crime.
- Temos que pedir ajuda para Daniel e Rubinho. Sozinhos não podemos fazer nada. E bom que saiba... que estamos lidando com criminosos... - ela cobrou com medo de magoá-lo. Ele finalizou:
- Perigosos. Ninguém mais do que eu sabe disso. Antes eu nada sabia, mas, agora que eu sei, não desejo de forma alguma ser cúmplice desse crime. Temos que impedir, e não sei como. É melhor não falar com Daniel e Rubinho. Eles irão à polícia e tudo estará perdido. Minha mãe não vai suportar.
- Não há outro jeito. Infelizmente sua mãe foi cúmplice deles e por causa disso você não pode deixar que outro crime aconteça. Ela precisa reconhecer isso.
- Ela não foi cúmplice. Foi coagida por eles. Ameaçada. Arriscou a própria vida para salvar Marcelo da morte e cuidou de seu bem-estar enquanto lhe foi possível.
- Nesse caso, ela deveria juntar-se a nós e não defender esse homem que infelizmente é seu pai.
- Nunca nós demos bem. Apesar das aparências, ele sempre maltratou minha mãe. Ela suportou tudo. Estou sempre me perguntando por quê. Se ela tivesse querido separsr-se dele, eu a teria apoiado. Mas não seria, às vezes chego a pensar que existe algum segredo, alguma coisa que a impede de fazer isso e que a suportar tudo que ele quer.
- Pode ser. Nunca tentou descobrir?
- Minha mãe e eu nos damos muito bem. Ela confidencia muitas coisas, mas quando toco nesse ponto ela se retrai. Nunca consegui nada.
- Rubinho acertou. Outro dia ele aventou essa hipótese.
- Verdade?
- Sim. Mas é difícil para nós saber como as coisas se passaram realmente. Ele sempre admirou sua mãe e tem dificuldade em aceitar que ela houvesse sido cúmplice desse crimes.
- Desses crimes?
Lanira mordeu os lábios. Não desejava que Gabriel se sentisse ainda mais por baixo, relatando as suspeitas de que eles teriam acabado com a família inteira. Por isso disse:
- É. Afastar Marcelo da família, tirar a herança, etc.
- Ah!
- Nós devemos procurar Rubinho e Daniel. Depois, há Jonas, um detetive particular nosso amigo que pode nos ajudar a encontrar onde eles esconderam Alberto antes que seja tarde. Alguma coisa me diz que não podemos facilitar.
Gabriel ficou pensativo e Lanira continuou:
- O que poderíamos fazer nós dois? Juntos podemos nos dividir. Jonas pode seguir Bóris.
- Há Antunes. Alguém precisa vigiá-lo.
- Garanto que faremos tudo discretamente. A polícia não incomodará sua mãe. Ele resolveu:
- Está bem. Alguma coisa tem que ser feita. Não consigo ficar com isso sem tomar providências.
Lanira colocou a mão sobre o braço de Gabriel com carinho:
- Gosto muito de você Gabriel. Pode contar comigo, aconteça o que acontecer.
Ele olhou para ela emocionado, olhos brilhantes, aproximou-se e beijou-a nós lábios demoradamente. Lanira sentiu que forte emoção tomava conta de seu coração. Apertou-o nos braços com força, retribuindo o beijo. Depois, separou-se dele dizendo:
- Vamos até a casa de Daniel. Não podemos perder tempo. Daniel recebeu-os surpreendido. Lanira foi logo dizendo:
- Gabriel precisa de ajuda.
- Entrem, por favor.
- Rubinho não está?
- Não. Ele saiu com Marilda. Sentem-se, por favor.
Gabriel sentou-se no sofá olhando Daniel sem coragem para falar. Estava arrasado e Lanira tentou ajudá-lo.
- Ele e D. Maria Júlia está desesperados. Ela ouviu uma conversa entre Bóris e o Dr. José Luís. Fale sem rodeios, Gabriel. Daniel vai fazer tudo para ajudar.
- Isso mesmo, Gabriel. Conte o que sabe. Nós queremos a verdade.
- A verdade - começou ele com voz trêmula - só fiquei sabendo há pouco tempo, quando o escândalo estourou e minha mãe, angustiada, me contou como as coisas haviam acontecido. Preciso dizer que ela não foi cúmplice deles e tudo fez para salvar Marcelo e foi através da ajuda de Alberico, o motorista, que ela conseguiu fazer isso. Eles armaram um plano e ela o levou para a Inglaterra, esperando que um dia pudesse desmacarar os culpados e fazê-lo voltar para sua família. Mas as mortes do Dr. Camargo e dos pais de Marcelo impediram-na de fazer isso.
