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A sexta-feira chegava manhosa, com o sol nascendo tímido e Jane Rose já desperta.

     A menina olhava para o teto, entediada. Havia acordado antes do seu despertador dar sinal de vida e isso aconteceu devido sua ansiedade para a tal entrevista que teria ao meio-dia. Jane estava confiante mas sabia que a teoria de Schrödinger existia para deixar todos confusos com os possíveis resultados que a vida traria, com todas alternativas e universos paralelos rolando. Enquanto o Sol não chegar em seu ponto mais alto, Jane era e não era mais uma funcionária do potencial desperdiçado que Mandy's Shop era, por causa dos seus proprietários tão patéticos. Jane sentia dó do gato semi-morto de Schrödinger assim como lamentava pela sua vida infame.

     No dia anterior, durante a tarde na loja de discos, Jane esperou por algo, mensagem ou ligação, vinda do garoto a quem ela já estava tão habituada a estar presente em seus dias. Porém, nenhuma notificação pertencia à Aidan. Jane Rose escreveu, editou e apagou mensagens que gostaria de mandar a ele, um simples "oi", um "como você está?" e até mesmo um "sinto sua falta" foram digitados pela menina frustrada. Contudo, toda alternativa se tornava oca demais para resolver aquele ou qualquer dilema.

     Ao chegar em casa, Jane brincou com Kurt e Charlotte na sala, sob as luzes do Natal que já havia passado. Jane sempre achou específica a sensação pós-Natal em que a festividade deixa; a árvore ainda brilha, mas a não ser que Chloe esteja ligeiramente adiantada para o Natal do ano seguinte, aquelas luzes já eram póstumas. Entretanto, continuava iluminando o cômodo desde o dia que Aidan ajudou com a decoração natalina.

     Aidan... E novamente o menino dos grandes olhos verdes voltara a preencher os pensamentos de menina Jane.

     Apesar dos pesares, Chloe continuava sendo curta e objetiva quando tinha de falar com Jane. Aquilo estava a torturando, lentamente. Só dificultava o processo de preparação para a conversa inderrogável. Chloe mantinha um certa postura irredutível. A garota dos seus dezenove anos sempre tivera um bom relacionamento com sua tia materna, com quem mora desde os quinze. Jane também sentia falta daquilo, de uma normalidade incomum. O ar estava constantemente tenso e Jane não suportava sentir-se uma impostora em sua própria vida ou na casa de sua tia Chloe.

     As horas se passaram e Jane saiu mais cedo, por conta da ansiedade. A rua estava deserta por ser mais cedo que o habitual horário de Jane sair de casa para ir trabalhar, no horário de pico, quando não só ela está rumo ao ofício. Jane reconhecia isso como algo muito bom; a menina estava cada vez mais enfrentando seus medos. Mesmo seus passos sendo passos de formiga, não deixava de ser um avanço, e, mesmo a menina sendo levemente pessimista quando se trata de si, Jane ainda assim reconhecia sua evolução.

     Jane passou a manhã com um livro em mãos, durante o expediente. Jane não conseguia parar de pensar na entrevista que teria dali algumas horas e um livro iria ajudar a se teletransportar para outro mundo e outras realidades, deixando-a menos nervosa e fazendo com que o tempo passasse mais rápido, para se livrar logo daquela frustração e partir para outra; Jane resolveu que iria na casa de Aidan, logo após seu serviço.

     Uma frustração de cada vez, esses eram os dias de Jane Rose quando não estavam sendo completamente tediosos atrás do mesmo velho balcão de sempre. Dizem que é melhor sentir tudo a não sentir nada.

     — Bom dia, presumo que você seja a Jane Rose — um homem de boa aparência, de pele escura e cabelos grisalhos sorri para Jane, enquanto ela esperava na mesa indicada por Steve, gerente da Cold Gold.

ϲєє & ϲιgαяєττєѕ ❥ gαℓℓαgнєяOnde histórias criam vida. Descubra agora