Capítulo 6

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Tenso. Ouvir o barulho estridente do sinal - que anunciava o término da aula - cantar pela escola e não me animar era realmente grave. Principalmente quando se tratava do último dia de aula, ou seja, não precisaria mais acordar às seis da manhã todos os dias e não teria dever de casa ou provas por uns meses. Por isso eu estava "preocupada" com meu ânimo que, de umas semanas pra cá, não foi o dos melhores. E por culpa do meu mau-humor, briguei feio com Maria. Claro que a culpa era minha, eu do nada gritei com ela porque não aguentava mais ouvir sua voz contando sobre algum garoto, então começamos a discutir. Me arrependi assim que meu grito saiu pela minha boca. Mah era a última pessoa que merecia me ouvir gritar enquanto contava seus problemas para mim. Logo ela que sempre me ouviu com vontade de ajudar...

Isso foi há uma semana, mas eu ainda não pedi desculpas. Não por orgulho, muito menos por medo ou vergonha, mas é que eu precisava de um tempo só pra mim. Um tempo pra eu organizar meus problemas que, no momento, pareciam estar resolvidos sozinhos. Mas eu sou tão egoísta e ambiciosa que estou insatisfeita com o modo que esses problemas estão resolvidos. Pelo simples fato de Zayn nem sequer me olhar. Era para eu pular de alegria porque, sem ele, tudo está bem e perfeitamente organizado. Mas o desejo e necessidade que eu sentia de tê-lo eram quase doentios. Eu cheguei a ponto de ter medo de mim mesma, de ter medo do que eu seria capaz de fazer para que Zayn largasse Courtney e pelo menos me olhasse. Todavia... Court parece ter um poder sobrenatural sobre ele, Zayn parece seu cachorrinho e aparenta estar bem com isso. E eu não tinha como competir com Courtney... qual é, ela é a gostosona e eu sou só uma garota vulnerável e sem armas que caiu na armadilha dele. Ele só precisava de uma distração em um dia qualquer e conseguiu.

E eu estava arrependida. Arrependida por tê-lo rejeitado em seu apartamento, porque depois desse dia que a ignorância máster dele começou. Parecia até que eu era invisível naquela casa. Mas graças a Deus eu tinha Martin, meu... "refúgio". Ainda não sei o que faria sem ele, e prefiro nem pensar. Impressionante como ele consegue me consolar sem nem ao menos se esforçar ou saber que está me consolando... sem nem ao menos saber o que está acontecendo comigo. Realmente me impressiona o quanto sua presença é cativante e como ele consegue me fazer sorrir enquanto eu me afogo nesse poço de hipocondria pessoal e escondida. Claro que ele já reparou em minha mudança de comportamento, o quanto menos retardada fico a cada dia que passa. Mas eu simplesmente não posso evitar essa sensação, não posso bloquear minha mente e expulsar Zayn de cada pedaço de mim e... wow, veja a que ponto chegou: já me sinto completamente dele. Isso é bizarro e injusto e eu, minha cara, odeio, não suporto ser injustiçada.

Me levantei da carteira lentamente, ajustando minha mochila aos ombros e vendo Maria sair sozinha da sala de aula. Sua expressão não era das melhores e eu me odiava cada vez mais por ser vulnerável a todo e qualquer gesto de Zayn e por fazer Maria se sentir assim por minha causa, só porque eu tive meus minutos de estupidez mor. Suspirei, andando mais do que devagar até a saída. Não estava em condições de ver Zayn e Courtney naquele maldito Jaguar prata, principalmente pelo motivo de não desgrudarem os olhos um do outro. Se eu não achasse Zayn a pessoa mais fria do universo - e se Court não fosse "linda e gostosa" -, eu acharia que ele estava apaixonado. Mas sabemos que isso é impossível.

Atravessei os portões mil vezes maiores que eu e meus olhos não demoraram para encontrar Zayn encostado no carro com seu terno de cada dia. Sem perceber que estava parada na entrada do colégio, continuei encarando cada parte de seu corpo de baixo a cima e de cima a baixo, lembrando de todo e qualquer toque de minha parte depositado nele. Seus olhos estavam escondidos atrás dos óculos, mas sabia que olhava em minha direção, já que sua cabeça virava para a mesma. Sorri sem querer, vendo algumas mechas de cabelo - que hoje estava sem gel e me fazendo delirar - voando para um só lado. Ele sorriu de lado, tirando as mãos dos bolsos e desencostando do carro. Andei lentamente em sua direção e, quando estava menos longe, senti um vento forte, provocado por alguém correndo, quase me atirar ao chão. De repente, a dona do vento entrou na frente, ao lado de Zayn, que já estava pronto dentro do carro. Bufei seca, revirando os olhos e me xingando mentalmente enquanto continuava com a minha calma caminhada. Não iria correr por causa deles.

Síndrome de EstocolmoOnde histórias criam vida. Descubra agora