Capitulo 9

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Eu estava sozinha. Estava sentada debaixo de uma árvore que não ficava muito longe da casa. O que me surpreendia era a segurança deles de me deixarem sozinha e a falta de surpresa ao verem que eu não tentei fugir nenhuma vez dali. Mas eles sabiam que eu estava ciente das consequências que mais uma tentativa de fuga traria, logo eu cedia ao máximo para que tudo se resolvesse mais rapidamente. A última vez que Zayn falou comigo foi há dois dias, no café da manhã, após ver Courtney. Eu sabia que Zayn estava esperando uma resposta. Não sabia o que queria me dizer, mas não era irrelevante, uma vez que era raro ele querer falar comigo. Pelo menos normalmente. E esse era um dos motivos de eu estar sentada debaixo daquela árvore: esperava-o falar comigo. Foi assim nos últimos dois dias.

Eu não tinha o que fazer naquele lugar, logo não precisava esperar muito tempo para perdoar ou não Zayn, já que eu tinha tempo suficiente para pensar. E pensar era o que eu mais fazia agora, a única coisa que me parecia divertida ou menos cansativa. Mas eu não pensava em tudo, não pensava sensatamente como deveria. Só pensava se perdoaria Zayn ou não. Convenhamos: para Zayn vir a mim pedir perdão, se humilhar a esse ponto, é porque ele realmente se arrependeu. Não que eu o conheça, mas sei como se comporta, sei que é orgulhoso demais pra voltar atrás em algo, para se arrepender ou algo do gênero. Porém... eu nem ao menos sabia mais o que era real, se ele realmente fez aquilo, então como poderia perdoar um erro que eu nem acreditava ter acontecido comigo de tão maléfico que era? Como eu poderia perdoá-lo, sabendo que a qualquer momento sua "imprevisibilidade" atacaria novamente trazendo surpresas boas ou, na pior e mais provável das hipóteses, ruins? Era estranho, porque eu queria perdoá-lo e não era só parte de mim que queria isso, era todo o meu ser. Mas eu tinha medo, medo de quebrar a cara, medo do que poderia acontecer dali em diante.

Eu estava, claro, perdida em pensamentos, roendo a pobre unha do meu indicador, com as pernas dobradas encostadas contra meu peito. Minhas costas estavam apoiadas no tronco grosso da baixa árvore atrás de mim. Minha cabeça estava encostada na mesma enquanto eu encarava o campo, com o pouco do sol que sobressaía das nuvens iluminando-o um pouco. Eu me sentia confusa, perdida, descolada. Sabia que não pertencia àquele lugar, àquelas pessoas. Eu me sentia assim já na casa dos Peterson, mas eu tinha Martin para me confortar. Aqui eu não o tenho, mas não acho que era por isso que eu me sentia mais deslocada e confusa do que nunca.

Mordi o lábio inferior, me abraçando. Lembrar de Martin sempre fazia meus olhos marejarem e uma bolha de ar ficar presa na minha garganta. Olhei para frente, encarando todo o terreno que fazia com que eu me sentisse em "Pride and Prejudice". Era lindo, mesmo com o céu cinzento e o interminável vento gelado que fazia minha pele nua - já que eu vestia apenas minha camisola com um short lycra por baixo - arrepiar. Não era muito bom sentir vontade de chorar naquele cenário que parecia ter sido criado perfeitamente para momentos de solidão e/ou tristeza. Virei minha cabeça para o lado, encarando a casa de longe. Vi a porta se abrindo e Zayn saindo pela mesma. No mesmo momento, eu passei as mãos pelos meus olhos, tirando o acúmulo de água dos mesmos. Dei uma rápida fungada enquanto engolia a tal bolha de ar, evitando que eu começasse a chorar. Virei minha atenção novamente para o que estava à minha frente e voltei à minha posição anterior, esperando que Zayn sentasse ali por perto. Foi o que ele fez: sentou-se à minha frente - em silêncio - escondendo as mãos dentro dos bolsos do seu casaco de moletom. Seus pés brancos estavam descalços, um pouco sujos de grama e terra, mas a verdadeira sujeira estava nas bainhas da sua calça jeans. Meus pés não estavam muito diferentes dos dele, a única diferença era as minhas unhas roxas pelo frio. E provavelmente meu vestido não estava nada limpo na região na qual eu estava sentada por cima.

Sem dizer nada, continuei rígida e pensativa, como se Zayn não estivesse ali, pelo menos era o que eu tentava transmitir a ele. Eu sempre fui do tipo de ficar calada, nunca achei necessário o excessivo uso da voz em um diálogo, até porque sempre odiei que falassem à toa, coisas inúteis. Principalmente pela manhã, é. EZayn parecia-se comigo... parecia não fazer questão que falasse algo, assim como eu não fazia questão de o fazer. Ele finalmente me olhou e eu podia jurar que eu nunca diria que aquele foi o homem que fez aquilo comigo. Não agora.

Síndrome de EstocolmoOnde histórias criam vida. Descubra agora