- Por que ela não foi à polícia? Se tivesse feito isso, não seria arrolada como cúmplice.
- Eis o que ainda não posso compreender, Daniel. Minha mãe tem muito medo de meu pai. Ele a domina completamente. Nunca suportei a maneira como ele a trata na intimidade. Nunca nos demos bem. Se ainda não deixei a casa, foi para ficar perto dela e defendê-la, principalmente de Bóris, a quem não toleramos e que goza de todas as regalias, chegando a mandar em tudo, até em meu pai.
- Temos informações de que é um aventureiro da pior espécie - esclareceu Daniel.
- Ele ajudou seu pai no caso de Marcelo e deve ter feito muitas outras coisas. É um sujeito perigoso. Você sabe alguma sobre o desaparecimento de Alberto?
Daniel relatou tudo que tinha acontecido, finalizando:
- Estamos desesperados. Não podemos permitir que esse crime ocorra. Minha mãe tem medo da polícia. Lanira não me saía da cabeça. Conhecê-la foi a melhor coisa que aconteceu minha vida. Por isso, procurei-a e ela me garantiu que você pode ajudar-nos. De minha parte, quero colaborar. Farei qualquer coisa para salvar Alberto, mas preciso proteger minha mãe. Eles a ameaçaram. Se descobrirem que ela ouviu tudo e me contou, poderão maltratá-la. E isso não posso permitir.
- Compreendo, Gabriel. Você tem razão quanto ao perigo que estão correndo. Teria condições de sair de casa com ela, viajar para algum lugar sem que eles suspeitassem? Assim, estariam protegidos.
- Gostaria de vê-la longe deles mesmo. Não sei se ela vai aceitar. Laura não sabe de nada e se deixar a faculdade vai despertar suspeitas. Não gostaríamos de deixá-la sozinha com eles, principalmente por causa de Bóris. Ele é capaz de tudo. Quanto a mim, prefiro ficar por perto e ajudar a esclarecer tudo. Seja o que for que tiver que enfrentar na justiça, é melhor do que esta sensação de vergonha, culpa, cumplicidade.
- O mais urgente é descobrir o paradeiro de Alberto. Os minutos são preciosos levando-se em conta que eles podem agir de uma hora para outra - ponderou Daniel. Apanhou o telefone e ligou para Jonas, pedindo-lhe que fosse imediatamente a seu apartamento. Enquanto esperavam, Lanira preparou um café e Daniel tentou acalmar Gabriel, que estava muito nervoso.
Jonas chegou quinze minutos depois e inteirado de tudo imediatamente telefonou para o investigador que estava acompanhando o caso e pediu-lhe que vigiasse Antunes. Quando desligou o telefone, tornou:
- Esse malandro do Antunes tem ludibriado a polícia durante.muitos anos. Acho que chegou a hora de o colocarmos atrás das grades. Se o apanharmos em flagrante, não terá como escapar.o danado tem as costas quentes. Políticos importantes protegem-no porque, se ele abrir o bico, muitas cabeças poderão rolar, a julgar pelo que se diz por aí, à boca pequena...
- Nesse caso será inútil prendê-lo. Logo estará de novo em liberdade - concluiu Daniel.
- Não se tivermos provas concludentes. Seqüestro é crime, e se o apanharmos com a boca na botija, não haverá influência de nenhum "padrinho político" que o liberte. Dirigindo-se a Gabriel, Jonas prosseguiu:
- Você foi corajoso, meu rapaz. Garanto que não se arrependerá de haver-nos procurado.
- Farei tudo para poupar minha mãe. Nisso tudo ela tem sido mais uma vítima. Quanto a mim, estou disposto a ajudar. Quero salvar Alberto e devolver-lhe o que lhe é de direito. Não quero nada desse dinheiro que foi conseguido de forma tão vil.
Jonas olhou-o admirado. E não se conteve:
- Não tem receio de ficar pobre? Sempre viveu no luxo.
- Sou jovem e posso trabalhar, recomeçar minha vida de maneira digna. Tenho certeza de que conseguirei sustentar minha mãe e minha irmã.
Lanira aproximou-se e segurou a mão de Gabriel, apertando-a com força.
Tinha os olhos úmidos. Daniel sentiu-se comovido também com a atitude digna que ele conseguia assumir em um momento tão difícil como o que estava enfrentando. Aproximou-se dele, abraçando-o e dizendo:
- Você tem todo o nosso respeito. Estamos orgulhosos de contar com sua confiança. Pode ter certeza de que tudo faremos para de defender D. Maria Júlia. Além da ajuda profissional, gostaria de ser seu amigo.
