ϲєє & ϲιgαяєττєѕ ❥ gαℓℓαgнєя

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[+16: não é um capítulo que fará diferença caso não lê-lo.]

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Sábado, 30, às 18h de um dia frio mas sem neve ou chuva, Jane Rose estava deitada em sua cama sob pallets e lia um livro a qual já lera tantas e tantas vezes. Havia algo de reconfortante àquilo costumeiro, que faz parte do seu dia a dia rotineiro. Saber os finais ajudavam Jane a não se decepcionar. Jane pelo menos tinha esse controle, enquanto em outros âmbitos, pudesse vir manifestações de revelações mas também não tinha o mínimo de interesse naquele tal livro da vida, com ou sem destino, seguindo completamente seu livre arbítrio. Mesmo suas prateleiras do sótão serem recheadas de velhos livros de sebos, já lera cada um deles pelo menos duas vezes. Menos os livros de Dostoiévski.

     Precisava de livros novos. Sua vida monótona a fazia repetir até livros já lidos, histórias já contadas, problemas solucionados. 

     A manhã na loja de discos foi sem grandes acontecimentos; Andy apareceu para pagar o salário de Jane e a dispensou antes do horário correto. Agora não havia mas horário, muito menos horário correto para tal; Jane estava livre de aborrecimentos. Sorte não terem criado nenhum laço empregatício.

     Início de tarde, Jane brincou com sua sobrinha até seu pai levá-la para o fim de semana habitual deles. Chloe ainda estava chateada, ela mal falava com a menina Duchannes. Por falar em Chloe, Jane percebeu que sua tia passou a tarde fora e nem avisou onde iria. Não que fosse da conta de Jane, mas era costume para o caso de alguma anormalidade ou desventura.

     Sozinha com Kurt, Jane Rose pensou em ligar para Aidan, pois desde o dia anterior pós-reconciliação, trocaram apenas breves mensagens. Jane estava indo com calma, começando novamente, então, por fim, acabou por não mandar mensagem alguma e tirou o dia para alguns cuidados pessoais. Jane não ligava para a aparência, muito menos quando tratava de si, entretanto, era véspera de uma virada de ano, algo que não muda em sua vida, só no calendário, mas a menina entediada estava inspirada. Ficar sozinha em casa foi revigorante para seus pensamentos muitas vezes turbulentos. Jane Rose entendeu que, talvez uma vez na vida, à título de teste experimental, um novo ano pode ser uma chavinha sendo virada em sua vida. 

     Após o almoço, com a ausência de Chloe, Jane preparou um chá de camomila, subiu para seu covil e acendeu uma vela. A garota encarou sua aparência no espelho velho e manchado do armário. Seu reflexo se distorcia levemente e jogou para o universo as preces de um espelho novo. Mentalizou como ele seria, talvez algo novo para seu sótão fosse trazer uma vontade maior de se manter em casa, como antes, quando como uma lebre assustada, fugia para sua toca depois de qualquer situação impertinente. 

     Jane não pensou muito no que estava fazendo. Picotou seus cabelos negros que estavam mais crescidos que a última vez que notou. Seu antigo chanel já passava dos ombros, com isso, uma tesoura foi usada para alguns ajustes. O resultado era um meio-termo muito mal-feito de shaggy e wolf hair. Mas ficou bonito, bonito e ousado. Aproveitou para aparar sua franja, que já chegava à altura dos olhos, deixando-as à cima de suas sobrancelhas, as quais foram igualmente aparadas.

     Um vinil de Neil Young entoava em som ambiente, a vela de café queimava baixo, derretendo a parafina, revelando grãos de café. Um aroma maravilhoso. Cuidar de si e apreciar sua própria companhia, traz benefícios múltiplos para a saúde mental. 

     Jane olhou contente no espelho quando chegou o fim de tarde, satisfeita com as mudanças sutis. Concluiu que não se encaixava inteiramente no Clube de Garotas que Cortam e/ou Pintam o Cabelo Pós Decepção além da conclusão da necessidade de investimento de um novo espelho. Fumando um cigarro na janela, pôde apreciar os tons rosados e laranja. Esse momento pedia um café e divagou, entre uma tragada e outra, se ir ao Cold Gold fosse ou não uma boa ideia.