Chlöe
— Oi! – Jogo-me na cadeira. – Eu sei que estou atrasada!
— Bom dia, meu amor! Como você está? Ah eu estou bem! Obrigada por perguntar! – Encaro o menino a minha frente e seu sorriso some no mesmo instante. – O que aconteceu?
— É pedir muito para o tempo parar? – Ele arrasta sua cadeira para o um lado. – É pedir muito para os meus pais serem normais?
— Quer dividir?
— Meus pais jogaram uma bomba no meu colo e falaram para eu desarmar sozinha. – Debruço sobre a mesa segurando o choro.
— Uma bomba?!
— Sabe, ninguém questionava as decisões da Louise, por mais estupidas que fossem. Ninguém julgou ela por ir embora dessa cidade. Por que eu tenho que ganhar as grandes responsabilidades? Por que eu tenho que salvar o dia? – Nesse ponto nem estava tentando mais segurar as minhas lágrimas.
— Amor? – Encaro o dono daqueles olhos tímidos. – O que está acontecendo? – Vejo que ele já estava ficando preocupado comigo.
— Nada! – Seco as lágrimas rapidamente, tentando me recompor. Não podia contar para ele. Não podia contar isso para ninguém. Minha mãe me fez prometer.
— Nada?
— Reunião de família! – Forço um sorriso. – Não é nada demais, sério!
Não era nada demais... Somente eu recebendo uma proposta para ser uma agente secreta, quando, claramente, eu não servia nem para atirar num jogo de videogame. Somente eu revendo fantasmas do meu passado e ficando mexida, quando eu tenho um namorado perfeito, plantado na minha frente, preocupado comigo.
— Você quer pedir alguma coisa? – Segura minha mão no meio da mesa e eu tento afastar meus pensamentos.
— Não... Eu acabei de almoçar com meus pais. – Sinto o meu celular vibrar com a chegada de uma mensagem e gelo.
— Você está esperando mensagem de algum ex-namorado? – Diz com um sorriso no rosto e eu solto sua mão rapidamente pegando meu celular que estava em cima da mesa.
— Por que você acha isso? – Pergunto tentando disfarçar meu nervosismo.
— Era uma piada, embora, pela sua reação eu ache que seja exatamente isso. – Sua postura agora é séria.
— Não! – Pego novamente sua mão — Eu só estou estressada com o almoço com meus pais, só isso.
— Se você quiser desabafar, sabe que eu estou aqui, né? Mesmo se for sobre um ex-namorado. – Da uma risada e pega uma torrada da cesta em nossa mesa.
— Não tem ex-namorado. – Relaxo um pouco e dou uma risada. – Você que é cheio das ex-namoradas, tá?! – Brinco deixando o ambiente mais leve.
— ERA. – Me corrige – Agora eu só consigo pensar numa garota... e ela está na minha frente – Se aproxima através da mesa me dando um beijo, que é interrompido pelo som do seu celular tocando.
Isaac era um homem alto, loiro, forte, cheiroso e muito carinhoso. Era mais velho que eu alguns anos, mas nada que atrapalhasse nosso relacionamento. Ele diz que as vezes eu pareço ser mais madura que ele até. Quando nos conhecemos eu estava num momento bem complicado da minha vida, e pode-se dizer que ele foi uma das principais razões de eu voltar a ser essa Chlöe cheia de vida.
Era fácil me abrir com ele, assim como ele se abria comigo.
Quando decidi ficar mais um ano e juntar dinheiro para a faculdade certa, briguei muito com meus pais, até eles aceitarem minhas decisões. — Como eu disse, eles nunca questionavam minha irmã, mas quando o assunto era o que eu queria, eles se metiam em tudo –. Foi ali que eu conheci o Isaac. Ele ia todo dia na livraria em que eu trabalhava meio período e comprava um livro novo, mas nunca falava comigo, até o dia em que eu decidir falar para os meus pais que queria abandonar a faculdade de veterinária e me inscrever para uma faculdade fora do estado no próximo ano. Nesse dia, depois de muita discussão, coisa rara desde a saída de Louise, eu cheguei atrasada na livraria fazendo ele esbarrar em mim na porta de entrada e derrubar todo meu capuccino. A decisão mais sábia que tive naquele dia foi deixar que ele me pagasse uma outra bebida.
