Capitulo 8

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Era como se eu estivesse morta. Mesmo sentindo meu coração bater, sentindo e ouvindo minha respiração e estando relativamente quente, parecia que eu estava morta. Não apenas por dentro, mas por fora também. Não apenas mental, mas fisicamente também. Eu estava acabada, cansada, entediada... mas não sentia nada além de um vazio. Minha mente? Vazia. Meu coração? Vazio. Com meu estômago, boca e ouvidos não era diferente. Aquele lugar era tão silencioso que às vezes parecia que eu estava apenas dormindo naquele quarto ironicamente bonito e arrumado. O lugar onde eu estava não tinha nada a ver com um cativeiro... Primeiro porque era no meio do nada, mas não um "meio do nada" qualquer, era lindo. Havia apenas verde cobrindo toda a área ao redor da casa que tinha parte feita de pedra, parte feita de tijolos. Era aconchegante e me lembro muito bem da primeira vez que a vi. Tive que admitir pra mim mesma – com desgosto – que a casa era linda. Era típica casa inglesa isolada no meio de um enorme campo. 

Seguindo o imenso campo que dava para minha janela, bem no final desse onde eu quase não enxergava mais chão, podia-se ver uma estrada. Eu não sabia se era realmente uma estrada ou se era alguma ilusão de ótica. Porém, nesses últimos dias, vi Zayn dirigindo um carro velho até o final desse campo, seguindo – depois de um tempo dirigindo – pela suposta estrada. Falando nele... parecia que eu havia sido transformada. Eu não era a mesma, como eu disse, eu não me sentia viva. Parecia oca e estava completamente indiferente ao que estivesse acontecendo. Logo eu devo mencionar que meus sentimentos por Zayn estavam guardados, ainda. Porém em algum lugar bem longe de mim... no mais fundo dos mares, na estrela mais distante ou apenas escondido atrás do meu medo de me deixar levar mais uma vez. De me deixar levar por minha mente ou lembranças que eu bloqueei surpreendentemente bem. Desde quando cheguei, nada passou pela minha cabeça a não ser as imagens que eu via. Nem falar comigo mesma eu falava, nem lembrar de Martin eu lembrava. Apenas imagens e sons externos entravam e saíam de mim sem pedir, sem serem expulsos ou ainda menos autorizados. Eu não tinha mais visto Zayn, apenas de longe, Lou aparecia para deixar alguma comida e para recolhê-la. Mais dois homens perambulavam pela casa, mas não entraram muito no meu quarto. Os vejo mais de longe, também, quando passam por debaixo da minha janela. 

- Milane? – Ouvi uma voz me chamar por trás da porta de madeira fechada. Devagar, virei minha cabeça para a mesma e a encarei por um tempo. Ainda lenta, saí do pequeno sofá que ficava na janela – suspenso pela parede – e caminhei até a porta. Encostei meu ouvido na mesma, esperando que a pessoa continuasse falando. – Está acordada? – Não foi necessário muito tempo para que eu me desse conta que a voz era de Zayn. Fechei os olhos, relaxando mais a cabeça na porta. Suspirei alto e pude ouvi-lo fazer o mesmo. – Posso entrar? – Ele pediu. Não entendi o porquê da pergunta... Ele quem estava no controle, certo? 

- Não. – Minha garganta pareceu queimar quando finalmente falei. Só então pigarreei, sentindo-a doer mais um pouco. Não falei uma palavra sequer durante essa primeira semana e não comia há dois dias. Não era drama nem nada, mas eu realmente não estava me sentindo bem. Depois de uns segundos, ouvi a maçaneta se mover e abri os olhos, dando dois passos pra trás e encarei-a se abrindo.Zayn veio da mesma, com os cabelos organizadamente bagunçados, uma blusa branca, bermuda xadrez e descalço. Parecia um garoto... Senti como se não o visse de perto há anos. Seu cheiro me invadiu, fazendo meu estômago revirar e eu me arrepiei, mas não como de costume. Era medo, ansiedade, nervosismo e várias coisas ao mesmo tempo, que eu perderia muito tempo descrevendo. Quando seus olhos encontraram os meus, achei que não fosse aguentar, e novamente senti que explodiria. Agora eu não estava vazia, estava transbordando sentimentos e meus olhos pareciam mostrar isso. Ele desceu seu olhar por todo meu corpo, parecendo insatisfeito com algo. Eu vestia apenas uma camisola que chegava à metade das coxas, de alças finas. Meus braços, pernas, pescoço e peito estavam completamente descobertos ainda com os hematomas aparecendo. No meu rosto também permanecia os mais fortes. Os machucados ainda doíam, principalmente quando eu me deitava ou quando eu tomava banho. Mas a dor já fazia parte de mim, logo eu só estranharia quando parasse de senti-la, e não quando encarasse aqueles hematomas agora num tom de roxo mais claro que antes. 

Síndrome de EstocolmoOnde histórias criam vida. Descubra agora