capítulo 1

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Toquei a campainha da enorme mansão dos Peterson. Havia acabado de chegar a Londres, em intercâmbio, e moraria um ano com essa família. Brasil e suas praias e pessoas maravilhosas iriam fazer falta, é claro. Mas estou em Londres e esse pequeno detalhe pode ser relevado. Toquei mais uma vez e em menos de 30 segundos a porta foi aberta por uma mulher baixinha, rosada, de uniforme de empregada e sorridente, que fez uma pequena reverência ao me ver. Sorri tímida.

- A Srta. deve ser a Srta. Souza. - Sua voz suave me passou uma certa confiança, mostrando como eu seria bem recebida naquele lar, o que valia muito para mim.

- Eu mesma. - Respondi. Ela deu espaço para que eu entrasse por uma das duas enormes portas brancas de madeira da casa. Eu o fiz, puxando minhas duas gigantescas malas atrás de mim e com minha mochila nas costas. Olhei ao redor e cheguei à conclusão de que aquela era a 'sala de entrada'. Muito maior que a minha no Brasil, o que eu achei ser meio impossível algum dia. Eu morava em Ipanema, no Rio de Janeiro. Já me mudei milhões de vezes pelo Brasil, mas nunca para fora, não "quase-definitivamente". Enfim, minha família nunca passou despercebida.

Olhei para uma escada que levava ao lado direito da casa (a outra levava para o lado esquerdo e elas se juntavam no 2º andar) e lá estavam três pessoas: O Sr. e a Sra. Worlings e filha deles, Courtney. Ela era loira, alta, magra até demais, de olhos prateados e se vestia como qualquer garota européia nas condições dela se vestiria: Prada, Gucci, Dolce & Gabanna etc. Courtney era bem mais bonita pessoalmente. Nós nos conhecíamos apenas via internet há uns dez meses quando eu comecei a pensar em vir. E aqui estou.

- Bem-vinda. - O casal disse ao mesmo tempo. Court revirou os olhos, sorrindo, e desceu, vindo até mim.

- Vamos ver seu quarto. - Já indo direto ao ponto de mais interesse. Ela me puxou até o outro lado daquele 'salão', e subimos as escadas do lado esquerdo, encontrando um corredor comprido. Caminhamos por umas portas e a minha era a oitava. Quando Court abriu, eu fiquei meio boba. Mas me conformei, meu quarto teria que ser daquele jeito. Era grande. Muito grande. O closet era grande também, mas eu até que precisava de muito espaço. Jogamo-nos ao mesmo tempo na espaçosa e fofa cama de casal. - Pensei que nunca iria te conhecer.

- Mas eu cheguei. - Rimos juntas.

- Como está com o Robert? - Perguntei. Como eu disse: já nos conhecíamos e muito bem.

- Ah, ele foi pra Rússia. - Deu de ombros nem um pouco desanimada. - Mas eu ainda tenho o Mike.

- É o do irmão gêmeo? - Ri.

- Sim, e o gêmeo dele, o Mark, está aqui. - Um sorriso se espalhou no rosto dela.

- Ele é bonito? - Levantei uma sobrancelha.

- Claro! - Respondeu como se fosse óbvio.

- Hm... - Murmurei. Court se levantou, arrumando o cabelo.

- Vem, vamos ver o pessoal. - Ela se referia aos seus amigos ricos, bêbados e mimados. Levantei também. - Ou... está muito cansada? - Me olhou sugestiva.

- Dormi demais no avião. - Ela soltou uma gargalhada com uma vozinha aguda. Apenas sorri. Eu vestia uma regata branca justa, uma calça jeans skinny preta, um scarpin vermelho e um sobretudo xadrez preto e branco. Meu cabelo estava solto e um brilho discreto pintava meus lábios. Não era a melhor roupa para ir, mas eu nunca me importei muito com isso. Saímos de lá, indo direto para a garagem. Okay, a garagem conseguia ser maior que a sala de entrada! Andamos até um Jaguar prata.

- Meu bebê. - Courtney passou a mão pelo carro, cheia de si.

- Seu bebê? - Um cara num terno preto, blusa social, também preta, com gravata vermelha e um all star vermelho apareceu, rodando um molho de chaves em seu dedo. A outra mão estava cerrada em um bolso. Ele usava óculos escuros ray-ban pretos. Seus cabelos estavam impecáveis, penteados para trás suspensos com gel. Lindo, diga-se de passagem.

Síndrome de EstocolmoOnde histórias criam vida. Descubra agora