Isso já tinha quase seis meses, e há três estávamos namorando, mas não o suficiente para que conhecêssemos os pais um do outro. Família era uma coisa complicada para nós dois, mais para ele do que para mim. Mas sabendo do histórico possessivo e paranoico do meu pai, eu também não fazia muita questão de apressar esse encontro. Agora, depois do que eu acabara de descobrir, então, que eu não faria questão mesmo.
Apesar de tudo, nós sempre fomos muito sinceros um com o outro. Ele confessou para mim, em nosso primeiro encontro oficial, que nunca leu metade dos livros que comprou na livraria, e que ia lá somente para me ver e quem sabe um dia tomar coragem de me chamar para sair. E por mais esquisito que isso fosse, eu achei muito fofo. Há muito tempo que eu não tinha alguém com cem por cento da atenção voltada para mim, sempre tinha de dividir isso com a Louise, então não foi difícil aceitar um segundo, terceiro ou quarto encontro.
Claro que não era só pela atenção que estávamos juntos, mas porque eu realmente gostava dele, e das nossas conversas, que nunca parecem ter um fim. E apesar de não nos importarmos com as formalidades de nos apresentar para as famílias, sabemos quem são os pais e irmão de cada um. Ele, por exemplo, tem um irmão mais novo, chamado Jorge, da minha idade, que é um idiota festeiro – palavras dele, não minhas –, um pai empresário muito ocupado e uma madrasta quase da idade dele que não dá a mínima para eles. Comparado a isso, minha história de família é até bem tranquila. Não que eu não goste da minha família. É só que, desde que a Louise foi embora, meus pais ficaram um pouco protetores demais.
Então, não poder falar sobre o dia de hoje com ele era muito complicado para mim. A gente sempre dividiu tudo, e agora eu tinha que esconder uma coisa tão importante dele. Eu nunca me importei com segredos e mentiras, desde que elas não me afetassem ou não afetassem as pessoas que eu amo, e isso definitivamente afetava a gente e o nosso relacionamento.
— Eu odeio fazer isso com você, mas eu tenho que ir! Emergência no trabalho. – Vejo que Isaac está de pé pegando seu casaco e com o telefone pendurada na orelha, estou tão atordoada que nem vi quando isso ocorreu. – Amo você! – Recebo um beijo e então estou sozinha... de novo. Eu e meus pensamentos, que envolve coisas, muitas coisas, tecnicamente proibidas.
Alguns anos atrás...
— Você tem certeza de que você está gostando do Matthew?
— Fala baixo! – Jogo uma almofada em sua direção – Minha irmã não pode ouvir isso!
— Por que ela gosta dele também? – Brinca, mas eu permaneço séria. – Meu deus sua maluca!
— É pior que isso! Eu cresci ouvindo de todo mundo o quanto os dois eram fofos juntos, que sempre foram muito próximos e que desde crianças já formavam um casal perfeito. Eu acho que ela nem gosta dele, só quer porque todo mundo fala que eles deviam ficar juntos. E porque ela levou um fora do André. Ai agora fica fantasiando com o namoradinho da infância.
— E ele?
— O que tem ele?
— Vocês vivem de conversinha! Vai dizer que ele nunca deu sinal de nada?
— Claro que deu! Ele pediu minha opinião como seria o pedido de namoro perfeito.
—Para usar com ela?
— Não sei! – Jogo-me para trás me deitando na cama.
— Chlöe! – Minha irmã invade meu quarto gritando e nós pulamos na cama devido ao susto – Matt disse que está vindo aqui! – Meu coração da um leve acelerada – Enrola ele para mim?!
— O que? Por quê? Onde você vai? – Pergunto com medo de saber.
— André quer conversar! – Eu não acredito no que ela estava fazendo – Talvez a gente volte!
— Ele é um idiota! – Minha amiga resmunga.
— E o capitão do time de futebol! – A vezes eu me questionava como ela podia ser filha dos nossos pais. Como podia ser minha irmã. – Enfim, enrola o Matt até eu voltar e nada de contar onde eu fui, pois ele é a minha segunda opção para o baile. – Bate à porta e escuto o barulho dela descendo as escadas.
— Tem certeza de que ela é a mais velha?
— Quatro anos!
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S.W.A. 3 - As Decisões Da Nossa Verdade
RomanceSinopse: [...] O cofre finalmente foi aberto e mais segredos foram revelados... e junto a eles mais problemas apareceram [...] - [...] Esses enigmas podem ser a resposta que todos sempre procuraram [...] - [...], mas também podem ser o fim de toda...