Gabriel retribuiu o abraço de Daniel, sentindo os olhos marejarem. Fez grande esforço para conter as lágrimas.
Jonas pigarreou tentando esconder a comoção e disse com voz que se esforçou para tornar firme:
- Sua ajuda nos será de grande valia. Quero que vigie Bóris, procure ouvir tudo quando ele fala com seu pai, ou ao telefone, etc. Qualquer novidade, comunique-nos. Vou dar-lhe os números de telefone de contato em que pode ligar para mim ou para Marcos. Se não estivermos, deixe o recado. Tome cuidado. Eles são perigosos. Agora eu vou indo. Depois que Jonas se foi, Lanira tornou:
- Precisamos telefonar para tia Josefa. Ela pode nos ajudar. - Voltando-se para Gabriel, continuou: - Ema faz sessões espíritas em sua casa. Nós temos ido assistir. E pessoa de muita fé. Alberto afirma que o espírito de seu avô o tem seguido e ajudado. Podemos tentar falar com ele. Talvez nós conte onde Alberto está.
- Você acha isso possível? - indagou Daniel. Foi Gabriel quem respondeu:
- É possível, sim, se ele puder responder.
- Você acredita nos espíritos? - disse Lanira surpresa. - Nunca me disse nada.
- Só falo nesse assunto quando as pessoas mencionam-no. E assunto delicado e controverso. Só para os que entendem.
- Você parece que é um deles - tornou Daniel admirado.
- Desde criança sinto a presença dos seres de outras dimensões. Quando era adolescente, minha sensibilidade aumentou né eu me senti muito perturbado. Ia dá euforia à depressão, passava mal sem que os médicos conseguissem diagnosticar a doença. Por fim, conheci uma pessoa que me ajudou explicando o que estava acontecendo comigo, indicando-me livros sérios para que eu estudasse o assunto. Isso me ajudou e consegui me equilibrar. Eu sei que todos nós somos bombardeados por energias das pessoas que estão à nossa volta e também pelos espíritos dos que já morreram. Tive inúmeras provas. Vamos conversar com sua tia. A ajuda espiritual é fundamental em um caso como o nosso. Daniel sacudiu a cabeça sorriu. Aquela era a noite das surpresas.
- Já passa das dez. Não é tarde para falar com ela? - objetou.
- Não - contrapôs Lanira. - Tia Josefa nunca dorme antes da meia-noite.
- Nesse caso, faça isso - concordou Daniel.
Lanira ligou para Josefa como o objetivo de colocá-la a par dos últimos acontecimentos.
- Hoje mesmo vou telefonar para os médiuns e pedir orações. O momento é de fé e de confiança. Amanhã é dia de nossa reunião. Traga também Gabriel. Sinto que esse moço está realmente abalado. Vamos confiar em Deus, que tudo dará certo.
Lanira combinou fazer o possível para comparecer à sessão na noite seguinte. Gabriel lembrou:
- Talvez eu tenha que ficar em casa vigiando os passos de Bóris. Será que ele saiu hoje?
- Não se preocupe com isso agora. Bóris está sendo vigiado. Se ele saiu, foi seguido. Quanto a Antunes, precisamos torcer para que ele não tenha feito nada até o momento em que você nos procurou e Marcos colocou uma pessoa para segui-lo.
- E melhor eu ir embora. Vamos, Lanira, eu a deixarei em casa.
Eles sairam e Daniel, pensativo, sentou-se no sofá. A vida tinha surpresas e ele se perguntava o que viria ainda. Lembrou-se da primeira sessão em casa da tia Josefa, quando o Dr. Camargo lhe pedira para proteger Maria Júlia e Gabriel. Ele não atenderá seu pedido e não fora procurá-los, mas ele acabou sendo procurado. O espírito do Dr. Camargo teria alguma coisa a ver com isso? Era muito provável que sim.
Não pode deixar de pensar em Lídia e nas emoções que a presença dela lhe causava, nós misteriosos sonhos que tanto o impressionaram e, principalmente, no sentimento de amor que, embora Daniel fizesse muito esforço para reprimir, teimava em descompassar seu coração quando pensava nela.
Levantou-se e procurou o papel em que anotara as palavras do Dr. Camargo. Com ele nas mãos, sentou-se no sofá e leu novamente. Conforme dissera Gabriel, Maria Júlia deveria ser vítima do marido para que o Dr. Camargo intercedesse em seu favor.
Ela deveria ser inocente, e, nesse caso, ele deveria mesmo defendê-la dali para a frente. Pensou no espírito do Dr. Camargo e pediu-lhe ajuda para que encontrasse a maneira mais adequada de fazer isso.


























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