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A terça-feira chegou junto do ar gélido de vento forte e ameaças de neve. A hostilidade pairava no ar, apesar de Jane gostar do frio e de tudo o que o mesmo traz. O vento soprava e a neve branca como açúcar traz um certo aconchego à menina, mas naquela manhã, a ansiedade tomava conta de si.

     Jane acordou rabugenta, não querendo voltar para aquele lugar onde passava seus dias nos últimos 18 meses. O final de semana extenso fez Jane repensar se devia ou não continuar naquele lugar, mas Jane Rose precisava de um emprego para manter sua ocupação, ajudar sua tia com as despesas de casa e o fundamental no momento: uma forma de evitar Chloe desde o ocorrido de domingo, véspera de Natal.

     Jane fez sua rotina e bebeu seu café, logo foi a procura de seu guarda-chuva antes de sair de casa. Ela não podia se atrasar, mas a procura foi falha. Jane sentiu-se derrotada quando lembrou que havia deixado o guarda-chuva na loja de discos quando saiu correndo pela sexta-feira.

     Seus passos até a loja seriam longos pelo medo de apanhar neve, mas a menina estava com ainda mais receio de retornar ao local. Receio de encontrar Mark por lá e acabar se sentindo diminuta outra vez. Não duvida que o sujeito tenha emendado o feriado de Natal ao Ano Novo e não tenha parado de beber.  Medo de encontrar Andy, que possa fazer a menina sentir-se mal com seus deboches. A vontade de dar meia-volta crescia, ainda estava perto de casa, porém, era seu dever. Ela precisava fazer isso, não poderia desistir agora.

     Duchannes queria apenas um pouco de paz depois do final de semana que tivera. Altos e baixos ocorreram; Mark na sexta-feira sendo abusivo, Aidan no sábado sendo amoroso, namorado de sua tia sendo intimidador no domingo e Aidan sendo maravilhoso novamente, na segunda-feira. O que o dia guardava para Jane? Ela não queria descobrir. Estava se tornando um padrão, dia após dia, como uma maldição.

     Ao chegar na loja, as portas já estavam abertas, o que só podia significar que Mark ou Andy estariam por lá. Ou ambos, no pior dos cenários. A energia ao redor do que compunha Jane estava densa e pesada. Contudo, depois de alguns passos, Jane percebeu que apenas Andy estava lá, notando que a caminhonete de Mark não estava estacionada por perto. Jane Rose acreditava que era mais cômodo ser apenas o garoto irritante, apesar de nunca ter pensado que um dia acharia isso, diante de qualquer situação.

     — Ora, ora, veja quem resolveu aparecer! — disse Andy, com uma falsa alegria e surpresa.

     — Bom dia pra você também — Jane lutou contra sua vontade de revirar os olhos violentamente, a ponto de enxergar por trás de suas orbes.

     — Se papai não estivesse tão bêbado na sexta-feira, ele teria ficado mais bravo. Tivesse sorte, dessa vez.

     — Se ele não tivesse sido tão escrotoeu teria aparecido. 

     — Você deveria ser grata à ele, que mesmo não sendo uma funcionária exemplar, continua aqui, de tanta pena que papai tem de você. Você é patética, Jane. Se manca — Jane foi atrás do balcão pegar um espanador. Aqueles discos estavam cheios de poeira e só faltava ter teias de aranhas nos CDs.

     — Grata? Quer que eu demonstre gratidão mesmo com o desrespeito sob mim? Ah, com certeza, um sugar daddy era tudo o que eu precisava na minha vida — disse irônica, enquanto tirava pó dos estandes. Andy estava sentado próximo ao balcão, com cara de tédio.

     — Você não está numa situação de escolha — agora Thompson encarou a menina, pela primeira vez desde que chegou.

     — Não estou e nem quero estar. Não há nada que eu deva escolher. Muito obrigada pela oferta, Andy, mas estou muito bem da forma que estou.

ϲєє & ϲιgαяєττєѕ ❥ gαℓℓαgнєяOnde histórias criam vida. Descubra agora