CAPÍTULO DEZESSEIS

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NOTA: Na primeira cena do capítulo, há diálogos em 2 línguas diferentes. Itálico: Xhosa || não itálico: Afrikaans. Por favor leiam a nota final, tem mais um comentário sobre isso.

#RenegadesJKJM

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𝑪𝑨𝑷𝑰𝑻𝑼𝑳𝑶 𝑫𝑬𝒁𝑬𝑺𝑺𝑬𝑰𝑺

[ Joanesburgo, 24 de maio, 1983 ]

Nem mesmo o som da chuva conseguia abafar o som de seus passos de um lado da sala a outro.

A espera o estava levando à loucura, mas eles não podiam se mover até que Anathi se recuperasse bem o suficiente para andar, ou então ele seria um peso morto no retorno à sede. Tendo passado por isso, Johann sabia que poderia levar semanas.

Mas semanas com seis negros se escondendo em uma casa despreparada para alojar tantas pessoas logo se tornaria inviável.

A irmã enfermeira – Alice – fez questão que eles o entendessem.

"Teremos que ir às compras de novo em breve, nossos mantimentos estão acabando," ela ressaltou para sua irmã com óbvia preocupação manchando suas feições. "Isso pode começar a levantar suspeitas."

A mais baixa entre as duas reconheceu a aflição da outra com um aceno de cabeça, embora seu olhar estivesse focado em Johann, não naquela que falava. Não foi a primeira, nem seria a última – ele tinha certeza – vez que ela o fez, mas nos últimos dias, Johann aprendera a ser mais tolerante aos olhares.

Ele nunca conseguia dizer quais eram seus pensamentos, e por mais... acolhedoras que elas tivessem sido até o momento, Johann ainda não podia dizer que confiava nelas.

"As pessoas vão começar a se perguntar por que saímos para fazer compras com tanta frequência," acrescentou Alice, como se a primeira parte de sua declaração não tivesse sido clara o suficiente.

Patricia revirou os olhos. "Sim, Alice, estou ciente, obrigada."

Visivelmente irritada por algo na resposta da menor – talvez sua atitude –, Alice se virou e saiu da sala, sem fazer nenhum esforço para fechar a porta de seu quarto ruidosamente, mas também sem fazer nenhum esforço para fechá-la silenciosamente.

"Ela não está errada," Patricia atraiu sua atenção mais uma vez, já que Johann ainda observava a porta recentemente fechada. Ele fitou a irmã remanescente com cautela. "Talvez seja melhor se todos vocês forem embora, exceto o que está ferido. É muito mais fácil abrigar um em vez de seis."

Ela sequer precisou completar a frase para Johann balançar a cabeça veementemente, os braços cruzados. "Não há nenhuma chance de eu deixar vocês sozinhas com A– ele."

Em resposta ao pequeno deslize de Johann, Patricia se permitiu um ínfimo sorriso. Quase imperceptível.

Este mal perdurou, no entanto. Quão rápido surgiu, também desapareceu, dando lugar a uma aparência cansada – amplificada por um suspiro ressonante. A mulher não podia ser muito mais velha do que o próprio Johann, certamente não muito mais do que trinta, mas, naquele momento, as linhas de vivência proeminentes em seu rosto poderiam generosamente lhe acrescentar mais alguns anos.

"Por favor, sente-se," ela pediu, apontando para uma das poltronas de frente para o sofá em que estava sentada.

Suas pernas estavam graciosamente juntas, uma leve inclinação ao ângulo de seus tornozelos cruzados. Se não fosse pela máscara caída, ela teria sido a imagem perfeita da sociedade alternativa da qual fazia parte.

RENEGADES • [jjk + pjm]Onde histórias criam vida. Descubra agora