Memories - RaBia

Capítulo XII ( parte 2)

Olá, rabiolas 🗼 ! Como cês tão ? Desculpem o sumiço... Juro que terminarem a história (algum dia). Não me abandonem, por favor.

Divirtam-se

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9 de junho de 2015

"Oi, Bia

Hoje eu pensei bastante em você. Não que eu não pense muito sempre, mas hoje estou mais reflexiva que o rotineiro.

Ainda estou em Moçambique (aqui é lindo, falarei mais sobre isso ao longo da carta) e ontem recebi uma ligação da minha mãe. Ela me contou que meu pai quer se mudar de novo, dessa vez para Goiânia. A desculpinha é a mesma de sempre "é importante para conseguir mais uma promoção no Banco", " isso é a prova que Banco precisa da minha dedicação e empenho" e por fim a mesma promessa de sempre: "é a última vez que nos mudamos. Prometo".

Minha mãe tá triste, bem arrasada. Por algum motivo ela ainda acredita nessas promessas do meu pai. Quando eles vieram para São Paulo, ele fez disse a mesma coisa e ela mais uma vez se animou para montar a própria loja de roupas. Mês passado minha mãe até assinou o contrato de aluguel do espaço e já estava planejando a decoração com um arquiteto, ai agora meu pai vem com esse comunicado de mais uma mudança... Foda, né Bia ?

Ela não me contou muitos detalhes, certeza que para me poupar de qualquer preocupação. Mas consigo imaginar o quão turbulentas estão as coisas lá em casa. Os dois estão brigando muito, porque minha mãe não quer ir de jeito algum e meu pai está decidido a ir de qualquer maneira... Enfim, espero que dessa vez eles se separem mesmo. Não me ache uma pessoa horrível, ok ? Porém é triste demais ver minha mãe vivendo na sombra dos sonhos do meu pai. Ela nunca verbalizou, só que é bem perceptível o quão frustrada essa situação a deixa. Porra, Bia, você sabe, não é ? Minha mãe está há 10 anos tentando montar o próprio negócio e não consegue porque a carreira do meu pai é sempre prioridade.

Então, esse cenário todo me fez pensar em mim, em você e em nós. E pela primeira vez durante todo esse tempo, eu fiquei verdadeiramente feliz por você ter ido a França. Eu jamais me perdoaria se transformássemos a gente na relação dos meus pais. Eu te amo o suficiente para jamais podar seus sonhos e me amo o suficiente para não abrir mãos dos meus também... Racionalmente, com meus milhões de neurônios, eu entendo isso perfeitamente e acho que falta pouco para meu coração teimoso compreender também.

E estar aqui em Moçambique me ajuda nessa compreensão. Aqui tem seus problemas, mas não é capaz de anular a beleza do lugar e das pessoas. Morando aqui nesse breve espaço de tempo pude experimentar um pouco do seu entusiasmo de viver em um país novo. Não que eu queria comparar meu um mês e meio aqui com seu planos de uma vida inteira na França. Porém, eu estou bastante apaixonada pela cidade, pelas pessoas, pela cultura (ps: a dançar Xigubo, sabia ? E semba também). Só que mesmo adorando estar aqui, não me sinto em casa... Não sei, talvez por viver uma infância tão nômade seguindo meu pai, eu fiz questão de criar raizes sólidas em São Paulo. Eu amo minha rotina, minha casinha, meus amigos, meu trabalho, minha família, meus projetos de vida... a soma de tudo isso me dá uma sensação de pertencimento, sabe ? São Paulo é meu lugarzinho no mundo.

Por isso eu entendo que não podia largar tudo isso para seguir você em seu sonho de viver na França. É bem certo que em alguns anos eu acabaria como minha mãe e eu me abominaria por isso. Talvez até te culpasse também... Sei lá. Eu sei que é difícil prever o futuro assim, mas a verdade que imigrar sempre foi -seu- sonho e se eu aceitasse ir seria apenas única e exclusivamente por você. Quais as chances disso dar certo ? Pouquíssimas.