Capítulo 12

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Na madrugada, me encarei no espelho, quase não reconhecendo o reflexo que me encarava de volta. Me olhei cautelosamente, vendo cada detalhe: meus novos cabelos, ruivos e picotados em chanel, escondiam meus cabelos naturais. Parte das pontas vinham quase até minha boca, que estava pintada com um vermelho claro. Meus olhos possuíam uma sombra bem brilhante, me fazendo sentir a Kesha ou um ser do gênero. A sombra, que era o sonho de consumo de qualquer criança, era acompanhada pelo lápis de olho preto forte. O blush foi a única coisa que Harry concordou quando pedi para que fosse discreto, uma vez que eu tentava ao máximo não parecer uma palhaça. Desci meu olhar pelo meu pescoço e peito nus, chegando à bata bem colada ao corpo, cinza - também com uns brilhos discretos, só vistos contra a luz - que ia seguindo cada curva até minhas coxas, onde era um pouquinho mais larga. Depois da blusa, vinha a calça de couro preta - que me fazia sentir uma das amigas de Blair em Gossip Girl - seguindo cada centímetro das minhas pernas, até chegar próxima aos calcanhares. Então cheguei com o olhar até meu par de scarpin vermelho, que deixava pouca parte do meu pé à mostra. 

Virei-me, encarando Harry. Ele sorria de lado, ainda animado, me esperando na janela com uma jaqueta de couro na mão. Me perguntei se ele queria que eu dançasse em algum clipe da Britney Spears e desejei com todas as forças para que não fosse o caso. Segui até ele, que me esperou pular a janela primeiro. Senti parte dos saltos afundar na lama, mas agradeci mentalmente quando vi que não havia me sujado muito. Harry, que segurava a lanterna do segundo andar, mirava-a em cima de mim para que eu visse onde estava. Finalmente pulou, ainda segurando a jaqueta, me entregando-a, então eu a vesti. 

Harry apontou a lanterna para o horizonte, encarando-o por uns segundos. Então me olhou, acenando com a cabeça para que o seguisse e eu o fiz, com o coração na mão. Ele andava seguro, fazendo eu me perguntar novamente por que os homens conseguem ter tanto controle. Depois de uns minutos andando,Harry tomou a liberdade de assobiar, o que piorou meu estado de preocupação e loucura. A cada ruído que eu escutava, achava que era alguém nos seguindo, nos vigiando. Sempre fazia Harry rir quando segurava seu braço com força ao escutar algum galho quebrando, algo típico nos filmes e algo que devia ser amaldiçoado. 

Eu estava quase entrando em pane, quase tendo um ataque e perdendo a capacidade de ter meu coração batendo. Mas todas as minhas preocupações foram deixadas de lado quando meus saltos cantaram no cimento da estrada e eu avistei os faróis do carro.Harry desligou a lanterna, uma vez que seu uso não era muito necessário. Agora não tinha mais volta. 

Virei-me para Harry, que já havia parado de andar e lhe lancei um sorriso, sussurrando um "obrigada", ainda meio insegura quanto ao barulho, mesmo estando a quilômetros e quilômetros de distância. Ele apenas sorriu de volta, assentindo, então me deu as costas, acendendo novamente a lanterna e se afastando cada vez mais. Fiquei vendo-o ficar cada vez menor, cada vez menos nítido, até que sumiu no meio da escuridão. Mordi o lábio inferior, caminhando até um carro aparentemente caro. Abri a porta do carona, sentando-me no banco, então Lou acelerou assim que o fechar da minha porta provocou um barulho não muito alto. Coloquei o cinto, percebendo a expressão severa de Lou. Olhei para a estrada, então meus olhos seguiram para o painel onde mostrava 120km/h. Mordi o lábio inferior, me encolhendo no banco. Não fazia ideia do por quê de Lou estar dessa maneira. 

- Toma. - Disse, me estendendo uma venda preta. Quase gritei quando ele tirou uma das mãos do volante, já que consegui imaginar perfeitamente o carro derrapando e capotando. Peguei a tal venda rapidamente, para que Lou pudesse colocar as duas mãos no volante. Assim que ele o fez, me senti menos preocupada com a velocidade. - Venda os olhos. - Disse, como se fosse óbvio, falando um pouco alto - sem nenhum tom de grosseria - para que eu voltasse à Terra. Parei de pensar em diferentes formas de acidentes que poderiam acontecer e assenti, vendando os olhos. 

Síndrome de EstocolmoOnde histórias criam vida. Descubra agora